O Brasil é, e sempre foi, um mosaico de contradições, onde convivem pessoas de classes diferentes, de religiões diferentes e de ideologias diferentes.
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O Brasil é, e sempre foi, um mosaico de contradições, onde convivem pessoas de classes diferentes, de religiões diferentes e de ideologias diferentes. | ||
Um dia depois das eleições, as manchetes dos principais jornais do país trouxeram, novamente, o mapa brasileiro pintado de duas cores (vermelho e azul). Para fazer justiça, um ou outro veículo de informação trouxe tons diferentes das duas cores para acrescentar uma nuance a mais. | ||
Essa superficialidade é burra e perigosa. Exemplo disso é a sanha xenófoba, que sempre aparece depois das eleições presidenciais, por parte de brasileiros do Sul e do Sudeste, contra os nordestinos. | ||
Caro leitor, você bem sabe que o Brasil é um país continental, com um território de mais de oito milhões e quinhentos mil quilômetros quadrados. Não é razoável pensar que este ou aquele estado é um monolito de apoio a determinado candidato. Sim, o Nordeste como um todo é bastante “Lulista”. Ainda assim, cidades importantes como Maceió, capital do Alagoas, deram mais votos a Bolsonaro. | ||
Da mesma maneira, há bolsões pintados de vermelho no Sul do Brasil, sobretudo no Rio Grande do Sul. Na capital do maior colégio eleitoral do Brasil, São Paulo, o PT venceu, apesar de perder no estado como um todo. | ||
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Há, portanto, importantes fatores que interferem no resultado e que nos ajudam a compreender melhor as idiossincrasias do nosso país. | ||
O primeiro deles, como não poderia deixar de ser, é a desigualdade social. Veja, no mapa abaixo, a evolução do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no Brasil, entre 1991 e 2010 (dados do CENSO). | ||
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Perceba que as regiões mais desenvolvidas concentram maior percentual de votos para Bolsonaro. Obviamente, quanto maior a renda de uma família, menos ela depende de políticas públicas e de programas de transferência de renda. Por isso, tendem a votar em políticos de direita, que costumam prometer “menos Estado”. Em contrapartida, as regiões menos desenvolvidas precisam da ação do Estado para se desenvolver. O que seria da Amazônia sem a SUDAM? O que seria do Polígono das Secas sem a transposição do São Francisco? O que seria dos pobres e miseráveis sem o Bolsa Família e o Fome Zero? | ||
Um segundo fator é a religião. O Brasil é um país predominantemente católico. Nas últimas décadas, entretanto, o cristianismo neopentecostal tem avançado sobremaneira no território nacional. Mas esse avanço não é uniforme. Veja neste outro mapa: | ||
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Há, aqui, uma sobreposição importante. O Nordeste do Brasil e Minas Gerais são muito mais católicos que Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo. Talvez isso ajude a explicar a larga vantagem de Bolsonaro nesses dois estados e também contribua para que os institutos de pesquisa mudem sua metodologia para o Sudeste. É preciso reconhecer o peso que a religião adquiriu nestas eleições. | ||
O terceiro e último fator que trago para essa reflexão envolve os interesses de madeireiras ilegais, garimpos ilegais e grileiros de terras. Veja o mapa do arco do desmatamento: | ||
Não se pode ignorar a semelhança deste recorte com o mapa eleitoral de 2022. | ||
Sabemos que Bolsonaro chancela o desmatamento ilegal, desmontando sistemas de proteção e fiscalização, especialmente na Amazônia Legal. Não é de se estranhar, portanto, que simplesmente TODOS os municípios de Rondônia deram vitória a Bolsonaro. No Pará, os municípios do sul garantiram a Bolsonaro melhor desempenho. No outro extremo, Lula ganhou em Belém e na maioria dos municípios do Norte. | ||
Para finalizar, um último ponto que me chamou a atenção foi que até mesmo no “fantástico mundo do Agro” há antagonismo. O MATOPIBA, região que corresponde aos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, e que é hoje a principal fronteira agrícola brasileira, deu mais votos a Lula. No oeste baiano, por exemplo, o único município que deu vitória a Bolsonaro foi Luís Eduardo Magalhães (cidade que possui um PIB per capita de R$72 mil, ao passo que a Bahia como um todo apresenta média de R$19 mil). | ||
Creio que me fiz entender. Há múltiplos Brasis, sobrepostos uns aos outros. É preciso fugir um pouco das manchetes e conclusões rápidas para compreendermos nossa realidade. Não há outro jeito. |