Durante o sorteio, lembro-me de achar esse grupo interessante quando as duas primeiras seleções, respectivamente com Bélgica e Croácia, foram sorteadas, visto que tínhamos a atual vice-campeã Mundial e, na minha opinião, a segunda melhor sele...
Durante o sorteio, lembro-me de achar esse grupo interessante quando as duas primeiras seleções, respectivamente com Bélgica e Croácia, foram sorteadas, visto que tínhamos a atual vice-campeã Mundial e, na minha opinião, a segunda melhor seleção da última Copa (Bélgica), que só não foi até a final pois enfrentou a França muito cedo no chaveamento, então este se desenhava como um possível grupo da morte para a competição. | ||
O complemento de Marrocos e Canadá foi um pouco decepcionante para essa expectativa, mas, enquanto avaliava a fase das seleções mais fortes e os nomes das seleções mais fracas, tive a impressão de que, talvez, o nível entre e a melhor e a pior delas não estivesse tão longe assim. Após as partidas, pensei que talvez eu estivesse certo. | ||
Marrocos x Croácia - Começo difícil | ||
Esse jogo, como todos sabem, está acontecendo no Qatar. Esse jogo aconteceu as 7hrs da manhã no Brasil, as 13hrs no Qatar. Provavelmente as únicas pessoas que queriam menos que os jogadores que esse jogo acontecesse era quem estava assistindo. | ||
Antes do jogo em si, falemos um pouco sobre a Croácia. A atual vice-campeã mundial não é, nem de longe, uma seleção unânime na opinião pública. Formada após a dissolução da Iugoslávia, a Croácia demorou algum tempo para começar a se tornar relevante no futebol mundial de seleções novamente, mas em 2018, uma forte geração estava junta, embora não necessariamente equilibrada. O desempenho excelente deles na fase de grupos, vencendo e convencendo nos 3 jogos contra Argentina, Islândia e Nigéria, nos fez esquecer que, até o início da copa, a seleção vinha encontrando dificuldades em lidar com a própria escalação, e essas dificuldades voltaram a aparecer no mata-mata, indo para a prorrogação nas oitavas, quartas e semifinais, tendo que decidir a vaga nos pênaltis em dois deles, até chegar na final. Embora apresentasse um futebol empolgante em alguns momentos, se tornou consenso que não era uma das 3 seleções mais fortes, agradecendo ao chaveamento por ter escapado de França, Bélgica e Brasil, que se destruíram no outro lado da chave enquanto ela tinha caminho "livre" para disputar sua vaga, sem um claro favorito que pudesse pará-la. | ||
Aquela Croácia já não existe mais, com peças importantes daquela campanha, como Rakitic e Mandzukic, não mais jogando pela seleção e outras peças relevantes, tais como Modrić e Perisić, já em etapas avançadas de sua carreira. A Croácia se tornou um seleção com bastante qualidade técnica e inteligência dentro de campo, mas, muito pela idade avançada de suas peças e a falta de renovação no elenco, não possui grandes opções de velocidade ou para quebra de linhas, tendo um time que combina grande porte físico com técnica. Um grande escudo, um belo arco, mas nenhuma flecha. | ||
Por outro lado, Marrocos é uma seleção surpreendentemente boa, principalmente em seu sistema defensivo. Seu goleiro, Bono, jogador do Sevilla, é um grande goleiro, ambos os laterais, Hakimi e Mazraoui, são excelentes e jogam também em bons times, no caso PSG e Bayern. Saiss e Aguerd, embora sejam uma dupla defensiva sem grande badalação, são pilares defensivos em seus times, respectivamente Besiktas e West Ham, o primeiro volante, Amrabat, fez excelente temporadas no futebol italiano pela Fiorentina. Para além disso, na ponta direita há Ziyech, um dos pilares do renascimento do Ajax alguns anos atrás, formando um lado direito fortíssimo de ataque enquanto mantém uma solidez defensiva em todas as áreas do campo. Os principais problemas dessa seleção seriam, primeiramente, a ausência de Harit no meio campo, jogador de qualidade que atribui muita dinâmica ao lado direito, conseguindo trabalhar bem com a dupla Hakimi-Ziyech e, por secundo, a falta de profundidade nas outras funções, sem reservas a altura dos nomes citados e sem nomes relevantes no complemento dos 11 titulares. | ||
Quando o apito deu início ao jogo, ele se mostrou mais interessante do que parecia ser, com a Croácia mantendo a posse, mas com Marrocos sendo muito agressivo em recuperá-la e bem vertical para atacar. Porém, com o passar dos minutos, Marrocos diminuiu a intensidade, pois percebeu que a Croácia não tinha a velocidade ou a infiltração necessária para quebrar sua formação em linhas baixas. No outro lado, a Croácia sabia que as jogadas mais perigosas dos marroquinos viriam do lado direito, tornando aquele lado especialmente bem cuidado, deixando Modrić do outro lado da formação para que ele não tivesse que se desgastar cobrindo o lado mais intenso de Marrocos. | ||
Com esses ajustes feitos, o jogo amornou bastante, me fazendo até mesmo tirar um gostoso cochilo, com lances perigosos vindo apenas de bolas paradas ou de lances de genialidade de Modrić em passes únicos. De fato, o destaque para Modrić que o fez ser escolhido como melhor do jogo não foram nem mesmo suas criações, mas sim seu trabalho enquanto marcador, que não chega a ser sua principal característica e, as boas chances criadas pelo mesmo, foram paradas pelo goleiro Bono, que fez uma partida excelente com várias defesas importantes. | ||
