Diário da Copa 08 - A distância do querer
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Diário da Copa 08 - A distância do querer

No momento do sorteio, lembro de ter dito, categoricamente, que este era o grupo da morte da Copa. 4 times que, pelo que não seriam grandes zebras se avançassem em primeiro do grupo ou se, em uma mínima alteração de equílibrio, terminassem em...

Enrich Vasconcelos
7 min
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No momento do sorteio, lembro de ter dito, categoricamente, que este era o grupo da morte da Copa. 4 times que, pelo que não seriam grandes zebras se avançassem em primeiro do grupo ou se, em uma mínima alteração de equílibrio, terminassem em último com zero pontos.

Mas naquele momento ainda havia muitas coisas incertas. Portugal vinha apresentando nomes promissores, com grandes estrelas vivendo seu auge em seus clubes, como é o caso de Bernardo Silva, Bruno Fernandes e João Cancelo, isto aliado á jovens promissores surgindo, tais como Rafael Leão e Otávio, e a experiência de um dos maiores goleadores da história do esporte. Tudo isso aliado parecia colocar Portugal bem a frente dos demais, mas o trabalho de Fernando Santos é tão instável que nem mesmo a classificação me parece certeza, embora ainda o veja como o melhor time do grupo capaz de vencer qualquer partida por simples individualidade. 

Uruguai seria o segundo melhor elenco, com peças interessantes e renomadas em todas as funções e, embora não tenha uma profundidade tão grande de talento, tem muitos nomes promissores, como o próprio Darwin Nuñez, porém o time vinha vivendo uma crise generacional, com as atuações dos novos nomes não sendo o suficiente para desbancar os antigos nomes, e estes nomes já acostumados à seleção já não desempenhando tão bem quanto necessitaria-se, aliado ao fato do treinador ter menos de 10 jogos  a frente da seleção, para mim, colocavam em cheque esta classificação.

Coréia e Gana corriam um pouco atrás, com suas principais estrelas vivendo grande momento, Heung Ming-Son e Ayew respectivamente, e sendo melhor treinados do que os outros dois times, por isso, ao meu ver, esse grupo teria pouquissíma diferença entre um time e outro. Acredito que estive certo durante essa semana.

Uruguai x Coreia do Sul - Estrelas turvas

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Uruguai chegou com uma cara bem diferente para este mundial. Primeiro, passou por muito mais dificuldades do que costuma ter, perdendo até mesmo o status de top-3 do continente para o Equador. E embora alguns nomes reaparecam na escalação, tais como Godín e Suarez, o meio de campo é já é totalmente formado pela nova geração, que diferente bastante da anterior pela sua apurada capacidade técnica, bem diferente do jogo extremamente físico anteriormente apresentado. O que mais preocupava em relação a seleção bicampeã mundial era a idade de alguns setores, como o centro da defesa que já está longe de seu auge e sem sinais de reposição, já no ataque, nomes como Suarez e Cavani dividem trabalho com o jovem Darwin Nuñez, mas o jogo lateral de pontas é quase inexistente nesse estágio do grupo. Com o meio campo sendo mais móvel, a equipe não fica tão pesada quanto normalmente era, mas a oscilação de suas principais peças preocupava o recente trabalho uruguaio.

Já na Coreia, a seleção é surpreendentemente boa para além de Son, estrela máxima do grupo. Rápidos, técnicos e organizados, com uma grande noção dos movimentos e espaços dentro de campo, dificultando em muito a vida do ataque uruguaio.

O jogo começou bem intenso, com ambos os times disputando cada centímetro de grama, mas com o tempo, devido a maior qualidade técnica do meio campo, o Uruguai passou a tomar conta do jogo. Porém a seleção coreana é extremamente agressiva, marcando alto e sem deixar o Uruguai trabalhar a bola calma, emperrando o jogo no meio campo. Com isso, as melhores chances do jogo vieram de bolas longas lançadas pelos zagueiros Gimenez e Godin, encontrando os pontas, seja Nuñez ou Pellistri. 

Do lado da Coreia, a velocidade era a principal arma, com caídas velozes pela direita, por ser o lado mais vulnerável pela ausência de marcação de Darwin. Mas Son esteve bem sumido durante esse jogo enquanto Valverde tomava conta deste lado do campo. Outro nome que vale a pena ser citado nesse jogo de poucas emoções para além duas bolas na trave do Uruguai (uma em um escanteio com Godín, outra com um chute de fora da área do próprio Valverde) é o de Darwin Nuñez, extremamente participativo, foi a principal arma capaz de quebrar a linha defensiva coreana, porém apresentando os mesmos problemas que começou a ter desde que chegou ao Liverpool em Julho: sucessivos erros na tomada de decisão e falha ao se conectar aos outros atacantes, neste caso, à Suarez e, posteriormente, Cavani. 

