A depressão da alegria

Qual foi a última vez que você assistiu Netflix sem aquela vozinha na sua cabeça falando "NOSSA QUE BONITO EIN??? TÁ TUDO EM DIA MESMO PRA VOCÊ TÁ AI SENTAD@ FINGINDO NORMALIDADE, NÉ? LEVANTA E REAJE, VAI TERMINAR AQUELE FREELA! ESQUECEU DA DEADLINE OU SURTOU DE VEZ?" e você segue o episódio inteiro pensando "simplesmente não reaja..." com uma cara de pastel absurda.

Ou então, pior: você saiu com seus amigos e, no meio da euforia, veio um incômodozinho dizendo "MEU AMOR VOCÊ TÁ DOID@? ESQUECEU QUE TEM UM BANDO DE EMAIL ESPERANDO PRA SER ABERTO E UMA PILHA DE CLIENTE PRA LIDAR? VOLTA PRA CASA!" e logo em seguida você ficou extremamente desconfortável e levemente arrependido de ter se permitido viver.

Tem muitos nomes pra isso, mas eu chamo de Depressão da Alegria -- e, infelizmente, rola com mais frequência do que você imagina. O fato é que somos mais ansiosos do que nunca, e isso não é nem geracional: independente da idade, quem existe em 2022 é acometido por isso, sobretudo aqueles que trabalham. Somos constantemente atravessados por uma necessidade incessante de produtividade -- e, pasmém, muitas vezes também achamos que somos superheroes e que damos conta de tudo.

Em outras palavras, estamos sem tempo pro agora. Nossas rotinas fundiram: o que antes era horário de trabalho/lazer, hoje é tudo junto, e salve-se quem puder! Quantas vezes você não aceitou uma demanda pensando "eu resolvo isso no sábado" ou "pra cumprir essa deadline eu não vou conseguir ir a academia essa semana, mas de boa". Se pensamentos como esse te veem com certa frequência, sinto dizer que NÃO TÁ DE BOA!

Estamos cada dia mais enchendo nossas agendas e buscando superar a nós mesmos. Além de trazermos mais responsabilidades para perto e nós privarmos de momentos pessoais, geramos uma expectativa em si da gente sob nós mesmos, e isso é uma bola de neve sem fim. Sobretudo para nós, creators, cujos chefes somos nós, acabamos exercendo dois papéis antagônicos: somos o boss opressor, que exige resultados absurdos da equipe, e somos a equipe oprimida, que trabalha sem almoçar e que não vê a hora de ir embora.

Em 2017, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um relatório que mostra que os transtornos de ansiedade atingem um total de 264 milhões de pessoas. O Brasil é o líder dos países com pessoas ansiosas: 18 milhões. Por isso eu disse: a culpa e o ressentimento por viver dias e momentos bons acontece com mais frequência do que parece.

E a pergunta de 1 milhão de dólares é: como mudar esse cenário? A boa notícia é que, no final das contas, só depende de você. A ruim, por outro lado, é que só depende de você. Contudo, tenho alguns macetes valiosos que ajudam a tentar, minimamente, minimizar isso. São eles:

• Aprender a dizer não. Esse daqui é o ponto alto pra mim. Já falei algumas outras vezes sobre a dificuldade em negar as coisas. Seja uma ajuda a um parente que vai me tomar muito tempo ou um job de budget minúsculo: a resposta é sempre sim. Quem se ferra? Isso, eu mesmo. Se você faz isso, tamo junto -- mas bora parar? Dizer não é uma das maiores provas de amor próprio que você pode fazer por si mesmo.
• Coloque seus momentos pessoais na sua agenda. Parece bobo, mas ajuda. Eu sou altamente control freak com o tempo, e vivo à base da visualização do meu Google Calendar. Assim, qualquer espacinho em branco que eu achava eu lia como uma oportunidade pra ser mais produtivo. O resultado era que eu não bebia água, não parava pra comer e quase não saía do escritório. Por isso, criei uma agenda chamada "Eu" só pra bloquear tempos pra mim: da Academia ao almoço, passando pelo tempo de leitura até o banho.
• Autoconhecimento é tudo. Eu costumava aceitar fazer muita coisa em frentes muito distintas -- talvez por querer gerar mais receita, mas muito também pra experimentar coisas novas. Claro, a curiosidade das descobertas seguirá ativa em toda a nossa vida, mas a autocrítica de "será que eu realmente preciso me colocar nessa situação?" deve ser igualmente forte. Logo, entenda suas potencias bem como as áreas que você quer se desenvolver, e comece cada vez mais a ser seletivo com os projetos que você se engaja.
• É melhor feito do que perfeito. Não é fácil apenas de desvincular de uma iniciativa, projeto ou empreitada -- é todo um processo. Por isso, uma vez que você entendeu melhor onde colocar sua energia e quais áreas você precisa canalizar suas forças, apenas cumpra com seu dever para as demais atividades. Ser perfeito é ótimo -- mas tem certas coisas que nem merecem esse desgaste. 

Bobas ou não, tais dicas são quase meus mantras diários. Precisamos entender que não fazer nada é sim fazer alguma coisa, e momentos sem ser produtivo no trabalho é um momento de produtividade pessoal -- sendo tão importante quanto.

Tão logo quanto possível, saia com a tua galera ou maratone tua série. E se a vozinha aparecer na sua mente te julgando, fala pra ela que ela errou de endereço.

💡 Ronaldicas

Já ouviu falar em Brown Noise?

O ruído marrom, em tradução pro bom português, é um som que utiliza de frequências mais baixas para gerar um som ambiente bastante profundo - algo bem semelhante ao barulho contínuo do ventilador que fica ligado a noite inteira no quarto.Ele é muito usado para acalmar crianças e ajudar adultos a dormir, mas também auxilia pessoas com ansiedade a neutralizarem pensamentos. Fica a #ronaldica!

🌍 O que mais rola na Creatorsfera

• Busca e apreensão no Metaverso? Sim, aconteceu. O Ministério da Justiça e da Segurança Pública executou um mandado de busca e apreensão no metaverso, parte da Operação 404, que tem como alvo a pirataria digital. A ação foi contra suspeitos de transmitir ou viabilizar a veiculação de conteúdos protegidos pela lei de direitos autorais. 
• Mundo Pixar em São Paulo. Começou no dia 20 deste mês e vai até 23 de outubro o Mundo Pixar, evento imersivo da empresa e que promete proporcionar experiências únicas. Fica aqui o spoiler dos filmes que terão espaços imersivos lá: Up: Altas Aventuras, Toy Story, Carros, Divertidamente, Soul, Ratatouille, Procurando Nemo, Lightyear, Os Incríveis e Monstros S.A. Vai ser tudo!
• Pobre Neymar... Os NFTs comprados pelo jogador pelo preço de R$ 6 milhões em janeiro hoje valem cerca de R$ 1 milhão. Isso ocorreu em função da desvalorização do ethereum, principal criptomoeda para negociar tokens. Momento difícil para ser um Bored Ape Yacht Cluber, hehe.

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