Manipulator of crowds, you're a dream twister
0
0

Manipulator of crowds, you're a dream twister

Jokerman é uma das canções mais misteriosas de Bob Dylan. De seu lançamento em Infidels (1983), passando pela caótica apresentação televisiva no programa de David Letterman com The Plugz como banda de apoio, Dylan manteve esta composição em s...

Gab Piumbato
3 min
0
0

Jokerman é uma das canções mais misteriosas de Bob Dylan. De seu lançamento em Infidels (1983), passando pela caótica apresentação televisiva no programa de David Letterman com The Plugz como banda de apoio, Dylan manteve esta composição em seu setlist apenas na turnê europeia de 1984.

Depois, um hiato de 10 anos até que Jokerman retornasse aos palcos, no Japão, seguindo de forma consistente nos shows até o fim da década. Por fim, um breve período no início do novo milênio e Jokerman nunca mais soou num concerto ao vivo de Bob Dylan.

Email image

Os shows do início dos anos 1990 costumam ser muito desiguais. Era o momento em que a Never End Tour tentava ter um padrão. Dylan lutava com as suas próprias composições e com os próprios músicos. Ele estava tentando aprender a ser um guitarrista, o que esticava em muito a duração das canções.

Parece ridículo, mas há muitos momentos de pura alienação em seus solos de guitarra, com repetições de riffs sem fim. Dylan procurava em cima do palco e diante do público uma forma de criar sua arte.

O que nem sempre dava certo – aliás, na maioria das vezes não dava. Mas quando dava, era uma apoteose. De qualquer forma, aqui está uma das performances de Jokerman no Japão em 1994:

Em 31 de março de 1998, no seguimento do aclamadíssimo Time Out of Mind (1997) e da recuperação de uma doença quase mortal, Dylan está mais ativo, empunhando a sua Stratocaster no centro do palco:

Nesta apresentação de 24 de novembro de 2003, a última execução em cima dos palcos, Dylan estava acompanhado de seu antigo produtor Mark Knopfler (guitarrista dos Dire Straits). Tocando piano, ele pensa em fazer um solo de gaita mas acaba desistindo antes da coisa toda engrenar:

Por fim, meu objetivo hoje não é discutir quem seria o Jokerman. Jesus, o próprio Dylan? Tudo isso e muito mais. Na minha visão, os críticos que falam em “apropriação cultural” do imaginário caribenho erram profundamente. É um conceito restrito e delimitador de arte que nega a própria carreira e filosofia artísticas de Bob Dylan.

Por isso, vou encerrar com um cover maravilhoso de Caetano Veloso. Dylan já viveu tanto que acabou retornando indiretamente a essa forma orquestrada: não apenas os seus discos de covers do American Songbook demonstram essa sofisticação, como também o seus shows pós-pandemia possuem arranjos minimalistas. Às vezes são apenas três músicos que funcionam como uma orquestra completa. Mas o arranjo de Caê é mais caótico, indo numa linha até radioheadística. Não à toa, estes dois são os maiorais de sua língua.

Seguir meu Canal

Sou autor da melhor discografia comentada de Bob Dylan em português. Inscreva-se nesta newsletter clicando no botão acima para receber as próximas edições direto no seu email.