Relatórios de ESG estão descolados da realidade, critica especialista
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Relatórios de ESG estão descolados da realidade, critica especialista

Um artigo no mínimo polêmico publicado pela Harvard Business Review (edição maio/junho) questiona os resultados efetivos das ações de ESG nos últimos 20 anos. 

#Finanças #Gestão #Carreira
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Um artigo no mínimo polêmico publicado pela Harvard Business Review (edição maio/junho) questiona os resultados efetivos das ações de ESG nos últimos 20 anos. 

Embora atualmente seja praticamente unanimidade e receba cada vez mais atenção e investimentos, parece haver um descolamento entre as iniciativas de ESG reportadas nos relatórios e a realidade. Onde estão seus resultados efetivos se, no mesmo período, as emissões de carbono continuaram subindo e tanto os danos ambientais quanto a desigualdade social se aceleraram?

Para Kenneth Pucker, que trabalhou como COO da Timberland e hoje leciona nas universidades de Fletcher School e Boston School of Business nos EUA, o maior exemplo desse descompasso está nos relatórios de sustentabilidade publicados pelas empresas. Na sua avaliação, eles não só confundem por apresentar informações imprecisas e enganosas como se transformam em obstáculos para empresas com preocupações legítimas.  

Um exemplo são os números relacionados a emissões de carbono. Segundo Pucker, para realmente ter controle sobre as emissões seria necessário monitorar: 1) o que é emitido por suas instalações e veículos sob sua gestão; 2) o que está associado ao consumo de energia (por exemplo, eletricidade gerada por usinas termelétricas) e 3) todas as outras fontes de emissão da cadeia de produção, incluindo fornecedores, viagens de empregados e descarte dos produtos vendidos. "Menos da metade das empresas que divulgam seus dados utilizam esse escopo", analisa.  

Uma mesma companhia pode mudar sua metodologia de ano para ano, dificultando o acompanhamento.

A falta de padrões nos indicadores também torna praticamente impossível a comparação de performance ESG entre as empresas. Companhias do setor de óleo e gás, por exemplo, usam abordagens e indicadores diferentes em seus relatórios. Uma mesma companhia pode mudar sua metodologia de ano para ano, dificultando o acompanhamento.

Outro agravante é a falta de confiabilidade dos dados e informações. Mais de 90% das empresas globais produzem relatórios de ESG, mas uma minoria é auditada por consultorias especializadas. Sem referências e avaliações externas, medir e reportar acabam se tornando um fim em si mesmos, sem relação concreta com a realidade.

Essa situação pode causar distorções graves, como  o caso da rede de varejo de moda do Reino Unido boohoo, denunciada por exploração de trabalhadores logo após ser premiada por seus investimentos sócio-ambientais.

A autor defende até mesmo a necessidade de definir com maior clareza o conceito de ESG. "Uma investigação do Wall Street Journal revelou que 8 em cada 10 fundos de ESG nos EUA investem na indústria de óleo e gás e dois em cada US$ 3 classificados como investimentos socialmente responsáveis só se enquadram nessa categoria por excluírem os setores de fumo e armas de fogo", esclarece Pucker. 

"Dois em cada US$ 3 classificados como investimentos socialmente responsáveis só se enquadram nessa categoria por excluírem os setores de fumo e armas de fogo"

A abrangência é outro aspecto que precisa ser discutido com mais profundidade. De acordo com estudo de mais de 40 mil relatórios de sustentabilidade, menos de 5% fazem menção de limites ecológicos em contraste com a expansão de negócios. E menos de 1% declara que desenvolve seus produtos de forma integrada com objetivos de preservação ambiental.

Com sua experiência como COO da Timberland (uma das empresas pioneiras em defesa da sustentabilidade como estratégia de negócios) durante 8 anos, o autor reconhece a complexidade do problema e considera que a solução não depende só das empresas. Além da adoção de indicadores padronizados e auditorias, é necessária também maior pressão da sociedade, assim como regulamentação governamental.

"Resultados globais em ESG requerem que os líderes empresariais intervenham por mudanças estruturais na  economia e na sociedade que possibilitem vislumbrar horizontes mais amplos que o próximo trimestre", conclui. 

Overselling Sustainability Reporting

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