O sorteio para esse grupo poderia ter sido poupado de transmissão. Tendo formado grupo em 2018, Brasil, Sérvia e Suiça se encontram novamente em um grupo de Copas em um espaço ridiculamente curto de tempo, desta vez tendo a adição de Camarões...
O sorteio para esse grupo poderia ter sido poupado de transmissão. Tendo formado grupo em 2018, Brasil, Sérvia e Suiça se encontram novamente em um grupo de Copas em um espaço ridiculamente curto de tempo, desta vez tendo a adição de Camarões no grupo. | ||
No momento do sorteio, o mundo não parecia prestar atenção no que estava acontecendo com o Brasil. As melhores seleções europeias pareciam voar em suas eliminatórias e haviam algumas seleções sendo sensações e chamando a atenção de todos, como Dinamarca, Itália e Portugal. A derrota na final da Copa América parece ter feito o Brasil ir para debaixo do radar, mas aqueles de nós que prestavam atenção sabiam o que estava acontecendo: o Brasil chegaria para essa Copa com, possivelmente, a melhor geração desde 2006, em desempenho até superando essa anteriormente citada. E, falando de um ponto de vista preparatório, pegou o grupo perfeito. 3 seleções fortes e que serviriam como testes adequados para se preparar para o mata-mata, onde o Brasil sempre tem obrigação de chegar, mas sem nunca colocar em risco nossa classificação. | ||
Sérvia e Suíça fizeram uma inversão durante esses 4 anos, com a Suíça tendo uma leve com o envelhecimento de suas peças e a não consolidação de outras, mesmo com o maior protagonismo de Xhaka no meio campo. Já a Sérvia viu novos nomes surgirem forte, tais como Vlahovic e Kostic, a medida que as bases da força da equipe se mantinha em boa forma, aqui representadas nas figuras de Mitrovic e Milinkovic-Savic. Camarões corria por fora, tendo boas peças como Onana no gol, Ekambi e Choupo-Moting no ataque, mas sem a mesma qualidade dos outros times. | ||
Suíça x Camarões - A única lei que funcina | ||
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Este jogo começou as 7hrs aqui no Brasil, mas diferente de outros jogos desse horário (estou falando de você Marrocos x Croácia), esse não foi um jogo preguiçoso. Ambos os time se entregaram bastante, principalmente no primeiro tempo, com disputas bem físicas pelo controle do meio-campo, que acabou por recair sobre a Suíça, com a maior capacidade de Xhaka nesse setor, mas as melhores oportunidades vieram por parte de Camarões, que utilizou-se de bolas longas para ativar seus principais jogadores de ataque, como em um lance aos 10 minutos, em que Mboumo bate os zagueiros Akanji e Elvedi na arrancada e finaliza com perigo para Sommer, grande (e bom) goleiro da Suíça, espalmar e, no rebote, Ekambi chutar para fora. | ||
O outro bom lance do primeiro tempo veio com, novamente, Mboumo, mas desta vez tabelando com Choupo-Moting para abrir espaço e enfiar Zambo Anguissa dentro da área, que esbarrou em mais uma boa defesa do goleiro suíço. A Suíça girava a bola, mas só conseguia se aproximar através de bola parada. | ||
Mas no segundo tempo, só de ver a maneira com que se posicionaram em campo, deu pra ver que os europeus voltaram diferentes, mais dispostos a trabalhar a bola de maneira técnica, evitando a fisicalidade que definira o primeiro tempo. E isso rapidamente deu resultado pois, com menos de 3 minutos, Vargas ligou para Xhaka que, abrindo na direita para Shaquiri, encontra sua principal ferramente de ataque e, em um cruzamento rasteiro e preciso, encontra Embolo na área. | ||
Existe uma "lei" no meio futebolístico bem famosa, conhecida como Lei do Ex. Basicamente, todo jogador que enfrenta seu antigo clube, seja em que momento for da carreira, vai fazer um gol contra ele. Eu não criei a regra. Eu não a ponho em prática. Eu só a divulgo e ela se prova certa em todos os momentos. Embolo joga pela Suíça, mas seus pais são de Camarões e seu país de nascimento também é. E a lei do ex não falha, nem mesmo com seleções. | ||
