Falando do futuro, vivendo no passado
11
0

Falando do futuro, vivendo no passado

Da ponte pra lá, já se planeja o século, da ponte pra cá, vive-se nos anos 80...

Fernando Lima
2 min
11
0
Rua onde cresci, em Taipas, na periferia da Zona Norte | <br>Foto de <a href="https://www.instagram.com/bigas_naquebrada/">Rodrigo Menezes</a>, fotógrafo que incentivei em seu início de carreira.
Rua onde cresci, em Taipas, na periferia da Zona Norte |
Foto de Rodrigo Menezes, fotógrafo que incentivei em seu início de carreira.

Eu sou um aficionado por eventos de tecnologia e negócios. A festa envolveu conhecimento? Tô dentro. Mas como toda "festa" quando se embriaga, na volta pra casa já começa a bater a fase reflexiva pós-bebedeira e no dia seguinte, a ressaca vem forte. Embriagado neste caso, é de insights e conhecimentos adquiridos.


A reflexão bate quando atravesso a ponte e a ressaca, é quando a gente pisa no chão e começa a enxergar ao redor. Neste momento, a clareza de ideias é quase depressiva.

Até ano passado, eu morava na periferia de São Paulo, com meus pais, local onde quase todo domingo estou para almoçar junto aos meus amados.

Toda santa vez que voltava de um evento de tecnologia e via a periferia, minha cabeça faltava explodir de tanto pensar em algumas coisas que acabava observando: Da ponte pra lá, já se planeja o século, da ponte pra cá, vive-se nos anos 80.

E concluía, toda-santa-vez: O Brasil só estará realmente futurista quando estas pessoas e esta realidade estiverem inclusas neste plano de futuro. E isso não se resume a entregar alguns pontos de internet para pobre ver e sonhar, sem saber se conseguirá um dia chegar lá.

Pensar em tecnologia? Sim! Em avanços? Óbvio que sim. Mas nunca deixar cair no esquecimento uma coisa: em 2021, há gente (muita gente) vivendo como se estivessem em 1980 - ou antes.

Futurismo não é apenas usar a tecnologia para tornar mais cômoda a vida do cara que vive entre Vl. Madalena e a Faria Lima, muito menos papo que deve estar somente nas mesas de bares descolados da Rua Augusta.

Futurismo é incluir no pacote as pessoas da Cidade Tiradentes à Osasco e só seremos futuristas quando futurismo, inovação e tecnologia estiverem na boca dos alunos das escolas públicas daqueles que vivem à margem.

Apoiar, incentivar e divulgar soluções que tragam estas pessoas, finalmente, para os dias de hoje, deve ser pauta de todo futurista. Só assim as coisas passarão a fazer sentido.

Viver em 2021 e planejar 2031 não pode ser um privilégio para poucos.