Uma anamnese que nos transfigura - 2° Semana da Quaresma

Dando seguimento às nossas meditações sobre a Quaresma, quero pegar como gancho algo que é importantíssimo para todos os profissionais da área da saúde, que proporciona um bom e bem sucedido atendimento: a anamnese.

Dentro de qualquer consulta deve feita uma entrevista com todo paciente, que damos o nome de anamnese. E como essa ela funciona? O profissional procura fazer perguntas com o objetivo de ajudar o paciente a lembrar de situações e fatos que podem estar relacionados à sua doença.

É como um "exame de consciência guiado", para que o paciente possa reconhecer não apenas a doença que o perturba naquele momento, mas compreender as possíveis causas dela.

Os meus atendimentos tem uma duração mais longa do que o normal, e isso acontece por conta dessa anamnese mais longa, onde realmente busco compreender o que está acontecendo. Assim é possível abrir caminho para tratar a causa e não os sintomas.

Muitas pessoas podem se escandalizar e se envergonhar ao perceber que talvez a forma que andam levando a vida é a causa da sua enfermidade, como por exemplo: o abuso de alimentos de má qualidade que levou a uma hipertensão ou obesidade, ou a falta de exercícios físicos que resultou numa dor nas costas ou problemas de ansiedade.

Dentro da realidade espiritual a necessidade desse exame de consciência também deve ser reconhecida, porque sem ele ficamos completamente desorientados e adormecidos diante daquilo que faz mal a nossa alma. E acredite, a alma merece MUITO mais atenção que o nosso corpo, porque depois dessa vida o corpo, por mais belo e saudável que esteja agora, se vai, mas a alma permanecerá.

São Francisco de Sales, no início do seu célebre livro chamado 'Filoteia, Introdução a Vida Devota', diz que é indispensável a todo aquele que quer ser perfeito a pessoa de um diretor espiritual (especificamente um padre, que pode ser encontrado na paróquia mais próxima de você ou de sua preferência), que seja entendido e piedoso. O primeiro dever dele é nos ajudar a ver os pecados que estamos cometendo, principalmente aqueles que tiram a nossa amizade com Deus (conhecidos como pecados mortais) e chamá-los pelo nome.

A importância de chamar um pecado que cometemos (que é uma doença na nossa alma) pelo nome, é esclarecer que aquilo não é certo e saber de fato contra o que estamos lutando.

Muitas pessoas são avarentas e não sabem, devido "o véu que as cegam" por terem na consciência que o dinheiro é necessário, e de fato ele é, mas o problema está na forma que elas se relacionam com ele; a mesma coisa se dá com a comida, com o tempo de lazer, com o sexo e outras demais coisas que fazem parte da nossa vida. Muitas delas são tidas como neutras, entretanto nossa forma de lidar com elas é que acaba sendo má.

Na Igreja Católica os padres exorcistas ensinam que quando um demônio revela seu nome, dentro de um ritual de exorcismo, ele está praticamente vencido, pois é ai que ele é dominado. A mesma coisa acontece com os nossos pecados! Quando você sabe aquilo que faz de mal, e as coisas e ocasiões que te levam a faze-lo, fica muito mais fácil de superar e mudar de vida!

Para completar, nesse segundo domingo da Quaresma, o Evangelho nos mostrou a Transfiguração de Jesus (cf. S. Mt 17,1-9), justamente para nos dizer que é isso que Nosso Senhor quer para mim e para você: uma vida transfigurada, de transformação do sujeito velho, longe dos vícios e pecados, para um sujeito novo, santo, com as “vestes brancas“ (que simbolizam a nossa alma) para habitar com Ele em sua glória.

Te convido a fazer essa experiência de humildade, reconhecendo e assumindo aquilo que precisa deixar para trás, que são os seus pecados, e buscar essa mudança que te torne uma nova e melhor pessoa; talvez até irreconhecível para quem está em sua volta, mas conhecida por esse Deus que, como diz o mesmo São Francisco de Sales, está em TODO LUGAR, PRINCIPALMENTE NO SEU CORAÇÃO, sendo Ele O Primeiro a querer que você mude, te ajudando a realizar essa transfiguração n'Ele e por amor a Ele.

Se olhar bem, Ele está no centro de tudo. E encontramos a verdadeira Vida quando nos colocamos de acordo com isso.

Abraços,

Dra. Bianca Urbano.

Para continuar a se aprofundar na Quaresma, recomendo a meditação sobre o fim do homem, do mesmo livro Filoteia.