O estufar da rede, entretanto, não foi o sinal para uma efusiva comemoração em momento algum, com Embolo erguendo suas duas mãos em direção a torcida, sem vibrar com o próprio gol, um tradicional gesto de respeito para com seu ex-clube/país. Houveram outras chances, um inclusive bem parecida com o lance do gol, mas nenhuma outra lei estaria em vigor hoje além dessa. | ||
Suíça abre com um excelente resultado, pois com o resultado do outro jogo, se vê a frente de seu adversário direto em uma competição de tiro curtíssimo. Já Camarões se vê entre a espada e a espada, tendo que ir pra matar ou morrer nos próximos dois jogos. | ||
Destaques: Xhaka (Suíça), Embolo (Suíça), Mboumo (Camarões), Rodriguez (Suíça). | ||
Brasil x Sérvia - A Mágica e o imponderável | ||
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Dia 6 de julho de 2018. O dia que o Brasil foi duramente eliminado pela Bélgica, naquela que seria a melhor atuação brasileira durante a Copa de 2018. | ||
Desde então, o Brasil viveu momentos complicados, dentro e fora de campo. Peço permissão para ser um pouco menos analíticos aqui. Minha geração, nascida no final dos anos 90, provavelmente começou a ter consciência de futebol, e de coisas no geral, com o Brasil já sendo Pentacampeão do mundo e, ao se ter tantas, esquece-se o quão difícil é ganhar essa competição. Pelé, o maior da história do esporte, não ganhou todas que participou, embora tenha 3. E desde Pelé, o Brasil viveu uma seca de 24 anos (!) sem ganhar uma Copa, seca encerrada em 94. De brinde, ganhamos uma final a mais em 98 e mais um título em 2002. 3 títulos seguidos. O povo novamente vivia sua lua-de-mel com a seleção. E então vem 2006, com o quadrado mágico, dois atacantes sencacionais em Ronaldo e Adriano, o melhor lateral esquerdo do mundo em Roberto Carlos, Ronaldinho como melhor jogador do mundo e Kaká em franca ascenção para conseguir seu título de melhor do mundo em breve (seria 2 anos depois). Um grande fiasco, com Zidane e sua França nos eliminando E humilhando diante do mundo. E então veio 2010, e desta vez foi a vez de uma fortíssima geração holandesa nos tirar da Copa. Em 2014, com a Copa sendo sediada em casa e uma superestrela em ascenção na figura de Neymar, todos acreditaram no título, mesmo com uma geração bem abaixo de nossos padrões. Após as quartas, com a lesão de Neymar, ainda acreditava-se, se acreditava que a Alemanha era forte, mas que poderíamos chega a final. Eles nos mostraram 7 motivos de porque não poderíamos. Após isso, a já citada poderosa seleção belga foi a da vez. | ||
Após tantas decepções, é natural que parássemos de acreditar, como os torcedores de 90 também tinha dificuldade em acreditar após 20 anos. Depois que aquele presidente usurpou as cores da camisa da seleção, é natural que o simples mencionar da mesma causasse asco em algumas pessoas, eu que consigo separar muito bem essas coisas cheguei a sentir, por que outras pessoas não sentiriam? | ||
E se nós duvidamos da nossa seleção, como outros não duvidariam? Me surpreendi com diversos analistas europeus não colocando o Brasil e sua fortíssima geração como favoritos. Afinal, se eles usam o próprio futebol de clubes, de Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e etc como base para avaliar quem são os bons jogadores e quem não são, como se esqueceram da nacionalidade do jogador que deu o título da última Champions League ao Real Madrid? Se esquecem da nacionalidade do jogador que levou o PSG a sua primeira final de Champions? Porque pareciam se esquecer qual o país para onde olham quando precisam de jovens talentosos para reforçar seus clubes? Os europeus pareceram perder o medo do Brasil. Pois que se lembrem. Este jogo mostrou quem somos e agora eles sentem o peso do olhar do Abismo sobre si. | ||
