A Fantástica Terra do Nunca.
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A Fantástica Terra do Nunca.

A Inevitabilidade do Destino.

Enrich Vasconcelos
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A Inevitabilidade do Destino.

Esse é o ponto que mais me chamou a atenção enquanto eu lia Peter Pan. Esse ponto específico, em muito associado ao Capitão Hook, carinhosamente apelidado de Ganchinho. Talvez o foco de J. M. Barrie não fosse este quando escreveu o clássico em 1904, mas da mesma forma que um livro pode ter diversos significados dependendo de quem o lê ou em que momento se lê, Peter Pan teve um significado especial para mim: você, de nenhuma forma, escapará do Destino.

Peter Pan é uma obra fantástica, uma maneira singular de um adulto retratar a mente de uma criança, mas as reflexões em mim despertadas enquanto lia a obra são tudo, menos infantis. Existem muitas coisas a serem comentadas, mas nesse texto, me prenderei á Destino. Em determinado momento da obra, somos apresentados ao Capitão Hook, um temido capitão pirata que assola e atormenta a Terra do Nunca, um lugar mágico existente graças a força da imaginação de milhares de crianças (sejam elas recém-nascidos ou adultos que nunca pararam de acreditar). Descobrimos a rivalidade de Hook com o menino que nunca cresce que dá nome á obra, e que seu gancho, orgulhosamente portado no lugar de uma mão, lhe foi dado após uma ferrenha batalha com o garoto, que cortou sua mão e deu-a de comer á um enorme crocodilo. Ao comer a mão, o crocodilo acabou por também devorar um relógio, que passou a funcionar continuamente dentro da criatura, sendo facilmente percebido por um "tic-toc" ininterrupto. 

Hook então se vê em um constante estado de pânico, pois todas as vezes que ele escutar o tiquetaquear se aproximar, sabe que o crocodilo, que parece ter ficado fissurado pelo gosto de Hook, está se aproximando. Em diversos momentos pode-se notar o quão atormentador é para Hook o simples som de um relógio, e, trazendo isso para uma analogia mais ampla, o quão isso se relaciona com a passagem do tempo. 

O Destino aqui é como um relógio suíço, pode-se esconder ele dentro de uma gaveta por séculos e séculos, pode-se submetê-lo aos mais variados tipos de condições meteorológicas, o Destino nunca se atrasa um segundo. 

Hook sabia disso, sempre soube. 

Um dos momentos mais marcantes para mim é uma conversa entre Hook e um de seus tripulantes. O capitão confessa que tem plena ciência que um dia a bateria de seu antigo relógio acabará, e que quando isso acontecer, será impossível para ele saber da aproximação do crocodilo. E que é esse momento que ele mais teme. Não os nativos da ilha com os quais ele vive lutando. Não as crianças que não crescem. Não o próprio Peter, que já lhe mutilou uma vez, mas sim o momento que ele tem certeza que chegará e que sabe não poder fazer nada para evitá-lo, algo que nem mesmo o poder da imaginação, tão soberano na Terra do Nunca, poderia parar. 

E ninguém sabia mais da inevitabilidade disso do que o próprio Hook, pois acredite, ninguém tentou fugir mais do que ele. Foram anos a perder de contas fugindo do crocodilo, zarpando ao primeiro sinal do tic, escondendo-se no primeiro sinal do toc. E no fim, ele não pôde escapar. O último tic que ele ouviu não foi do crocodilo, mas sim de Peter, que inconscientemente usou-se de seu medo para emboscar os piratas. Mas o crocodilo já estava lá. Gosto de acreditar que o crocodilo a muito tempo estava lá. O último toc nunca veio, mas o tempo já havia acabado, o Destino de Hook era inevitável, pois ele já estava próximo do Destino.