STF instaura o Ministério da Verdade
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STF instaura o Ministério da Verdade

No livro 1984, George Orwell descreve uma civilização dominada por um partido totalitário, onde existe o "Ministério da Verdade". Por "verdade" entenda-se o que quer que o Partido dissesse, mesmo que dissesse algo num dia que fosse o completo...

Érico Ribeiro
4 min
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"1984", último livro do escritor britânico George Orwell, escrito em 1948.<br>
"1984", último livro do escritor britânico George Orwell, escrito em 1948.

No livro 1984, George Orwell descreve uma civilização dominada por um partido totalitário, onde uma das ferramentas de domínio sobre a população é o "Ministério da Verdade". Por "verdade" entenda-se o que quer que o Partido dissesse, mesmo que dissesse algo num dia que fosse o completo oposto do que disse no dia ou semana anterior, já que o Ministério da Verdade alterava todos os registros históricos (livros, jornais, revistas, etc) para que a versão do partido sempre fosse a correta.

Quem leu a obra derradeira de Orwell sabe que o livro foi profético em vários aspectos, entre eles, o controle sobre a linguagem e o pensamento (novilíngua/politicamente correto). Mas um "Ministério da Verdade" seria algo tão absurdo que é difícil de imaginar que algo assim pudesse realmente existir. Será?

Nos últimos anos, vimos surgir as famigeradas "agências de checagem de fatos", que teoricamente, se encarregariam de dizer se determinada notícia era verdadeira ou não, mas que na verdade, queriam criminalizar qualquer fato (ou opinião!) que não fosse aquele tido como o certo pela mídia mainstream, até porque muitas delas pertenciam a órgãos desta, como o G1, o Estadão e a Folha de São Paulo, inconformados com o crescimento de sites da mídia alternativa, como o Terça Livre, o Brasil Paralelo, o Comunicação e Política e o Senso Incomum.

Além delas, tivemos o tal "Sleeping Giants", um perfil do Twitter que fazia chantagem com empresas que supostamente estariam financiando "discurso de ódio" e "propagação de fake news" com ameaça de cancelamento. Se as agências de checagem não conseguiram acabar com a reputação da mídia alternativa, que mesmo com todos os ataques e obstáculos vem crescendo cada vez mais, o Sleeping Giants visava sufocá-la financeiramente, tornando a inviável, e ainda contando com ajuda de gente grande na internet (só na internet), como o youtuber Felipe Neto. Com a diferença que, enquanto sabíamos que por trás das agências de checagem estava a própria mídia mainstream e ONG's financiadas por bilionários com sede de poder, no caso do Sleeping Giants, a força vinha do anonimato dos responsáveis pelo perfil. Mas, graças ao esforço de órgãos de mídia não cooptados, como o jornal Gazeta do Povo, eles foram derrotados e terão que se revelar.

Sem falar nos diversos inquéritos judiciais autoritários e ilegais criados para perseguir quem tenha uma opinião mais à direita.

E recentemente, vimos a última cartada do sistema contra a liberdade de imprensa, expressão e pensamento. Nossa Suprema Cõrte criou o chamado "Programa de Combate à Desinformação" que nada mais é do que a materialização do Ministério da Verdade Orwelliano, já que ele visa inibir toda e qualquer crítica aos 11 Deuses do Olimpo ou ao Olimpo em si, ainda que a crítica seja pertinente. Leiam a resolução n° 742, de 27/08/2021 e digam se eu estou errado.

No fim das contas, por linhas tortas, o Merval Pereira tinha razão.

Isso tudo deve nos atentar ao fato de que a dituadura do poder judiciário que Ruy Barbosa tanto temia já está instalada. Ministros da Suprema Côrte estão prendendo pessoas, entre elas jornalistas, por qualquer motivo, sem que haja crime nem tampouco o devido processo legal. Nem conversar no bar é seguro. Os guardiões da Constituição simplesmente limpam a bunda com a Carta Magna e fazem o que bem entendem. Estou começando a achar que o exemplar da Constituição Federal que um deles deu ao presidente Bolsonaro quando este assumiu o mandato era o último.

A cara de pau é tamanha que o ministro Luis Barroso recomendou o livro 1984 recentemente em sua conta no Twitter. Mal sabe o ministro que o próprio Orwell, que agora deve estar se revirando no túmulo, quando questionado sobre o motivo de ter escrito o livro, respondeu "para que aquilo não aconteça". O livro era uma advertência, mas vem sendo usado como manual de instruções. A China que o diga.

Tomara que durante as manifestações do dia 07 de setembro, haja alguém corajoso, ou louco, o suficiente, pra tocar essa música em pleno volume na frente da Suprema Côrte. Seria épico.