A Hegemonia do Flamengo no Brasil
Acompanho o Flamengo há 30 Anos, aprendi a gostar de futebol e amar o clube desde cedo. Ao longo desse tempo vi grandes vitórias, e derrotas de magnitude idêntica. Vi um time desacreditado como o de 1992, com vários atletas das categorias de base, sagrar-se campeão brasileiro. Em 2003, assisti, meio que sem acreditar, à derrota na final da Copa do Brasil para o modestíssimo Santo André, depois de ter empatado o jogo de ida, num Maracanã com quase 100 mil pessoas. Essa foi a maior "flamengada" da minha vida. Vi o time ser campeão da Copa do Brasil contra o maior rival, em 2006, vencendo os dois jogos e com gol de Obina (Aquele que era melhor do que Eto'o) e vi o Flamengo ser eliminado da Libertadores de 2008 pelo América do México, após vencer o jogo de ida por 4 x 2 na casa do adversário; na oportunidade o Flamengo perdeu por 3 x 0 com três gols de um atleta acima do peso chamado Cabañas. |
Vimos também o time campeão de 2009, comandados por Adriano e Petkovic, tendo como referência na comissão técnica o ídolo histórico Andrade, que trouxe união ao grupo com a sua humildade. E vimos o time de 2019, que foi campeão brasileiro e da libertadores no mesmo ano (algo que apenas o Santos de Pelé conseguiu) e que esmagava grande parte dos seus adversários em campo. Um capítulo a parte na história Rubro-negra, a equipe comandada pelo inesquecível Jorge Jesus (e bota inesquecível nisso), marcou época e foi responsável por uma mudança de paradigma no futebol brasileiro. |
E com tanta história, mesmo depois de várias vitórias e outras tantas derrotas, temos uma característica do Flamengo que sempre esteve presente, e no qual o time detém o monopólio da hegemonia: O Amadorismo. |
Nisso o Flamengo é hegemônico, e não dá nenhum sinal de que pretende perder tal característica. O sucesso de 2019 ensinou um sem número de coisas que os dirigentes fizeram questão de não aprender. O tratamento profissional dado ao elenco, a cobrança por resultados, o trabalho de profissionais gabaritados respaldado por resultados que foram acontecendo e a crença dos atletas que aquele trabalho os levaria a glória. Nada disso ficou no clube com a saída da comissão técnica em meados de 2020. |
Restou ao Flamengo os traços claros de amadorismo, que pode ser perfeitamente explicado com a queda física e técnica dos jogadores (muito provavelmente ocasionada pelos métodos de treinamento antiquados que se sucederam - com exceção ao trabalho feito por Rogério Ceni), dirigentes que cultivaram o sentimento de gratidão aos atletas (por conseguirem ganhos pessoais embalados pelos títulos recentes), contratação de ex-jogadores sem nenhum tipo de qualificação ou treinamento para ocupar cargos de gerência no futebol, contratação de amigos de jogadores e de dirigentes para ocupar funções técnicas (onde se exigiria um nível de excelência acima da média). Enfim, isso é apenas o que se sabe, e já é o suficiente para chegarmos à conclusão de que o Flamengo é um clube antiprofissional. |
Para se atingir um nível de excelência que leve o clube a resultados esportivos consideráveis é necessário repensar toda a sua estrutura esportiva. Não me parece que nenhum dos "profissionais" que lá estão apresentam a qualificação necessária para tornar o Flamengo um competidor de alto nível e alto rendimento. Em que pese os erros cometidos pelo treinador recém demitido Paulo Sousa, é nítido que a resistência por ele encontrada residiu no fato dos "profissionais" estarem habituados a um ambiente sem cobrança, sem metas, e que, ao se depararem com resultados insatisfatórios, estes mesmos trabalhadores (não vou me referir a eles mais como profissionais, por motivos óbvios) se agarraram aos resultados do passado para tentar ludibriar o presente. |
À parte da torcida que, do alto de sua arrogância e prepotência, vangloria-se do Flamengo ter atingido "outro patamar", esta temporada tem mostrado que o clube atingiu novos patamares em apenas um quesito: Amadorismo. Neste ponto o Flamengo tem sido insuperável, e bastante criativo e inovador para se manter hegemônico (visto que no Brasil quase todos os clubes adotam a mesma estratégia para vencer, a aleatoriedade e a sorte). Atingimos níveis de antiprofissionalismo jamais vistos no esporte de alto rendimento. O Flamengo sempre "orgulhou" sua torcida neste sentido. Isso é simplesmente lamentável!! |