As duas palavras que explicam o Brasil
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As duas palavras que explicam o Brasil

Duas palavras - ou melhor, uma palavra inglesa composta - explicam por que as coisas tardam a dar certo no Brasil.

Leandro Narloch
3 min
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Caro leitor,

Ando fascinado com o potencial que estas duas palavras, ou melhor esta palavra inglesa composta – “rent-seeking” – explica o Brasil. Gravei um vídeo sobre isso para o Ranking dos Políticos, mas ainda é preciso deixar mais claro. O rent-seeking, a “caça a privilégios” é o fator número 000001 a explicar por que o Brasil não enriquece. Grupos de pressão ganham dinheiro não oferecendo serviços melhores que os da concorrência, mas pressionando políticos para conquistar proteção contra concorrentes, salários altos com pouco trabalho, e outros tipos de privilégios.

Me permita começar pelo básico, pela receita, testada e aprovada, de enriquecimento. Países enriquecem por meio de um ciclo virtuoso de investimento, geração de empregos, aumento da produtividade, redução do preço de bens e serviços (aumento do poder de compra) e lucros que geram mais investimentos, e assim sucessivamente. Foi isso que criou máquinas de classe média nos EUA e na Europa, ou que fez a China, depois de largar o socialismo na prática nos anos 80, tirar da miséria o equivalente a três populações do Brasil em 30 anos. (Incrível a esquerda, que se diz defensora dos pobres, não dar bola para essa receita.)

Para haver investimento, é preciso existir dinheiro para se investir, ou seja: poupança. Mas o Estado gasta demais. Antes da pandemia, o governo federal já custava mais de 3 trilhões de reais por ano – ou 41% de tudo o que o Brasil produz, sem contar o pagamento de juros. É mais que muitos países desenvolvidos e quase todos os emergentes. Em dez anos, o Brasil foi o país que mais elevou o gasto público em relação ao PIB. Assim o Estado empurra para baixo o nível da poupança interna: suga o dinheiro que poderia ser usado para investimentos.

Uma forma de resolver esse problema é o Estado gastar menos, claro. Por que não consegue cortar gastos? Por causa do rent-seeking, como explica o economista Marcos Mendes no excelente livro “Por que o Brasil cresce pouco”. Precisa atender aos grupos de pressão que lutam para manter privilégios: políticos que pedem R$ 5,7 bilhões para o fundo eleitoral, juízes, servidores que não aceitam perder um centavo em tempos de pandemia. Sem falar em subsídios, isenções tarifárias, carros oficiais, cabides de empregos em estatais e gastos que a Constituição tornou obrigatórios.

Outro ingrediente da prosperidade é a produtividade. Se um agricultor plantar 10 quilos de batatas por mês, este será seu salário máximo; se colher 10 toneladas, o teto do salário aumenta. A produtividade é o caminho inescapável para se elevar salários em qualquer lugar do mundo.

Como se aumenta a produtividade? Uma forma é pela livre concorrência. Ao ser obrigada a competir, uma empresa investe em inovação e tecnologia, faz de tudo para produzir mais com menos recursos. Mas eles – sempre eles, os grupos de rent-seeking – pressionam dia a dia para evitar a concorrência. Deputados tentam emplacar projetos de lei para proibir a abertura de mercado do transporte de passageiros (e assim manter o monopólio das grandes empresas) e outros três para proibir o governo a baixar alíquotas de importação, permitindo que as fábricas brasileiras não precisem se atualizar.

E assim o rent-seeking mina os dois ingredientes essenciais da prosperidade: investimento e produtividade. Alguns se dão bem, mas a custo da sociedade inteira.

Com uma classe média pouco desenvolvida e mal organizada, os interesses de pequenos grupos, de 0,01% da população, acabam prevalecendo sobre os desejos da maioria. Marcos Mendes acredita que a falta dessa classe média expressiva que torna o Brasil tão vulnerável aos grupos de pressão.

Redução de desigualdade, eliminação da miséria, riqueza, prosperidade, meritocracia: não tem como falar sobre isso sem antes reduzirmos o rent-seeking no Brasil.

Um abraço!

Leandro Narloch