Comecei a escrever o meu primeiro livro neste ano e tem sido uma caminhada cheio de altos e baixos. No começo estava sendo divertido…
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Comecei a escrever o meu primeiro livro neste ano e tem sido uma caminhada cheio de altos e baixos. No começo estava sendo divertido, apesar de eu não saber muito sobre a história, já sabia para onde eu queria encaminhá-la, e só pelo fato de eu estar criando um mundo na minha cabeça, já fazia com que eu me sentisse alguém um pouco mais especial. O problema começou quando a história foi desenrolando, quando eu montei toda a estrutura e defini o começo, meio e fim… | ||
Como não tive muitas experiências na vida, nem cheguei a ler centenas de livros, ou ver centenas de filme para aprimorar minha narrativa, linguagem, desenvolvimento de personagens, e outras técnicas que são necessárias para dar vida à uma história, procurei me inspirar, primeiramente, na minha própria vida, e acho que esse foi o maior erro de todos. | ||
O meu personagem é basicamente eu, com alguns anos de diferença, e com algumas mudanças de personalidade, sua vida é um pouco diferente, mas a parte familiar também foi inspirada um pouco na minha, e isso doí bastante. | ||
Quando eu estava chegando na metade da história, comecei a me sentir mal, não só pelo ritmo pesado da história e pela frequência que estou escrevendo (mais de 10 dias seguidos acordando às 4 da manhã para ficar 3 horas pensando em cada palavra), mas principalmente, pelo fato de que eu não estava achando a história interessante; talvez seja pelo fato de que eu já sei tudo, e porque se baseia nas minhas projeções do futuro e traumas do passado, e isso pra mim não é nada anormal, é simplesmente a minha vida e a minha mente. | ||
Agora que já ultrapassei a metade e a porta do inferno se abriu totalmente para o acontecimento dos desastres que planejei, penso se é isso mesmo que eu quero fazer, penso se usar a minha vida como inspiração pra um livro, e projetar um futuro de morte e sofrimento faz com que o leitor tenha uma empatia pelo meu personagem, e especialmente, me sinto triste ao imaginar a pequena possibilidade das coisas que eu escrevo se tornarem reais. | ||
Quando penso na dor que sinto ao escrever, não digo uma dor física, meus dedos não cansam tão facilmente, eu poderia ficar horas e horas digitando sem parar, mas a minha mente não é tão funcional assim, e por mais que ela, automaticamente, pense em tragédias o tempo todo, eu jamais havia construído um universo inteiro para demonstrar essas tragédias, e agora, enquanto escrevo, me pego chorando ao ver coisas ruins acontecendo aos meus personagens. | ||
Não sou um autor, sou apenas um jovem tentando desabafar, mas escrevendo apenas a metade de um livro eu pude perceber o quanto é difícil para um autor escrever uma história que não tem um final feliz; não sei se eles se baseiam em experiências tão pessoais quanto eu estou me baseando, mas consigo imaginar que ao menos uma lágrima caia dos seus olhos quando eles decidem que um personagem tão especial irá sofrer. | ||
Hoje seria o 11° dia seguido escrevendo mais de 1000 palavras para o livro, mas hoje eu decidi dar uma pausa, decidi relaxar um pouco, pois já não aguentava mais a dor de imaginar os desastres acontecendo, não aguentava mais ver personagens que são inspirados em pessoas que amo, sofrendo coisas que espero que nunca aconteça realmente, não aguentava mais sentir a culpa de estar fazendo o mal e criando um universo de dor e sofrimento. | ||
Amanhã eu volto, e escrevo mais 2000 palavras, e as tragédias irão continuar; infelizmente, pra essa história, elas precisam acontecer, e eu peço desculpa, a mim mesmo e aos meus personagens, por ter colocado tanta dor nessas páginas, mas eu não aguento mais ter essa angústia toda só para mim. | ||
Aprendi desde cedo que escrever é auto sacrifício, que eu vou continuar sofrendo enquanto escrevo, e que eu nunca vou gostar do que escrevo, entretanto, em nenhum momento posso desistir de escrever, não posso deixar uma história inacabada e guardar um final angustiante dentro de mim, porque a única forma de me livrar disso, é escrevendo. | ||
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By Gustavo Guedes Araújo on February 5, 2021. |