LITERATURA GRUNGE, O QUE RAIOS É ISSO?

Apesar do que o nome insinua, Grunge não é só um subgênero do rock ou um jeito de se vestir, mas sim, está relacionado com ele de certa forma. 

Isso porque o Grunge Rock é um estilo musical que bebe da literatura Grunge, ou (Grunge Lit)

Colocando em uma narrativa linear: >> Grunge lit >> Grunge Rock

Literatura Grunge é um gênero literário surgido na Austrália aplicado à ficções e semiautobiográficas de suburbanos infelizes; não necessariamente da margem, mas do centro da cidade.

Foi um conceito que socio-economicamente surgiu junto com a classe média, (média-baixa) e mostrava um descontentamento em tudo; não o obviamente cruel, mas as infelicidades não-questionadas.

Os personagens de Drift Street, por exemplo, não mostravam heróis óbvios e inimigos claros, mas sim protagonistas imundos que eram tão sujos quanto o ambiente em que viviam. A forma que a história se encaminha não é de um desastre total, de um nós contra eles, mas sim de que tudo ao redor está errado, e que todos são anti-herois.

Durante o “baby boom” ocorreu a maior era de prosperidade dos estados-unidos. A moeda do mundo deixara de ser pesada em ouro e passa a pesar em dólar, a crise de 29 tinha sido superada, a Alemanha nazista derrotada, os comerciais de margarina transmitiam o

“sonho americano”

Todo mundo era feliz... até enjoarem de ser feliz.

Dois clássicos sobre essa era da América foram: Clube da Luta e Matrix. Onde o conformismo tomava conta e como ficou estampado: Trabalhamos em empregos que odiamos para comprar merdas de que não precisamos.

Resumindo: a principal diferença entre uma literatura crítica comum e uma literatura grunge é que o grunge se foca em “escancarar problemas” mas não em “propor soluções”. Geralmente é visto por radicais  ou mais críticos como uma “falta de posicionamento” uma certa “covardia do autor”

Isso acontece, no entanto, porque a literatura grunge é focada na linha filosófica do “existencialismo”

Cinismo, epicurismo, estoicismo ou super-homem do Nietzsche são exemplos dessa linha. Existencialismo também presente nas músicas das bandas grunge.

Essas filosofias identificam aceitam e apontam os problemas, mas não propõe como “cortar o mal pela raiz”, ou dar um passo-a-passo para transformar uma utopia em distopia. Elas preferem se focar no comportamento humano diante ás desgraças

Dois exemplos antagônicos que representam o completo oposto de uma literatura grunge são

O Capital de Marx, e A revolta de Atlas, de Ayn Rand.

O Capital diz: aqui está a raiz dos problemas, o capitalismo... E agora veja um passo-a-passo de como destruí-lo!

A Revolta de Atlas diz: aqui está a raiz dos problemas, o intervencionismo estatal... E agora veja como deve ser uma sociedade perfeita através do egoísmo e antropocentrismo (mas depois que você ler essas quinze páginas descrevendo exaustivamente uma janela)

Dois exemplos perfeitos de literatura grunge no desenho animado são:  Rick and morty e simpsons.

Em Rick And Morty a gente tem um pré adolescente punheteiro, um casal que já não mais se ama, em que o cara faz tudo de si mesmo sendo um fracasso e que engravidou a esposa para não perdê-la, evidenciando o novo relacionamento tóxico, não do homem tradicional e agressivo, mas sim do “macho beta” que sufoca a mulher e que não percebe sua toxicidade, como em 500 dias com ela; além de uma mulher que ainda busca aprovação do próprio pai, e em principal, o Rick, avô de Morty e mãe de Beth, um niilista que há muito tempo desistiu da bondade da vida e por isso perdeu a empatia, o homem mais inteligente do mundo,mas que se chateia em conhecer tanto, mas não a si próprio, episódios que constantemente mudam o alvo das suas críticas e não tem um inimigo claro, e que apesar de muito sci-fi, se destaca em neuropsicologia.

Em Simpsons a gente tem a representação da “família tradicional americana” porém sem o filtro ilusório das propagandas de cerca branca para o vizinho do lado. Um pai beberrão e preguiçoso, uma mãe que não dá conta de tanta pressão, uma filha nerd com muito potencial que não tem sua potencial devidamente explorado, um moleque que não é um “bullie”, mas está sempre aprontando, só pra chamar a atenção que ele nunca teve, devido ao foco que seus pais dão em sua irmã, um rio cheio de lixo tóxico, um patrão explorador, um vizinho extremista religioso, mas que apesar disso tem muita bondade; o tanto que Homer o odeia por ser chato e perfeito  representa o clássico  “gramado mais verde”. Mas apesar de ser um pai preguiçoso, ama seus filhos, apesar de ser um casal desgastado com três filhos, ainda faz sexo com frequência, uma mulher que apesar de suprimida pelo dever de casa é muito mais que isso, e que teve sonhos que não deram certo, dois irmãos que não se bicam, mas que apesar disso se defendem...

Bom... antes era assim, até a série começar a decair vertiginosamente depois da 12º temporada, onde a maioria dos escritores abandonaram o projeto, e o criador Matt Groening passou a focar no seu melhor projeto: Futurama. O principal defeito de Simpsons foi a estereotipização dos próprios personagens, um processo que foi conhecido na literatura em geral como “Flanderização”, mas isso é assunto para outro texto.

Recomendação de literatura grunge: Joker, Matrix, Clube da Luta, Quem quer ser John Malkovich, Laranja Mecânica, Psicopata Americano, South Park, Charlie e a fantástica fábrica de chocolate, O jogo da esquerda-e-direita, Penpal, Misery, Uzumaki, Cowboy Bebop, Serial Experiments Lain, Oliver Twist, 500 dias com ela, Fleabag, After Life, Drive, Mary And Max,  O Anticristo, Manual da solitária.o