Das cinzas ao cume do céu - Início da Quaresma

Uma grande parte dos brasileiros só considera o início do ano após o carnaval, e aqui estamos nós “num novo ano”. Antes dele, muitos são motivados a iniciar algum tipo de atividade física por causa do verão ou do próprio carnaval. Apesar de ela ser uma grande aliada da saúde, infelizmente não costuma ser procurada com esse propósito, mas para alcançar uma satisfação apenas estética.

Não que a estética seja desnecessária, pelo contrário, ela é até importante para a saúde de uma forma mais profunda do que vocês costumam saber. Mas esse não é o tema de hoje.

No entanto, como qualquer outra coisa nesta vida, a beleza não permanece para sempre. Da mesma forma que ela, as datas do nosso calendário também passam. Com os anos, o dinheiro, os bens e até mesmo a nossa saúde passam. Tudo passa!

É desconfortante pensar que em tudo aquilo em que investimos tempo e atenção vai acabar um dia, mas é necessário lembrar disso para focar naquilo que realmente permanece e merece nossa sincera e séria dedicação. Para isso nos serve uma data que vem após o carnaval: a Quarta-Feira de Cinzas.

Você pode até não ser Católico, mas sem dúvida alguma já viu alguém voltando da missa neste dia com a testa suja com um borro cinza ou preto.

As cinzas vêm representar exatamente a nossa brevidade de vida, com uma verdade nua e crua :"iremos morrer!". Mas isso citado de forma levemente poética no versículo “Recorda-te que tu és pó, e ao pó voltarás” (Gn 3, 19). Essa verdade deve estar impregnada na cabeça de todos que são ou não cristãos, pois a morte não é uma exclusividade apenas para os católicos, mas para todos!

Se você é meu seguidor mais antigo se lembrará de que no passado já falei sobre como a meditação da morte também é uma medida terapêutica.

Quando temos a morte diante de nós, quase que de forma instantânea, vem à nossa mente aquilo que o filósofo espanhol, Ortega Y Gasset, chamava de "ideia dos náufragos”. Essa ideia nada mais é que a visão de tudo aquilo que realmente importa para a pessoa diante de uma situação quase mortal.

Nessa Quarta-Feira de Cinzas você e eu somos convidados a nos lembrar que se um dia vamos embora dessa vida. Assim temos o dever de buscar ainda nela aquilo que permanece além dela, e assim rever aquilo que temos tomado como real prioridade para nós.

Quando acontece essa tomada de consciência de que existem coisas que merecem mais nossa atenção do que outras (e atenção é amor) , passamos a reconhecer, de forma humilde, que dedicamos muito esforço por aquilo que é fútil e passageiro. Acontece em nós (e que comece em você!) uma conversão, uma mudança de direção do seu coração de onde ele estava caminhando para onde ele deve passar a ir.

Essa celebração litúrgica (de Cinzas) tão importante para aqueles que são católicos dá início ao período da Quaresma, que se trata de uma preparação de 40 dias para a Ressurreição de Jesus na Páscoa. Como Ele mesmo morreu e ressuscitou, vencendo a morte e nos mostrando o caminho que quer que eu e você sigamos, neste tempo, quero te convidar a se preparar de forma adequada para chegada dessa data que vai muito além de coelhos e ovos de chocolate.

Para isso, vou enviar semanalmente minhas reflexões sobre este tema, esperando colaborar um pouco com esse processo em vocês. Para isso não me apoiarei apenas em minhas ideias, mas sim nos ensinamentos já clássicos do livro Filoteia, escrito por São Francisco de Sales.  

Abraços,

Dra. Bianca Urbano.

PS 1: Para se aprofundar em uma meditação sobre a morte, recomendo esse exercício do próprio livro Filoteia.

PS 2: A série sobre aterramento ainda não acabou. Na próxima segunda teremos o último e-mail sobre o assunto. E em breve a reabertura do Aulão Ponha os pés no chão. Acompanhe todos os textos antigo no meu Pingback.

PS 3: O próximo texto sobre a Quaresma chegará na quarta-feira.