"A Revolta de Atlas" traduzido de "Atlas Shrugged" é uma das obras mais influentes do mundo desde a bíblia.
"A Revolta de Atlas" traduzido de "Atlas Shrugged" | ||
Rand, Ayn; tradução Paulo Henriques Britto; São Paulo; Arqueiro: 2010. | ||
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A Revolta de Atlas, traduzido da obra Atlas Shrugged da autora russa - radicada estadunidense - Ayn Rand é um romance empresarial digno de roteiro de filme ou novela do horário nobre. Na história a autora trabalha características humanas focadas em valores para demonstrar como uma sociedade pode ir a bancarrota quando guiada por espoliadores disfarçados de benfeitores que tiram dos ricos gananciosos para distribuir para os pobres necessitados. | ||
Durante toda a narrativa, Rand nos apresenta a uma diversidade de personagens que possuem implicações variadas na história; no entanto, o enredo se desenrola tendo um pequeno núcleo de personagens que caracterizam diversas atitudes e valores que - na visão da autora - estavam construindo a sociedade norte-americana naquele momento. Durante dois dos três volumes da obra, o leitor é guiado para um suspense em descobrir "Quem é John Galt?", pergunta que é feita frequentemente entre personagens da história a fim de demonstrar a articulação entre entendimento e prática de valores que forma um indivíduo racional, honesto, justo, independente, íntegro, produtivo e orgulhoso. | ||
Não é por acaso que estes valores são frequentemente questionados por atitudes de personagens apresentados como espoliadores durante toda a narrativa. Para Rand, estes são os valores que, ao serem assimilados, transformam uma sociedade e a figura de John Galt é o símbolo do indivíduo que "carrega" de maneira límpida todos estes valores. | ||
Galt é figura, o símbolo do ser humano perfeito, que assim como o gigante da mitologia grega Atlas, que carregava o peso do mundo nas costas. | ||
A Revolta de Atlas é considerada a obra mais influente do mundo após a bíblia pela biblioteca do congresso americano, simbolizando o poder e reconhecimento que as ideias propagadas por Ayn Rand nesta obra tiveram, principalmente se considerarmos o contexto de mundo em que a obra fora lançada no ano de 1957, onde a guerra fria era uma realidade no mundo polarizado da época e a ameaça comunista/coletivista assombrava a porta de todos os indivíduos livres do mundo. A obra contém mais de mil e duzentas páginas, divididas em três volumes de densa leitura, que exige bastante atenção do leitor para realizar as reflexões necessárias que a obra propõe. | ||
No primeiro volume, a autora aproveita para construir um pouco do contexto da história, apresentando alguns dos principais personagens da obra como os irmãos Dagny e James Taggart, herdeiros da principal ferrovia dos Estados Unidos; Hank Rearden, empresário "self-made", dono de diversas indústrias e que inventou um metal revolucionário; Eddie Willers, ajudando e secretário de Dagny e Wesley Mouch, lobista de empresários junto ao governo. Neste volume o desdobrar da narrativa é sobre os desafios vividos por Dagny para fazer a empresa despontar novamente no mercado, produzindo e entregando valor para a sociedade, enquanto o seu irmão se envolve com negociatas governamentais, para tentar conseguir vantagens inescrupulosas. | ||
Durante todo o volume, é apresentado um embate entre os "titãs" - empresários produtivos que são prejudicados pelas negociatas governamentais - e os "parasitas" - empresários inescrupulosos e membros do governo que querem espoliar a produção de valor entregue pelos empresários. | ||
Durante o segundo volume, pode-se perceber um aprofundamento dos embates apresentados no primeiro volume, gerando consequências cada vez mais catastróficas que, por diversas vezes, custam vidas de cidadãos que nada tem a ver com as negociatas e problemas causados pelo governo junto ao desenvolvimento empresarial. Este volume fica caracterizados pelo embate de Hank Rearden e Wesley Mouch, onde o governo representado por Mouch utiliza de todas as artimanhas possíveis para se apoderar da invenção revolucionária de Rearden - que fora apresentado no volume um - removendo todo e qualquer direito de propriedade sobre a invenção. | ||
A principal reflexão apresentada neste volume é sobre a relação de propriedade privada em que a autora nos coloca, quando a todo momento há diversos decretos que visam minar a força empresarial de Rearden até enfraquece-lo de vez para que o governo possa se apoderar de seu metal rearden sem dificuldades. O ponto alto do capítulo fica por conta do personagem Francisco D`Anconia, que no casamento de James Taggart faz um discurso sobre o dinheiro, sua ética e que não é vergonhoso gostar de ganhar dinheiro, um indivíduo fazer dinheiro por meios limpos é prosperidade para a sociedade. | ||
O terceiro e último volume da obra é o mais extenso, onde a obra já se encaminha para a sua construção final, os personagens principais já estão apresentados tais quais heróis, vilões e anti-herói. É neste volume que John Galt nos é apresentado, demonstrando através de suas ações como de fato ele é a figura do ser humano perfeito, intocado moralmente, íntegro ao extremo, protetor da liberdade individual que valoriza as qualidades de cada ser humano para lhes dar a liberdade de viver suas vidas como bem entender no Vale, conhecido como Atlântida, em que Galt os levou para "parar o motor do mundo" através da greve de cérebros. | ||
Importante perceber como, a autora, faz referência recorrentemente a mitologia grega; berço dos maiores cérebros da filosofia e que até os dias de hoje tem lições a ensinar para nós; como a influência exercida sobre esta obra. É também neste volume que a passagem "Eu juro pela minha Vida e pelo meu amor por ela que nunca irei viver em função de outro homem, nem vou pedir a outro homem que viva em função de mim." | ||
Esta passagem é parte do juramento realizado por Galt e por todos aqueles que seres produtivos que habitam o Vale de Atlântida para combater o altruísmo pelo altruísmo, onde a bondade por valor moral não deve ter espaço e a coerção é um veneno para a liberdade do indivíduo. Em passagens como a do juramento e o discurso realizado por Galt, a autora expõe de forma primorosa, como a bondade por valor moral é venenosa para uma sociedade próspera. Rand deixa explícito que para haver progresso e prosperidade geral é preciso, sim, que os interesses individuais sejam cumpridos e que nenhum ser humano, seja, por hipótese alguma, obrigado a fazer aquilo que não lhe apetece; que não haja obstáculos para aqueles que desejam produzir e prosperar. | ||
Apesar de ser um romance, a obra de Ayn Rand promove reflexões profundas naqueles que a leem. Sua capacidade de articular a narrativa com a realidade é incrível, haja visto que - apesar de escrita na década de 1950 - temos até os dias de hoje exemplos pujantes de nações que perdem e deixam de avançar por simplesmente atrapalharem de mais aqueles que desejam produzir. | ||
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