5 canções que não entraram em Infidels
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5 canções que não entraram em Infidels

Ontem falei da acidentada produção de Infidels. Hoje quero passear pelo que ficou de fora.

Gab Piumbato
3 min
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Ontem falei da acidentada produção de Infidels. Hoje quero passear pelo que ficou de fora.

Desenterrando as jóias perdidas
Desenterrando as jóias perdidas

Há outras cinco canções no Bootleg oficial de 1991.

A primeira é "Someone's got a hold of my heart", cujo balanço da cozinha Sly & Shakespeare é de fazer balançar o esqueleto. Como de hábito, Dylan preferiu reescrevê-la e regravar tudo: "Tight Connection To My Heart (Has Anybody Seen My Love)", presente em "Empire Burlesque", produzido por Arthur Baker (especialista em dance music) é uma aula de como destruir uma canção.

"Tell me" lembra uma canção country tocada por uma banda de reggae. Um corpo estranho no conjunto, nem mesmo os críticos sabem direito o que fazer com essa letra de versos interrogativos: "É algum tipo de jogo que você está fazendo com meu coração / Quão fundo vou, onde começo?". Como o Ryan Adams ainda não fez uma versão, é o que eu me pergunto nos dias de inverno.

Já "Foot of Pride" é a canção perfeita prum cover Lou Reed (Bobfest 92), apenas dois acordes e os versos: "Eles podem ser um terror pra sua mente e te mostrar como segurar sua língua / Eles têm mistério escrito em suas testas / Eles matam bebês no berço e dizem apenas os bons morrem cedo / Eles não acreditam em piedade".

As duas canções da gravação de 3 de maio dariam um tom bem mais meditativo ao nosso hipotético "Infidels".

"Lord, protect my child" é um apelo a Deus pelo filho num mundo corrompido. Dylan faz seu piano gemer, tudo num andamento lento, com slide guitar comovente e o indefectível solo de gaita (esse período, ao lado do explosivo da trilogia roqueira de 65-66, contém os melhores solos de gaita dele na carreira, talvez auxiliados pelo fervor religioso).

De todas faixas presentes no Bootleg, a melhor ainda é "Blind Willie McTell". Ninguém pode cantar o blues como ele, assegura Dylan. Esta é uma daquelas canções que explicam a frase: "Eu faço música americana". Dylan conhece a tradição como ninguém, domina o código do folk e do blues e sabe tanto se inscrever nessa mitologia quanto pagar tributo aos seus heróis. A melodia é emprestada do clássico "St. James Infirmary Blues", que por sua vez serviu de base para "Dying Crapshooter's Blues", do próprio McTell. De quebra Mick Taylor ainda dá show dedilhando o violão de doze cordas.

Como "Blind Willie McTeel" ficou de fora de Infidels? A essa altura, apenas os que desconhecem Bob Dylan podem se surpreender com seu argumento. Ele respondeu que tinha feito dezenas de discos, centenas de canções e uma a mais não faria diferença. 

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