Dia 59 (12 de outubro) - O “Janonismo Cultural”
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Dia 59 (12 de outubro) - O “Janonismo Cultural”

André Janones ganhou destaque nas manchetes dos jornais e nas discussões acerca da política nacional nos últimos dias. Suas ações na coordenação da campanha de Lula nas redes sociais têm dividido opiniões.

Diogo Machado
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André Janones ganhou destaque nas manchetes dos jornais e nas discussões acerca da política nacional nos últimos dias. Suas ações na coordenação da campanha de Lula nas redes sociais têm dividido opiniões.

O político mineiro, filiado ao Avante, ganhou notoriedade ao se autoproclamar uma das lideranças da greve dos caminhoneiros de 2018. Janones sempre transitou muito bem neste novo “campo de batalha” eleitoral, o universo digital. Quando desistiu de sua candidatura à Presidência da República, em 2022, foi integrado à campanha de Lula como coordenador das ações digitais.

Até o final do primeiro turno, o deputado federal estava mantendo uma postura discreta nas redes. Seu maior destaque havia sido um bate-boca com Ricardo Salles no debate da Band.

Com a chegada do segundo turno, no entanto, houve uma clara mudança na estratégia da campanha do presidente Lula nas redes sociais. Janones passou a liderar ataques contundentes contra Bolsonaro e bolsonaristas, lançando mão de fatos e de fake news. Assim, ele tem sido objeto de importantes debates contemporâneos.

O primeiro desses debates, a meu ver, consiste na seguinte pergunta: devemos mesmo tolerar os intolerantes?

Durante muito tempo, o campo da esquerda reagiu às ações intolerantes do Bolsonarismo com cartas de repúdio e notas de insatisfação. Passamos anos assistindo passivos a constantes ataques vindos da extrema direita. Essa atitude reativa é bastante perigosa!

O filósofo austro-britânico, Karl Popper, um ferrenho defensor da democracia liberal e dos princípios da crítica social, escreveu o seguinte a respeito do Paradoxo da Tolerância, em seu livro A Sociedade Aberta e seus Inimigos:

A tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância. Se estendermos a tolerância ilimitada mesmo aos intolerantes, e se não estivermos preparados para defender a sociedade tolerante do assalto da intolerância, então, os tolerantes serão destruídos e a tolerância com eles”.

O autor defende que, quando nós, tolerantes, perdemos a capacidade de combater ideologias intolerantes por meio de argumentos racionais, devemos suprimi-las, mesmo que pela força.

As firmes e céleres ações do TSE no combate às fake news tem sido um caminho bem-vindo, mas não é suficiente. As redes sociais são muito dinâmicas e, por isso, desfazer o estrago de notícias falsas compartilhadas no whatsapp, por exemplo, é virtualmente impossível. Dessa forma, sobretudo em função da urgência de vencer este segundo turno e estancar a sangria democrática na qual nos encontramos, a campanha de Lula resolveu utilizar as mesmas ferramentas do bolsonarismo.

André Janones, com o disparo de impactantes fatos, como o Bolsonaro declarando que gostaria de ter comido carne humana, e de fake news, como o suposto homossexualismo do “chaveirinho de milicianos”, Nikolas Ferreira.

A partir do momento em que o Bolsonaro e seus pares passaram a ser atacados (de forma eficiente, diga-se de passagem), eles deixaram, momentaneamente, de ditar a pauta das redes sociais e se viram obrigados a se defender. São dias preciosos de campanha perdidos para um candidato que precisa, em tese, tirar uma diferença de 6 milhões de votos.

O segundo debate que percebi vem da própria esquerda. Trata-se da efetividade do chamado “Janonismo Cultural”. Para alguns elementos do campo progressista, ao baixar o nível da campanha nas redes sociais, o PT perde uma oportunidade de debater problemas sérios do Brasil e, devido à falha ética, também perde eleitores.

Será mesmo que, faltando exatos 17 dias para um segundo turno que pode definir o futuro de nossa democracia, estamos preocupados em saber se Lula irá respeitar o Teto de Gastos? Na minha opinião, isso é secundário. Assim, toda e qualquer estratégia que irá impôr revezes ao Bolsonarismo tem meu apoio. 

Além disso, os boatos nas redes sociais têm um potencial enorme de viralização, além de reforçar o sentimento de unidade de um grupo específico. No best seller mundial, Sapiens, Yuval Noah Harari expõe que um dos elementos fundamentais para a constituição das sociedades primitivas e consequente evolução da espécie humana foi a fofoca. Quem de nós não tem prazer em compartilhar fofoca com amigos a respeito de pessoas que não gostamos? Essa simples ação tem o enorme poder de reforçar laços pessoais e afetivos.

Finalmente, as ações de André Janones e seu “Gabinete do ódio contra o Bolsonarismo” colocam em xeque os mantras retóricos do atual presidente, sobretudo em relação à religião e à moral e aos bons costumes.

Eu apoio o “Janonismo Cultural”, neste segundo turno, com o claro objetivo de derrotar Jair Bolsonaro!

Para mim, é uma medida excepcional e deve ser vista e apoiada (para quem pensa como eu) como tal. Que se virem o TSE e as demais instituições de controle nestes últimos dias de campanha.