Texto elaborado para o desafio do Instagram “DESAFIO FAST FICTION!”, iniciado por Saliras no @ metade.poeta
Texto elaborado para o desafio do Instagram “DESAFIO FAST FICTION!”, iniciado por Saliras no @ metade.poeta | ||
Desafiante: Saliras @metade.poeta | ||
Sucesso? Mais ou menos… Ultrapassei 166 palavras do limite. Tentei diminuir o máximo que pude, foi o que consegui! E ATENÇÃO: o texto abaixo não está revisado! Siga por sua própria conta em risco. | ||
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Maria Meredite Lagartite, a lagarta mais famosa da calçada, sempre causou certo alvoroço entre a comunidade de insetos e afiliados que habitava o grande Cimento Queimado. Ela era muito metida, diziam uns. Terrivelmente grosseira, alegavam outros. Era sempre assim: por onde Maria Meredite passasse, fuxicos e comentários maldosos a seguiam. Era só ela olhar de lado, porém, que qualquer sussurro se calava. Ao mesmo tempo que os insetos locais reclamavam dela, tinham-lhe um respeito que beirava ao temor. | ||
Mas como uma simples lagarta conseguiu esse respeito?, você deve estar se perguntando. Bom, foi mais ou menos assim: | ||
Numa certa manhã de agosto, Maria Meredite acordou com uma terrível dor de cabeça. Estava tão incomodada que podia jurar que até a terra tremia sob suas várias patinhas. “Mas que coisa!”, ela pensou, chateada. Podia sentir um mau humor querendo se acomodar nela, e tentou resistir. Não é de bom tom uma jovem lagarta ficar de mau humor, e Meredite não queria ninguém falando mal dela. Então, ela decidiu ignorar a dor de cabeça, o mau humor e a terra que parecia tremer, e seguir com sua rotina normal como se nada a chateasse. | ||
Todo amanhecer, logo antes das crianças humanas e seus pais acordarem e começarem a se preparar para sair (isso era na época em que as pessoas saíam de casa), Maria Meredite pegava sua bolsinha de poá verde (combinando com seu belo corpanzil) e seguia o rumo do seu dia. | ||
Passou na graminha que crescia rente ao muro de pedra e tomava café da manhã. Depois, seguiu para o canteiro de terra semi destruído e conversou com sua melhor amiga, Carlota Minhoca. Era difícil conversar com Carlota: ela tinha muitas irmãs e irmãos e eles estavam sempre conversando por debaixo da terra. Um alvoroço só, e que naquele dia em particular só fazia a dor de cabeça da lagarta ficar ainda pior. | ||
– Amiga, você não se cansa dessa bagunça? — perguntou Maria Meredite, fazendo uma careta ao sentir a dor na cabeça piorar. | ||
– Ah, Meredite! Você sabe como é: a família precisa de mim. Tem sempre minhoquinhas novas nascendo e eu preciso ajudar em casa. | ||
Meredite suspirou longamente naquele dia, ao se despedir da amiga. “Que terrível dor de cabeça! Será que não vai passar?”, pensava enquanto cruzava a calçada de cimento que ainda não tinha esquentado com o sol. Ela ainda tinha que visitar a outra colônia de lagartas do outro lado do canteiro, de onde decidira se mudar assim que nasceu. Depois, precisava conversar com os soldadinhos e os grilos, que estavam em pé de guerra havia dias sobre quem ficaria com o último jambo caído da temporada. | ||
Mas naquele dia, Maria Meredite Lagartite não chegaria do outro lado da calçada. Enquanto ela percorria o cimento, pensando em sua dor de cabeça que não melhorava, o tremor sob os seus pés ficou pior: foi crescendo, crescendo, até que a fez parar e todos os insetos da calçada apareceram em seus cantinhos para espiar que barulhão era esse se formando. | ||
Foi então que, em um único CRACK!, abriu-se uma fenda abissal no meio do grande Cimento Queimado! Larga e profunda, sumindo na escuridão de cimento para os confins de sabe-se-lá-onde. Maria Meredite estava a meros milímetros da fenda. Sua cabeça ia explodir de dor, e seu minúsculo sistema nervoso estava a mil. Ao seu redor, centenas de insetinhos e agregados se sobressaltavam e começavam a correr por suas vidas. O lema dos insetos é claro: se esconder primeiro, fazer perguntas depois. | ||
Meredite começou a ouvir guinchos afiados e, pouco depois, uma figura enorme, peluda e escura surgiu do buraco: um rato! Os sobressaltos dos insetos tornaram-se gritos de pavor, mas ali ficou Maria Meredite, sem mexer uma patinha. | ||
O rato sorria largamente vendo o desespero dos insetinhos da calçada, e levou um segundo a mais para notar a lagarta rechonchuda que não se movia. | ||
– O que você está fazendo, lagartinha? Não vê que sou um rato? Corra! Tenha medo de mim! Vou devorar todos os seus amiguinhos! A terra das calçadas agora é minha e de minhas irmãs ratazanas! Vocês agora são nossas presas! — E enquanto o rato falava e falava, exclamando a cada pausa, Maria Meredite não se mexia. Aquilo pareceu deixar o enorme rato confuso, pois ele desistiu do discurso de terror, e com seu focinho comprido cheirou a lagartinha. — Por que não foge de mim de uma vez? | ||
Com um sopapo inesperado da bolsinha de poá verde, o ratão viu-se cego de um olho e começou a guinchar desesperado. | ||
– Trate de ir embora daqui! Estou chateada e de mau humor, não tenho tempo para ratos ou ratazanas! Chega! Vá embora! | ||
Guinchando e atordoado sem a visão de um olho, o rato mergulhou na fenda da calçada, e Maria Meredite ainda mordeu-lhe a cauda com toda a força que tinha em seus afiados dentinhos, o que apenas fez com que ele guinchasse ainda mais e sumisse completamente na escuridão. | ||
Escondidos, os outros insetos a olhavam, um misto de choque e admiração. Maria Meredite Lagartite apenas olhou ao redor e comentou: | ||
– Eu estava com dor de cabeça. | ||
Todos agitaram as cabeças positivamente, nervosos. Era um impasse: Maria Meredite havia reclamado e sido desagradável, e não tinha coisa mais feia do que isso para uma lagarta, mas ao mesmo tempo, ela salvou a todos da tirania dos ratos do submundo. Sem saber muito bem o que fazer, os outros insetos voltaram para seus cantinhos e casas, e Maria Meredite decidiu fazer o mesmo. Descobriu que sua dor de cabeça havia passado, e ficou pensando se talvez sua explosão com o rato fedido não tivesse ajudado nisso também. Às vezes, o melhor que dá pra fazer com o desconforto e a chateação é falar bem alto sobre eles. |