O evangelho bugado

"Mas ainda que nós ou um anjo do céu pregue um evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que seja amaldiçoado! Como já dissemos, agora repito: Se alguém lhes anuncia um evangelho diferente daquele que já receberam, que seja amaldiçoado!" (Gálatas 1:8-9 - NVI) 

Na verdade, antes mesmo de começar este texto, quero deixar claro de que não existe outro evangelho, tendo em vista que o termo evangelho é derivado do grego “evangelion” que significa "Boa Notícia”, "Boa Nova", "Boa Mensagem". E utilizamos este termo apenas quando nos referimos à mensagem da vinda de Cristo que culminaria em Seu sacrifício para a salvação do que nEle crê, e essa é a Boa Mensagem. 

No entanto percebemos que muitos têm pregado e vivido uma mensagem a qual chamam de evangelho, mas que na verdade é muito baseada nas palavras de Cristo, com algumas alterações, dando ênfase para o esforço e mérito humano no contexto de salvação e santificação. A este “evangelho”, damos o nome de falso evangelho, por se tratar de uma falsificação do original, com adequações para uma vida conforme a vontade do próprio homem e não segundo a vontade de Deus. Para este falso evangelho subsistir não são necessárias alterações nas Escrituras, basta apenas uma leitura superficial e uma interpretação inclinada para a satisfação do homem. 

Tomamos como base um trecho da carta de Paulo aos Gálatas, quando ele se refere a este “outro evangelho” e pede cautela aos seus irmãos quanto aos ensinos aceitos por eles e pedia que não recebessem nada de novo que ainda não tivesse sido pregado por ele mesmo a eles. Como selo de autenticidade dos ensinos de Paulo, ele cita ter recebido do próprio Cristo a mensagem que ensinara até o momento, e ainda coloca o fato de a mensagem pregada por ele ser a mesma que os demais apóstolos que conviveram com Jesus, pregavam. No entanto ele mesmo pede para que os irmãos não recebam (nem dele mesmo ou de anjos) uma mensagem que seja diferente da que ele já transmitiu. 

E este “falso evangelho” não é novo, na verdade ele é paralelo ao verdadeiro Evangelho e possui a mesma idade, tendo em vista que Paulo e tantos outros apóstolos sempre tiveram o cuidado de nos alertar quanto a isto. Pois, assim como o verdadeiro Evangelho tem sido por tanto tempo transmitido pelos apóstolos e discípulos de Jesus, o “falso evangelho” também é fomentado pelos falsos mestres e falsas ovelhas que estão entre o povo de Deus, disfarçados de cristãos.

Na situação dos Gálatas, Paulo alerta quanto aos que ensinavam a justificação pelas obras da lei, enquanto que Paulo os ensinou desde sempre sobre a justificação pela fé somente. Os Gálatas eram um povo composto por judeus e gentios convertidos, o que dava margem para que alguns judeus, de má fé, pregassem uma mensagem distorcida do Evangelho. Mas o que vemos hoje em nosso meio não é apenas esta pregação que confundia os gálatas baseada no mérito das obras. Deparamo-nos hoje com um “evangelho” baseado no benefício egoísta do homem e sua própria exaltação. É como se fosse a mesma mensagem que enganava os gálatas, mas com alguns requintes de farisaísmo moderno e barato. Nesta “mensagem” tendo o homem como centro, abre-se uma gama de possibilidades de alterações, tudo para se adequar ao gosto do “cliente”, que por pensar que o Evangelho é uma luta diária para se alcançar o favor de Deus, acaba até pagando financeiramente para alcançar esse benefício, muito embora isso seja frustrante. 

O combustível para esta “mensagem falsa” é a falha interpretação das Escrituras, baseada em versículos isolados, aliada ao fanatismo religioso e ao materialismo residente no coração do homem. Mas a muleta que sustenta este “falso evangelho” por tanto tempo é o vislumbre da realização pessoal, operação de milagres e maravilhas, manifestações espirituais e ainda o bem estar de uma vida longe do crime e das drogas. Sim, muitos afirmam ser este “evangelho” verdadeiro simplesmente pelo fato de conseguir tirar famílias inteiras do mundo do crime ou das drogas (como se um bom centro de terapia não fizesse o mesmo trabalho), outros afirmam que por verem a operação de milagres subentende-se que Deus esteja de fato sendo o centro naquele ambiente (como se o próprio satanás não tivesse o poder de realizar milagres e prodígios para enganar os que não creem em Cristo como afirma 2 Tessalonicenses 2, 9).

Portanto, como a mensagem do Evangelho não foi anunciada diretamente a nós por meio dos apóstolos ou de Cristo, devemos ter o cuidado de analisar minunciosamente cada pregação e confrontá-la com o que está escrito na Santa Palavra, levando em consideração cada texto e seu contexto. Já há muito tempo muitos enganam fraudulosamente os que pouco conhecem de Cristo e fazem destes, comércio (2 Pe 2, 3). 

 Fique atento, porque não vem de vós, é dom de Deus (Efésios 2, 8).

Antonio Silva é membro da Igreja Presbiteriana do Brasil, na cidade de Nova Serrana-MG, casado com Karina Nascimento. É amante de teologia e administra o projeto Doutrina Reformada desde 2016, com o intuito de propor uma fé relevante para a igreja do Senhor Jesus, fundamentada na cosmovisão cristã calvinista.