A tirania das métricas

Métricas estão tão arraigadas no dia a dia que nem percebemos o quanto podem distorcer o nosso julgamento e decisões. Em Tyranny of Metrics (A tirania das métricas, Princeton University Press), o autor Jerry Zuller alerta para os riscos de enxergar o mundo apenas sob a ótica dos números. 

Métricas surgiram como um modo de quantificar, de maneira mais tangível possível, o desempenho de uma atividade. A simplicidade, a clareza e a precisão dos números para demonstrar a evolução de processos fizeram com que fossem amplamente adotadas pelos mais diversos setores. Hoje não só empresas mas escolas, universidades, hospitais, órgãos públicos e ONGs não vivem sem elas. 

Nós mesmos somos regidos por métricas e indicadores, tanto no trabalho quanto fora dele. Não saímos de casa sem consultar a previsão do tempo (a possibilidade de chuva é de 70%), maneiramos no almoço para não aumentar os indicadores de colesterol e já contamos com os 3 pontos do próximo jogo do nosso time, pois a taxa de aproveitamento em casa é mais de 90%.

Na Inglaterra, cirurgiões tem se recusado a operar pacientes de alto risco para não comprometer a sua taxa de sucesso (pela qual são avaliados e remunerados).

O livro é recheado de casos em diversos campos, entre eles o da área de saúde na Inglaterra, em que cirurgiões tem se recusado a operar pacientes de alto risco para não comprometer a sua taxa de sucesso (pela qual são avaliados e remunerados). Nas empresas, o uso de indicadores de avaliação de desempenho tem sido criticado por não levar em consideração aspectos positivos não mensuráveis da colaboração dos funcionários, além de provocar queda acentuada de criatividade.

Para Zuller o problema não está nas métricas em si, mas na falta de critérios e no exagero em seu uso. Na sua avaliação, elas são úteis e benéficas quando utilizadas como um complemento, e não substituto, à nossa experiência e conhecimento.