Entre as seleções favoritas para chegar longe na Copa, o Brasil pegou o adversário mais difícil, sem babas como Austrália e Arábia Saudita (que para alguns nem parece tão fácil assim rsrs), sem times em ascenção como Gana ou Japão. A Sérvia é uma seleção consolidada, com um plantel profundo e talentoso, sendo provavelmente nosso adversário mais difícil desta primeira fase. Tendo um jogo extremamente físico e um forte jogo aéreo, suas características eram opostas a do Brasil, que tem na velocidade, técnica e habilidades suas principais características, seria um jogo bastante complicado. | ||
O Brasil veio com sua formação mais ofensiva possível, com Neymar, Paquetá, Richarlison, Raphinha e Vini Jr juntos. Já a Sérvia surpreender vindo bem mais defensiva do que o esperado, abrindo mão de Vlahovic na dupla de ataque para povoar o meio campo e sem Kostic, principal e única arma de velocidade do elenco. Assim sendo, o jogo começou como esperado, com o Brasil tentando jogar e a Sérvia usando de sua fisicalidade para parar. Em pouco menos de 2 minutos, já tínhamos 4 faltas. | ||
Os europeus chegaram duro, mas não conseguiram tirar a calma do Brasil, que pôs a bola no chão e, após os 15 minutos, passou a ser melhor, embora não tão bem quanto queríamos. Sempre queremos mais afinal de contas. Vini e Raphinha colocavam a lenta defesa Sérvia em desespero com sua velocidade enquanto Neymar, Paquetá e Casemiro circulavam a bola, tentando arranjar infiltrações, que até apareceram, embora não tivéssemos aproveitado-as. | ||
O primeiro tempo acaba com o Brasil dominando, mas sem conseguir marcar o gol e a Sérvia entregue. Especula-se uma substituição de Richarlison no intervalo, visto que não conseguiu participar no primeiro tempo. Mas o Brasil volta igual. | ||
E volta intenso. Raphinha consegue roubar uma bola dentro da área oponente com menos de um minuto do segundo tempo, mas perde chance incrível. A medida que o relógio passa, a aflição aumenta. Mas é nessas horas que o imponderável aparece. Neymar consegue driblar dois jogadores sérvios e a bola acaba sobrando para Vini Jr, que fuzila em direção ao gol, mas o goleiro pega. E aí, o homem que não tinha dado um toque na bola no segundo tempo, aparece. Richarlison abre o placar. | ||
Subitamente, o Brasil parece novamente disposto a acreditar, rapidamente espalham-se as notícias de quem é o Richarlison, suponho que um desconhecido para a maioria dos torcedores, e sobre tudo que ele defende, e ele rapidamente é abraçado pela torcida. E é então que a Mágica aparece. | ||
Vini novamente recebe na esquerda, acelera um passe de 3 dedos para Richarlison no meio, que domina mal e a bola sobe um pouco demais. Após o jogo vi que, há 6 dias atrás, haviam postagens dele treinando alguns voleios no perfil da seleção brasileira, e alguns comentários dizendo "quero ver fazer no jogo." Imagino o que se passou na cabeça dele. Seriam esses comentários? Seria o momento em que se lesionou algumas semanas antes da copa? Seria o momento em que, quando ganhou o Ouro Olímpico em Tokyo ano passado ele soltou um "o próximo título é no Qatar ano que vem, careca"? Ou iria ainda mais no passado? Tudo o que sei, é que ele poderia pensar nisso pelo tempo que quisesse, pois o movimento a ser feito a seguir já estava tão gravado em seu corpo que não havia necessidade de pensar sobre ele. É puro treino e Mágica. | ||
Quando a bola estufa as redes, o mundo se lembra da Mágica pela qual o Brasil é conhecido, pois a viu reaparecer, forte e bela como sempre. | ||
O Abismo engoliu sem dificuldades uma Sérvia que foi uma das sensações europeias e que chegou a colocar a badalada seleção de Portugal no bolso dentro do Estádio da Luz para mandar os portugueses para a repescagem. E agora que eles tem novamente os olhos em nós, é bom que não desviem o olhar, porque pode-se até não estarem mirando o abismo, mas o abismo está mirando eles. | ||
Destaques: Richarlison (Brasil), Vini Jr (Brasil), Casemiro (Brasil), Neymar (Brasil) |