Nele é tomada a liberdade de tornar os 4 contos do livro um único, transformando diferentes personagens e histórias em uma só consciência
Um relato baseado em ‘’Histórias extraordinárias de Edgar Allan Poe’’ |
Nele é tomada a liberdade de tornar os 4 contos do livro um único, transformando diferentes personagens e histórias em uma só consciência |
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Aqueles olhos, aqueles demoníacos e inexpressivos olhos! Me faziam ficar... louco? NÃO, eu não tava louco. A maior prova de que estava sobre plena consciência é como meticulei cada passo da morte, da morte vermelha. |
Meu estômago fazia uma festa enquanto a tensão me embrulhava, e eu sabia que se meu cérebro fosse um salão, cada região do meu córtex e cada traço da minha qualia seria de uma cor diferente. E assim como minha alma, seria exótica e assustadora. |
Eu queria.. queria não, eu DEVIA matar aquele velho inanimado, e não que ele seja um monstro, mas porque eu sou. |
Nos seus olhos refletiam um lado de mim que eu preferia fingir que não existe: Um lado que foi consumido pela bebida. Um lado que não ama os animais e que foi capaz de enforcar um. Um lado que já era tão apático que nem Deus e o Diabo poderiam julgar, pois eu era consciente da minha perversão, mas impenetrável ao remorso. Um lado que abomina alguém ser capaz de me amar; (esse ultimo eu não encontrava nos olhos do velho) |
Há semanas tudo foi planejado, pensei em como poderia fazer ele parecer: Esquartejado? Com fome? Envenenado? To te falando que eu não sou louco, já viu um louco calculista? |
Há uma certa arte em morrer, a morte é tão artística e poética quanto trágica, e eu conheço pessoas que seriam capazes de morrer pela arte. Certa vez em um aposento bem luxuoso que meu antigo criado me levara, eu encontrei o maior AMOR, o irremediável e irracional amor que alguém poderia ter por um conceito |
Acendo a meia-luz e peço pra que Pedro feche as venezianas para me aconchegar naquela gigante cama, e percebo que não estou sozinho. Vejo um retrato, aquilo era absolutamente lindo! Aquele quadro milimetricamente harmonioso formava uma jovem, uma jovem adulta em seu pós púbere, com olhos que pareciam que iam marejar de pena, e com uma beleza que mesclava pureza e maturidade. |
Bom, e, pra não entrar em muitos detalhes entediantes, um livro descritivo sobre cada pintura falava que a modelo dessa foto deu a vida para ser pintada, "dar a vida" não é a maneira mais certa de se denominar esse fenômeno, ela teve a vida roubada! O marido dela, pintor, a fez ficar tanto tempo posando a ponto dela morrer de sede. |
Essa história com certeza está em mais um cômodo da minha mente. A decoração dela é o mais vermelho possível. |
Onde eu estava mesmo? AH, LEMBREI! Tentando te provar que eu não sou maluco. Enfim.. se uma vida pode ser sacrificada poeticamente pela arte, se uma classe social de.1000 pessoas podem sobrepor uma cidade em ruínas, se meu gato enforcado pôde virar um pedestal sob chamas, me diz por quê ceifar a vida desse velho cego seria cruel? |
Quando olho de novo e de novo pros olhos dele, quanto mais perto chego, mais me enxergo no reflexo, e mais culpa sinto. Vejo a minha antiga impenetrabilidade voando como folhas, e minha autoconfiança caindo como uma catarata. |
Me desejem sorte... |