Te fazer sentir o meu amor?
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Te fazer sentir o meu amor?

Que Bob Dylan é um inventor, todo mundo sabe. Sam Shepard já havia dado a letra: ninguém inventou Bob Dylan melhor do que Bob Dylan. E há um gênero de canções que ele também inventou e domina: as canções de anti-amor. Qualquer ouvinte atento ...

Gab Piumbato
3 min
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Que Bob Dylan é um inventor, todo mundo sabe. Sam Shepard já havia dado a letra: ninguém inventou Bob Dylan melhor do que Bob Dylan. E há um gênero de canções que ele também inventou e domina: as canções de anti-amor. Qualquer ouvinte atento pode passar horas elencando versos de "It's All Over Now, Baby Blue", "It Ain't Me Babe", "Idiot Wind" etc.

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Mas há uma estranha canção em seu repertório que faz bastante sucesso com o público que não o conhece. 

A balada melosa "Make You Feel My Love" não é o tipo de canção que associamos imediatamente a ele. A letra é preguiçosa, exagerada:

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Não à toa, Adele fez bastante sucesso ao abrir o coração e a goela para se debulhar em lágrimas no seu cover:

Há covers e covers desta canção (Billy Idol, Brian Ferry, Neil Diamond). Talvez o mais inusitado - e o melhor - seja uma versão funk:

Musicalmente, a linha descendente do baixo remete para "Simple Twist of Fate". Este é um truque muito usado por Dylan, tanto em canções mais complexas, repletas de acordes, que puxam para o jazz, quanto em canções menos sofisticadas, de raiz mais folk.

Nos shows, Dylan acaba por alongar a duração, arrastando o andamento. De alguma forma, essa opção diminui o que parecia a urgência da original, de meros 3 minutos e meio, num disco recheado de canções longas, como é Time Out of Mind

Embora não seja a preferida dos críticos, que a ignoram ou a desprezam, "Make You Feel My Love" é bastante executada nos shows (312 vezes, considerando que foi lançada em 1997). O que mostra o carinho de Dylan por esta canção. No entanto, suas performances ao vivo raramente trazem algo de novo ou diferente. Seja com ele na guitarra, como no fim dos anos 90, ou ao piano, recentemente, as entonações e os fraseados não se desviam muito da original. Porque o sentimento é bastante direto, não parece haver espaço para nuances ou ambiguidades.

A versão mais delicada é a de Ane Brun, com um belo trabalho de cordas. A repetição da frase-título no final consegue trazer vida à canção. Um pedido, uma súplica? Na maioria das vezes, Dylan é o seu melhor intérprete. Mas aqui é preciso dar o braço a torcer e aplaudir os esforços de Ane Brun ao transformar a pieguice em devoção:

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