BASE INTEGRADA DE CONHECIMENTO
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BASE INTEGRADA DE CONHECIMENTO

Difundir conhecimento salva vidas.

LÉO FARAH
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Passagem de informações às equipes que atuaram em Brumadinho.
Passagem de informações às equipes que atuaram em Brumadinho.

Conhecimento parado é conhecimento inútil. Sempre recorro à essa frase para mostrar a importância de passarmos à frente o conhecimento prático que obtivemos em operações. A teoria é muito importante sim, ainda mais em se tratando, principalmente, de situações de crise, onde o imprevisto, improvável e o incerto vão ocorrer. Por isso a área de gestão de crises, incidentes tem a necessidade de relatos fieis aos ocorridos, às tentativas, erros e pontos positivos e crítico de uma operações. Não é atoa que temos inúmeros relatos de ações durante a segunda guerra mundial, e eles tem grande importância no desenvolvimento de técnicas e estratégias empregadas nos dias de hoje a partir do que foi vivenciado.

Na área de engenharia, por mais que os modelos preditivos tenham algorítimos ultra desenvolvidos, o comportamento humano diante de uma situação catastrófica nunca será o mesmo. Uma pessoa que sobreviveu a um desastres com certeza se comportará de maneira diferente de outra pessoa que nunca vivenciou esta experiencia na vida. Uma pessoa que passa por treinamentos simulados de situações criticas, com certeza terá um comportamento diferente de quem nunca vivenciou algo parecido. 

Essa base de conhecimento deve ser difundida, disseminada e integrada com todos, e é isso que o Topico II do Padrão Global da Industria para a Gestão de Rejeitos nos trás:

DESENVOLVER E MANTER UMA BASE DE CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINAR PARA APOIAR UMA GESTÃO SEGURA DOS REJEITOS AO LONGO DE TODO O CICLO DE VIDA DAS ESTRUTURAS DE DISPOSIÇÃO DE REJEITOS, INCLUSIVE NA FASE DE FECHAMENTO.

Difundir esse conhecimento deve fazer parte do plano de negócios de um empreendimento. Quanto tempo demora para fechar uma mina? Crajás por exemplo tem mais de 50 anos, ou seja, muitos dos seus trabalhadores que fizeram a exploração inicial ja se aposentaram e outros não estão mais entre nós, e com eles o seu conhecimento e vivencia se foram. Por ser um empreendimento que dura muito tempo, e ser dinâmico (a mina tem vida própria) são poucas pessoas por exemplo que tem uma vasta experiência, e acumulam capital intelectual em fechamento de mina por exemplo, descomissionamento, ou até mesmo em gestão de acidentes no empreendimento. Diferente de um prédio, onde o engenheiro civil pode ser que construa ao longo de sua carreira centenas, um profissional da área de mineração não irá fazer centenas de implantações e fechamentos de minas.

Por isso a importância desse conhecimento ser difundido, com palestras, workshops, e uma cultura de registro de eventos que sejam atípicos e que sua periodicidade de acontecimento não seja tão comum. Esses eventos não devem ser ligados somente à área técnica, mas também a área ambiental e social. Atualmente vivemos um crise por conta de uma pandemia. Quantos relatos na história da mineração trataram de um acontecimento como este? Por isso é importante documentar e difundir as práticas, que deram certo e que na2o foram exitosas, nunca saberemos o qual valiosas essas informações serão no futuro, uma vez que uma planta de mineração, como vimos deve durar mais que muitos de nós.

Eu já visitei plantas que sofreram com pequenos sismos, outras que tiveram problemas de dolinamento próximo de suas estruturas, eventos muitas vezes raros e que acontecem com um empreendimento mas jamais acontecerem com outros. Isso é típico de incidentes com barramentos, alguns empreendedores nunca vão vivenciar isso, ja outros podem vivenciar ou serem chamados para ajudar em mais de um caso. 

Quando a barragem de Mariana rompeu, um dos funcionários que trabalhou no gabinete de crises se mostrou muito solicito e prontificado a responder à emergência, ajudou muito no gerenciamento da operação.  4 anos depois tivemos um problema muito parecido em Brumadinho, e uma das determinações que passei aos responsáveis da empresa foi que chamasse esse mesmo funcionário para ajudá-los, pelo simples fato de que ele ja havia vivenciado e experimentado as mesmas situações. É como o médico que faz uma cirurgia rara, se um novo caso surgir, provavelmente irão procurar esse mesmo profissional. 

Relatar todos estes problemas, inclusive de tipos de falhas e prevê-los é fundamental para que haja um cultura prevencionista e de disseminação de conhecimento. Importante também que não é exagero prever o pior cenário possível para planos de contingência, pois o que se altera em termos de recursos humanos e logísticos é ínfimo perto do ganho operacional caso um evento venha a ocorrer.

A partir de uma difusão de uma boa base de conhecimentos poderá se realizar uma cultura focada na gestão de riscos muito mais palpável do que supor dados e ações que não vivenciamos e muitas vezes desconhecemos.

  • LEONARD DE CASTRO FARAH - CAPITÃO DOS BOMBEIROS. 
  • BACHAREL EM CIÊNCIAS MILITARES.
  • MESTRE EM ENGENHARIA GEOTÉCNICA DE DESASTRES - UFOP.
  • PÓS GRADUADO EM GESTÃO DE EMERGÊNCIAS E DESASTRES.
  • DISASTER MANAGEMENT SPECIALIST - JICA TOKYO JP.
  • LEADERSHIP AND HIGH PERFORMANCE TEAM SPECIALIST -HARVARD BUSINESS SCHOOL.
  • ESPECIALISTA EM REDUÇÃO DO RISCO DE DESASTRE - ONU OCHA.
  • ESPECIALISTA EM GESTÃO DE DESASTRES - UNESCO.