Por fim, um 0x0 indigesto para os uruguaios e até um pouco aliviante para o time asiático.

Destaques: Valverde (Uruguai)

Portugal x Gana - O nome pesa.

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Portugal saiu da Eurocopa com um status bem diferente do que chegou à essa Copa do Mundo. O trabalho do técnico português é criticado e, me arrisco até a dizer, ruim até aqui, tendo um elenco estelar em mãos e não o fazendo se sobressair, nem individualmente, nem coletivamente. Já Gana, com um trabalho recém-inciado, bateu times melhores do que si mesmo (Argélia) para chegar até a Copa, começando um pouco atrás das demais seleções em questão de preparação, mas a boa fase de Partey, líder desse meio campo, aliado à forte dupla de atacantes de Inaki Williams e Jordan Ayew davam esperança para o torcedor.

O jogo, de fato, começou bem ruim. Portugal jogava lento, parecia se acostumar as peças que estavam em campo. O quarteto de meio campo formado de Bruno Fernandes, Bernado Silva, Otávio e Rúben Neves é extremamente técnico, mas não conseguia superar a defesa Ganense que veio claramente para jogar pelo contra-ataque. As melhores chances do primeiro tempo vieram com Cristiano Ronaldo, que recebeu uma bola perfeita na cara do goleiro e, por erro próprio, não conseguiu o domínio. De cabeça ele também não conseguiu, chegando bem próximo de acertar o alvo em um cruzamento no qual ele deu um de seus já conhecidos saltos impressionantes. Cristiano Ronaldo parecia até nervoso, com todas as polêmicas extra campo parecendo incomodá-lo.

Já o segundo tempo foi totalmente diferente do marasmo do primeiro. Iniciou-se em um lance em que, por ser Cristiano Ronaldo em uma Copa do Mundo, o juiz marcou pênalti, mas que na opinião da grande maioria das pessoas, inclusive minha, não passou de um lance normal de jogo. Cristiano guardou, como é de se esperar dele, e se tornou o primeiro homem á marcar gols em 5 Copas do Mundo diferentes, algo totalmente histórico.

Após isso, Gana se solta um pouco mais e consegue, em um erro gigantesco de Danilo na zaga de Portugal, empatar com Ayew. Este mesmo Ayew é substituído logo após, com o time se fechando ainda mais na esperança de manter o resultado. Partey então, que parecia sentir o peso de jogar a copa do mundo e erra uma bola no meio campo, colocando Bernardo Silva em posição para acionar João Félix, que coloca Portugal novamente na frente. Minutos depois, Partey erra de novo e dessa vez é Rafael Leão, que por sinal NÃO pode ser reserva nesse time, fazer o 3x1. No fim do jogo, quando pensávamos que estava tudo decidido, fica tudo ainda mais maluco (lembrando que esses 4 gols saíram em um intervalo de 15 minutos), com Bukari diminuindo de cabeça, depois de mais uma jogada nas costas de João Cancelo, que fez partida bem abaixo mesmo para seus padrões defensivos. Na comemoração, Bukari fez o movimento característico do camisa 7 de Portugal, que do banco ficou claramente irritado. Com o jogo já em seu final (já passava dos minutos de acréscimos que o juiz tinha dado), uma bola é levantada na área e o goleiro de Portugal a agarra e fica uns bons 15 segundos no chão para gastar tempo, quando se levanta, esquece que um dos atacantes de Gana ainda estava em suas costas e solta a bola no chão. Quando o atacante viu a mesma tocar o solo, partiu alucinadamente na direção, mas um escorregão tirou dele a chance de empate. 

Ao fim do jogo, o goleiro Diogo Costa, que vive grande fase, parecia cabisbaixo com seu erro que quase lhes custou a vitória. Mas da mesma forma que o peso do nome Cristiano Ronaldo lhe deu um pênalti, esse mesmo nome utilizou sua influência para levantar os animos da equipe, afinal de tudo, é uma vitória em Copa do Mundo.

Destaques: Inaki Willians (Gana), Bernardo Silva (Portugal), Rafael Leão (Portugal)

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