Com o empate, ambas terão que dar uma resposta no próximo jogo, com a Croácia pegando Canadá e, até onde consigo ver, tendo muita dificuldade com a intensidade da jovem seleção norte-americana. Já Marrocos enfrenta a Bélgica, um duelo duríssimo para quem quer continuar vivo na disputa. | ||
Destaques: Modrić (Croácia), Bono (Marrocos) | ||
Bélgica x Canadá - Erros custam caro | ||
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Bélgica e Canadá chegaram para essa partida em locais extremamente opostos. | ||
De um lado, uma seleção europeia que, por grande parte do século XX, se classificou para as copas, mas nunca teve tanto sucesso assim, chegando até mesmo a sumir da maior competição do mundo na virada de século, mas que, com o surgimento inexplicável de uma geração extremamente talentosa ao mesmo tempo, voltou a aparecer em copas e fazendo barulho. A talentosa geração belga, como ficou paródicamente conhecida, se espalhou pelos melhores times da europa, se tornando um elenco respeitável, embora nunca tenham conquistado nada. Em 2018, essa geração chegou com seu auge, sendo, em minha humilde opinião, a segunda melhor equipe daquela Copa, só atrás da campeã França, para quem foi eliminada. Durante aquela competição, teve alguns jogos lendários, passando em primeiro em seu grupo após vencer a Inglaterra, derrotando o Japão em uma virada épica de 3x2 e eliminando nosso Brasil naquele fatídicio 2x1. | ||
Porém a Bélgica que chega para essa Copa é bem diferente da de 4 anos atrás. Algumas coisas se mantém iguais, é verdade, Courtois, o gigante goleiro, teve muitas instabilidades durante esses 3 últimos anos, mas chega para essa Copa como o Melhor Goleiro do Mundo, depois de ter feito uma copa lendária em 2018. De Bruyne também chega em grande momento para essa copa, porém o resto do elenco teve importantes pioras, Vertoghen e Alderweireld não conseguiram ser substituídos adequadamente na tentativa de renovação e retornam para a seleção já bem longe de seus auges, Meunier decair enormemente e foi substituido por Castagne na ala direita, que apesar de apoiar satisfatoriamente bem, é um desastre na direita. Carrasco e Witsel, já envelhecidos, não conseguem mais desequilibrar jogos como faziam outrora, Eden Hazard, melhor jogador da última copa, não consegue mais render desde aquela semifinal, Batshuayi é um enorme downgrade em relação ao Lukkaku em seu auge de 2018. Até as opções de banco não conseguiram ser renovadas, dando a impressão de que o tic tac do tempo já passou para toda essa geração. A única renovação que funcionou foi a de Tielemans, que hoje é dono da faixa central de campo belga, mas uma andorinha só não faz verão. | ||
Já o Canadá passa por um redescobrimento do futebol, com uma geração forte depois de muito tempo e uma grande estrela em Alphonso Davies, Canadá chega a sua segunda copa, a primeira desde 1986, e já garantida na próxima edição por ser país-sede, a equipe norte-americana classificou-se em primeiro nas Eliminatórias da CONCACAF, desbancando México, EUA e Costa Rica em seu caminho. Lembro de, em algum momento próximo ao fim dessa competição, ter visto um Canadá e México e pensei: "Se Canadá conseguir jogar desse jeito contra 2 dos 3 times que ele cair no grupo, ele passa." Embora não tenha grandes nomes para além de Davies, é um time bem técnico e intenso, possuindo muita velocidade também. Quando os grupos foram sorteados, achei que eles não fossem representar perigo, mas que pelo menos seriam jogos divertidos. Eu estava 50% certo. | ||
O jogo começou e, rapidamente, Canadá tomou conta dele, com uma intensidade e controle que parecia sufocar a Bélgica que se viu ainda mais acuada quando, aos 10 minutos, é marcado um pênalti para o Canadá. | ||
Existe algo que é fundamental ser lembrado sobre a Copa do Mundo: ela não é uma competição comum. Não simplesmente chega-se em uma Copa e a toma para si, é algo que precisa de amadurecimento e esse amadurecimento só vem com o frequentar da mesma. A geração belga precisou falhar em 2014 antes de ir longe em 2018. O Brasil de 94-98-2002 precisou falhar em 90 antes de entender o que precisava fazer. E seria natural que o Canadá passasse pelo mesmo. | ||
Davies bateu o pênalti que foi brilhantemente defendido por Courtois, elevando a moral da Bélgica que, embora ainda estivesse sendo dominada, conseguia puxar alguns bons contra-ataques com Hazard e De Bruyne. Durante os 40 minutos do primeiro tempo, o Canadá conseguia chegar facilmente na área belga, mas em *todas* as vezes tomou a decisão errada. Chutando quando era para trabalhar a bola, driblando quando era para chutar, tentando passar quando devia conduzir. E aos 43, mesmo tendo errado dois lances seguidos de contra-ataque de maneira não comum de si, De Bruyne acha Batshuayi que abre 1-0. | ||
A partir daqui, a Bélgica pôde jogar como joga melhor. Defendendo-se com Courtois fazendo milagres ocasionais e puxando contra-ataques rápidos. Por volta dos 60 minutos, Canadá parecia ter sentido o golpe e não conseguiu fazer muito mais que isso. | ||
Para a sequência do campeonato, é importante para o Canadá se reestruturar mentalmente e tomar decisões melhores, quanto à Bélgica, quero ficar de olho no que eles vão mostrar daqui em diante, pois estou curioso se foi apenas uma questão do acaso ou se essa seleção está realmente mais fraca do que esperei. | ||
Destaques: Courtois (Bélgica), Tielemans (Bélgica), Davies (Canadá) |