Não quero vir aqui minimizar a importância de se conseguir apoio para o segundo turno.
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Não quero vir aqui minimizar a importância de se conseguir apoio para o segundo turno. | ||
Claro que todo e qualquer demonstração de suporte neste momento é relevante. No entanto, nos últimos dias, percebi grande euforia por parte de bolsonaristas com o fato de Romeu Zema ter declarado apoio ao atual presidente logo na segunda-feira após as eleições. | ||
Algum de vocês já parou para se questionar se Zema realmente votou, na intimidade da urna eletrônica, no candidato do Partido Novo à Presidência? Eu tenho minhas dúvidas. | ||
A maior parte dos mineiros, se não a totalidade deles, é bem consciente da proximidade ideológica entre nosso governador e o presidente da República. Isso ficou bastante claro, desde 2018, até o momento em que Bolsonaro deixou de ser conveniente para a reeleição do “liberal” governador. | ||
Para além dessa proximidade, há alguns outros fatores que ajudam a refutar as mirabolantes teorias conspiratórias dos imbecis mineiros eleitos para o legislativo federal. | ||
Minas Gerais é considerada por muitos cientistas políticos um microcosmo do Brasil. É um estado com forte economia, grandes indústrias, relevante setor agropecuário e sociedade altamente desigual. | ||
Seus contrastes foram observados também em eleições passadas. De acordo com o TSE, em 2002, Lula teve, no primeiro turno, 53% dos votos válidos em Minas, contra 22% de José Serra (PSDB). Na mesma eleição, Aécio Neves (PSDB), teve 57% dos votos válidos e foi eleito no primeiro turno. No segundo turno, Lula teve os mesmos 53% e José Serra os mesmos 22%. | ||
Em 2006, ainda que tenha sido eleito com impressionantes 77%, no primeiro turno, Aécio não conseguiu transferir nem 1% dos votos para Geraldo Alckmin. O padrão também se repetiu em 2010, 2014 e 2018. | ||
Há uma dissociação clara entre o voto para governador e o voto para presidente, no estado do pão de queijo. | ||
A gestão Zema veio após o fiasco da administração de Fernando Pimentel (PT), como já falei aqui antes, o que contribui para a baixa rejeição. Zema ainda teve o bom-senso de se afastar de Bolsonaro durante a pandemia, evitando maiores desgastes com o eleitorado, apesar dos entreveros com Alexandre Kalil. | ||
Há também um componente difícil de ser mensurado: o futebol. Alexandre Kalil é um personagem folclórico de peso na história recente do futebol mineiro. Seus mandatos como presidente do Atlético, sobretudo em 2013, deixaram muitos cruzeirenses com certa rejeição a seu nome. No interior do estado, onde a torcida azul celeste é maior que a do alvinegro, esse amargor é ainda maior. Talvez isso explique o porquê de Kalil ter tido 10 pontos percentuais de rejeição a mais que Zema. | ||
Tudo isso concorre para o voto Lula-Zema. Mas, o mais importante é a transcendência política de Lula. O petista é e sempre foi muito maior que seu partido. Não se pode negar que seu carisma e habilidade política dialogam, com bastante facilidade, diretamente com o eleitor mineiro das classes mais pobres. Isso fica claro quando se vê seu desempenho no Norte e Nordeste de Minas. | ||
Será difícil para Romeu Zema entregar resultados concretos para a tentativa de virada de Bolsonaro. | ||
Na minha opinião, ele está cometendo um erro de cálculo político importante para o difícil futuro do Partido Novo, que tem sido progressivamente engolido pelo bolsonarismo. O partido da demagogia neoliberal brasileira está minguando a olhos nus. Nestas eleições, não conseguiu sequer superar a cláusula de barreira, o que dificulta sua relevância política para as próximas eleições. | ||
Zema parece esquecer que ele precisa governar para todos os mineiros. Sua intransigência em relação ao PT pode lhe custar caro. A bancada do partido é a maior da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Esses deputados, aliados à posição de Lula contrária aos moldes do atual Regime de Recuperação Fiscal, podem colocar abaixo quaisquer tentativas de Zema levar adiante sua agenda intransigente de privatizações. | ||
Imagino que Lula vá ampliar a diferença de votos aqui em Minas Gerais, assim como ampliará no cômputo nacional. | ||
Fato é que nosso estado será o maior palco da disputa. Ambos os candidatos já virão a Belo Horizonte nesta semana. Bolsonaro irá à FIEMG, na quinta-feira, e Lula fará uma caminhada pelo centro da cidade, no domingo. | ||
PS: o PT começou a jogar o jogo sujo da milícia digital do bolsonarismo, espalhando fake news nos quatro cantos do país, com imagens de Bolsonaro à frente de uma figura que remete ao satanismo. O alvo? O eleitorado evangélico, que é predominante no Sudeste - o mais importante colégio eleitoral do país. | ||
PPS: o tiro xenófobo de bolsonaristas pode sair pela culatra. Qualquer chance de minimizar as perdas no Nordeste ficaram ainda mais difíceis depois da onda de ódio vomitada contra nordestinos desde o domingo à noite. |