Dia 50 (4 de outubro) - Romeu Zema: o superestimado cabo eleitoral de Bolsonaro
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Dia 50 (4 de outubro) - Romeu Zema: o superestimado cabo eleitoral de Bolsonaro

Não quero vir aqui minimizar a importância de se conseguir apoio para o segundo turno. 

Diogo Machado
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Zema e Bolsonaro
Zema e Bolsonaro

Não quero vir aqui minimizar a importância de se conseguir apoio para o segundo turno. 

Claro que todo e qualquer demonstração de suporte neste momento é relevante. No entanto, nos últimos dias, percebi grande euforia por parte de bolsonaristas com o fato de Romeu Zema ter declarado apoio ao atual presidente logo na segunda-feira após as eleições.

Algum de vocês já parou para se questionar se Zema realmente votou, na intimidade da urna eletrônica, no candidato do Partido Novo à Presidência? Eu tenho minhas dúvidas.

A maior parte dos mineiros, se não a totalidade deles, é bem consciente da proximidade ideológica entre nosso governador e o presidente da República. Isso ficou bastante claro, desde 2018, até o momento em que Bolsonaro deixou de ser conveniente para a reeleição do “liberal” governador.

Para além dessa proximidade, há alguns outros fatores que ajudam a refutar as mirabolantes teorias conspiratórias dos imbecis mineiros eleitos para o legislativo federal.

Minas Gerais é considerada por muitos cientistas políticos um microcosmo do Brasil. É um estado com forte economia, grandes indústrias, relevante setor agropecuário e sociedade altamente desigual. 

Seus contrastes foram observados também em eleições passadas. De acordo com o TSE, em 2002, Lula teve, no primeiro turno, 53% dos votos válidos em Minas, contra 22% de José Serra (PSDB). Na mesma eleição, Aécio Neves (PSDB), teve 57% dos votos válidos e foi eleito no primeiro turno. No segundo turno, Lula teve os mesmos 53% e José Serra os mesmos 22%. 

Em 2006, ainda que tenha sido eleito com impressionantes 77%, no primeiro turno, Aécio não conseguiu transferir nem 1% dos votos para Geraldo Alckmin. O padrão também se repetiu em 2010,  2014 e 2018.

Há uma dissociação clara entre o voto para governador e o voto para presidente, no estado do pão de queijo.

A gestão Zema veio após o fiasco da administração de Fernando Pimentel (PT), como já falei aqui antes, o que contribui para a baixa rejeição. Zema ainda teve o bom-senso de se afastar de Bolsonaro durante a pandemia, evitando maiores desgastes com o eleitorado, apesar dos entreveros com Alexandre Kalil.

Há também um componente difícil de ser mensurado: o futebol. Alexandre Kalil é um personagem folclórico de peso na história recente do futebol mineiro. Seus mandatos como presidente do Atlético, sobretudo em 2013, deixaram muitos cruzeirenses com certa rejeição a seu nome. No interior do estado, onde a torcida azul celeste é maior que a do alvinegro, esse amargor é ainda maior. Talvez isso explique o porquê de Kalil ter tido 10 pontos percentuais de rejeição a mais que Zema.

Tudo isso concorre para o voto Lula-Zema. Mas, o mais importante é a transcendência política de Lula. O petista é e sempre foi muito maior que seu partido. Não se pode negar que seu carisma e habilidade política dialogam, com bastante facilidade, diretamente com o eleitor mineiro das classes mais pobres. Isso fica claro quando se vê seu desempenho no Norte e Nordeste de Minas.

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Será difícil para Romeu Zema entregar resultados concretos para a tentativa de virada de Bolsonaro.

Na minha opinião, ele está cometendo um erro de cálculo político importante para o difícil futuro do Partido Novo, que tem sido progressivamente engolido pelo bolsonarismo. O partido da demagogia neoliberal brasileira está minguando a olhos nus. Nestas eleições, não conseguiu sequer superar a cláusula de barreira, o que dificulta sua relevância política para as próximas eleições.

Zema parece esquecer que ele precisa governar para todos os mineiros. Sua intransigência em relação ao PT pode lhe custar caro. A bancada do partido é a maior da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Esses deputados, aliados à posição de Lula contrária aos moldes do atual Regime de Recuperação Fiscal, podem colocar abaixo quaisquer tentativas de Zema levar adiante sua agenda intransigente de privatizações.  

Imagino que Lula vá ampliar a diferença de votos aqui em Minas Gerais, assim como ampliará no cômputo nacional.

Fato é que nosso estado será o maior palco da disputa. Ambos os candidatos já virão a Belo Horizonte nesta semana. Bolsonaro irá à FIEMG, na quinta-feira, e Lula fará uma caminhada pelo centro da cidade, no domingo.

PS: o PT começou a jogar o jogo sujo da milícia digital do bolsonarismo, espalhando fake news nos quatro cantos do país, com imagens de Bolsonaro à frente de uma figura que remete ao satanismo. O alvo? O eleitorado evangélico, que é predominante no Sudeste - o mais importante colégio eleitoral do país.

PPS: o tiro xenófobo de bolsonaristas pode sair pela culatra. Qualquer chance de minimizar as perdas no Nordeste ficaram ainda mais difíceis depois da onda de ódio vomitada contra nordestinos desde o domingo à noite.