André Janones ganhou destaque nas manchetes dos jornais e nas discussões acerca da política nacional nos últimos dias. Suas ações na coordenação da campanha de Lula nas redes sociais têm dividido opiniões.
André Janones ganhou destaque nas manchetes dos jornais e nas discussões acerca da política nacional nos últimos dias. Suas ações na coordenação da campanha de Lula nas redes sociais têm dividido opiniões. | ||
O político mineiro, filiado ao Avante, ganhou notoriedade ao se autoproclamar uma das lideranças da greve dos caminhoneiros de 2018. Janones sempre transitou muito bem neste novo “campo de batalha” eleitoral, o universo digital. Quando desistiu de sua candidatura à Presidência da República, em 2022, foi integrado à campanha de Lula como coordenador das ações digitais. | ||
Até o final do primeiro turno, o deputado federal estava mantendo uma postura discreta nas redes. Seu maior destaque havia sido um bate-boca com Ricardo Salles no debate da Band. | ||
Com a chegada do segundo turno, no entanto, houve uma clara mudança na estratégia da campanha do presidente Lula nas redes sociais. Janones passou a liderar ataques contundentes contra Bolsonaro e bolsonaristas, lançando mão de fatos e de fake news. Assim, ele tem sido objeto de importantes debates contemporâneos. | ||
O primeiro desses debates, a meu ver, consiste na seguinte pergunta: devemos mesmo tolerar os intolerantes? | ||
Durante muito tempo, o campo da esquerda reagiu às ações intolerantes do Bolsonarismo com cartas de repúdio e notas de insatisfação. Passamos anos assistindo passivos a constantes ataques vindos da extrema direita. Essa atitude reativa é bastante perigosa! | ||
O filósofo austro-britânico, Karl Popper, um ferrenho defensor da democracia liberal e dos princípios da crítica social, escreveu o seguinte a respeito do Paradoxo da Tolerância, em seu livro A Sociedade Aberta e seus Inimigos: | ||
“A tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância. Se estendermos a tolerância ilimitada mesmo aos intolerantes, e se não estivermos preparados para defender a sociedade tolerante do assalto da intolerância, então, os tolerantes serão destruídos e a tolerância com eles”. | ||
O autor defende que, quando nós, tolerantes, perdemos a capacidade de combater ideologias intolerantes por meio de argumentos racionais, devemos suprimi-las, mesmo que pela força. | ||
As firmes e céleres ações do TSE no combate às fake news tem sido um caminho bem-vindo, mas não é suficiente. As redes sociais são muito dinâmicas e, por isso, desfazer o estrago de notícias falsas compartilhadas no whatsapp, por exemplo, é virtualmente impossível. Dessa forma, sobretudo em função da urgência de vencer este segundo turno e estancar a sangria democrática na qual nos encontramos, a campanha de Lula resolveu utilizar as mesmas ferramentas do bolsonarismo. | ||
André Janones, com o disparo de impactantes fatos, como o Bolsonaro declarando que gostaria de ter comido carne humana, e de fake news, como o suposto homossexualismo do “chaveirinho de milicianos”, Nikolas Ferreira. | ||
A partir do momento em que o Bolsonaro e seus pares passaram a ser atacados (de forma eficiente, diga-se de passagem), eles deixaram, momentaneamente, de ditar a pauta das redes sociais e se viram obrigados a se defender. São dias preciosos de campanha perdidos para um candidato que precisa, em tese, tirar uma diferença de 6 milhões de votos. | ||
O segundo debate que percebi vem da própria esquerda. Trata-se da efetividade do chamado “Janonismo Cultural”. Para alguns elementos do campo progressista, ao baixar o nível da campanha nas redes sociais, o PT perde uma oportunidade de debater problemas sérios do Brasil e, devido à falha ética, também perde eleitores. | ||
Será mesmo que, faltando exatos 17 dias para um segundo turno que pode definir o futuro de nossa democracia, estamos preocupados em saber se Lula irá respeitar o Teto de Gastos? Na minha opinião, isso é secundário. Assim, toda e qualquer estratégia que irá impôr revezes ao Bolsonarismo tem meu apoio. | ||
Além disso, os boatos nas redes sociais têm um potencial enorme de viralização, além de reforçar o sentimento de unidade de um grupo específico. No best seller mundial, Sapiens, Yuval Noah Harari expõe que um dos elementos fundamentais para a constituição das sociedades primitivas e consequente evolução da espécie humana foi a fofoca. Quem de nós não tem prazer em compartilhar fofoca com amigos a respeito de pessoas que não gostamos? Essa simples ação tem o enorme poder de reforçar laços pessoais e afetivos. | ||
Finalmente, as ações de André Janones e seu “Gabinete do ódio contra o Bolsonarismo” colocam em xeque os mantras retóricos do atual presidente, sobretudo em relação à religião e à moral e aos bons costumes. | ||
Eu apoio o “Janonismo Cultural”, neste segundo turno, com o claro objetivo de derrotar Jair Bolsonaro! | ||
Para mim, é uma medida excepcional e deve ser vista e apoiada (para quem pensa como eu) como tal. Que se virem o TSE e as demais instituições de controle nestes últimos dias de campanha. |