O que você faria se sofresse assédio e não houvesse Compliance?

Gostaria de relatar a história de minha avó Florinda. Neta de migrantes italianos, nascida em 1923, foi criada em Brodowski onde conheceu o Pintor Cândido Portinari antes da fama, e ainda teve o privilégio de estudar com as irmãs dele.

Minha avó indo de bonde, trabalhou como tecelã nas Indústrias Matarazzo, em meados dos anos 40. Ela e suas irmãs, ajudavam seu pai no sustento da casa.

Ela conta que uma dia, o "Mestre" ou Encarregado, vendo que ela estava com dificuldades de manusear o tear (ela disse que alguns fios tinham baixa qualidade, o que dificultava o trabalho). Este encarregado disse que ela "não prestava nem para morrer". E hoje ela atenua a situação, dizendo que o encarregado estava redondamente enganado, considerando sua longevidade.

Perguntei a ela, se era possível reportar agressões morais, e ela disse que não sabia o que era Código de Conduta, a opção era trabalhar naquele ambiente, caso contrário poderia pedir demissão. Dedicada, ela suportou as adversidades, permanecendo lá até o fechamento da fábrica, que posteriormente mudou para o interior de São Paulo, e ela optou em ficar com a família na capital. Não havia Canal de Ética, ou alguma forma de reportar abusos ou assédios. Já imaginou como era o ambiente corporativo há 70 ou 80 anos atrás?

Para Reflexão: Como você trata sua equipe? Existe um diálogo constante, ou feedback sobre o trabalho? o quê cada colaborador tem feito para melhorar o ambiente laboral, para proporcionar uma relação saudável e evitar um clima ácido na empresa? Não ignore seu funcionário constantemente, isso pode gerar um clima de desprezo, e ser desprezado é muito doloroso não somente como indivíduo, mas também como profissional.

Dica: em rotinas de home office, caso não seja possível realizar um call, envie um e-mail elogiando o trabalho do colaborador ou contribua com feedbacks positivos, principalmente se ele for novo na equipe. Isso fará com que ele se sinta aceito, confiante e motivado a produzir cada dia mais e melhor.

Ainda, em paralelo com os dias de hoje, deixo este alerta: por mais difícil e adverso cenário que estejamos vivendo, muito cuidado com as palavras proferidas ao colaborador, pois as ofensas poderão ser lembradas para o resto da vida daquela pessoa.

Florinda hoje, aos 99 anos, com 4 filhos, 7 netos e uma biseta, vive de maneira modesta, raramente sai de casa, exceto para suas consultas periódicas pelo SUS.

Faço questão de deixar esta homenagem em vida, pois é uma pessoa lúcida e humilde, e um exemplo de superação e empoderamento, não acham?

E para encerrar, não tenho vergonha em dizer que fui muito bem criado pela minha avó, as 3 coisas mais marcantes eram:

O macarrão de Domingo;

O acenar no portão quando eu saía de casa para ir ao trabalho;

A transmissão de valores, o cuidado e amor incondicional.

Ah, e valorizem as coisas simples da vida, vó Florinda: muito obrigado por existir, graças a Deus ela está muito bem de saúde! ainda faz seus bolos e se tem se divertido muito assistindo aos jogos da Copa do Mundo (sim, ela gosta muito de futebol) :)

abraços!

Fábio Cossenzo

#compliance #integridade #atitudepositiva #empoderamento #superacao