George Floyd está mais vivo do que nunca!
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George Floyd está mais vivo do que nunca!

Meu personagem da semana é cidadão afro-americano George Perry Floyd Jr, nascido em Fayetteville, North Carolina.

Carter Batista
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Meu personagem da semana é cidadão afro-americano George Perry Floyd Jr, nascido em Fayetteville, North Carolina.

Floyd, que era chamado de Perry por amigos e familiares, foi assassinado em 25 de maio de 2020, pelo covarde Derek Chauvin, ex-membro do Minneapolis Police Department.

Na última semana, um júri composto por 12 cidadãos (dentre eles uma afro-americana aposentada, dois homens de famílias miscigenadas, dois imigrantes, duas mães solteiras brancas e uma enfermeira) consideraram Derek Chauvin culpado de três acusações e responsável pela morte de Floyd. A sentença do juiz da causa com a fixação da pena é esperada para as próximas semanas.

Percebam que George Floyd não é um personagem da semana póstumo, pois ele está mais vivo do que nunca. Ao estrangular seu pescoço com o joelho por quase 10 minutos, Chauvin assassinou Floyd, lhe negou a condição humana, mas isso o tornou um símbolo, isso fez de George Floyd uma ideia.

E, como sabemos, por mais que não possam respirar, as ideias não podem morrer.

O julgamento de Chauvin se tornou um espetáculo midiático e foi acompanhando com vivo interesse no mundo inteiro. Multidões de ativistas se reuniram, protestaram, rezaram e comemoraram  a condenação do ex-policial, na esperança de que represente um avanço no combate à violência policial nos Estados Unidos.

Confesso que, de início, eu também comemorei.

De certa fora, a gente anseia o tempo inteiro pela justiça; e a condenação de Derek Chauvin se parece muito com o ideal de justiça que almejamos.

Mas foi, então, que me deparei com o seguinte tweet do advogado criminalista Joel Luiz, cofundador e coordenador do Instituto de Defesa da População Negra:

Sim, meu colega Joel Luiz, que coordena um instituto de fomento à advocacia negra e promoção do serviço jurídico gratuito à comunidade negra, está coberto de razão.

Mais importante do que a condenação de um policial específico num caso que tomou proporções midiáticas globais é a "mudança estrutural", é a reforma completa do sistema que permita que os pretos voltem a poder respirar.

Eu sou um pouco mais otimista que o Joel e ainda me agarro à esperança de que estamos melhorando. Hoje em dia, a totalidade das pessoas minimamente instruídas no mundo não tolera mais, por exemplo, a injúria racial e um crime bárbaro como o que foi cometido contra o meu personagem da semana. Isso é, sem dúvida nenhuma, um grande avanço.

O próximo passo - esse sim nós todos vamos comemorar com entusiasmo - será quando também causar revolta geral o fato de percebermos que, por exemplo, uma conhecida estatística dos anos 90 ainda faz muito sentido hoje dia:

"60% dos jovens de periferia sem antecedentes criminais
Já sofreram violência policial;
A cada 4 pessoas mortas pela polícia, 3 são negras;
Nas universidades brasileiras, apenas 2% dos alunos são negros;
A cada 4 horas, um jovem negro morre violentamente em São Paulo..."

Meu personagem da Semana é George Floyd, uma ideia, um sobrevivente.