Gerenciamento de Crise: Razão x Emoção.
1
0

Gerenciamento de Crise: Razão x Emoção.

Eclodiu a crise, e agora? Será que você está se preparando da maneira correta?

LÉO FARAH
5 min
1
0

A barragem rompeu, alguém se machucou no alto forno, uma pessoa do time suicidou, demissão em massa. Eu poderia ficar dias escrevendo aqui sobre fatores que podem eclodir uma crise em uma companhia, mas deixo com você leitor a função de escrever abaixo o que mais te afetaria.

Uma crise se instala principalmente pelo fato de que algo INESPERADO aconteceu. E digo inesperado não por não ter passado na mente de alguém que isso poderia um dia acontecer, mas porque a maioria das empresas trata a crise com data e hora programada. EXPLICO:

Primeiramente cabe esclarecer a todos que a crise é um incidente (vale você perceber que não está escrito acidente) complexo, confuso, dinâmico e de alto risco, que eclodiu sem que ninguém estivesse esperando, que não tem data nem hora para iniciar, mas que em um momento, vai acabar (mesmo que você não faça NADA), e que afeta as pessoas de dentro e/ou de fora de uma organização.

Email image

Então vamos para um rápido conceito sobre a gestão de crise. Você na tentativa de preparar seu time para uma crise reúne a equipe, marca um café da manhã, distribui cartaz por toda empresa, marca horário exato para todos os colaboradores estarem presentes, faz a conferência se todos estão prontos, chama de antemão os órgãos externos para participar de uma simulação e no horário exato dá o START para iniciarem o atendimento. Ocorre tudo maravilhosamente bem. Vocês aplaudem a realização de um simulado sem incidentes, o consultor externo (que na maioria das vezes atendeu crises somente no seu casamento) fala que a equipe está bem preparada para “O QUE DER E VIER”.

Então vou te contar a realidade:

No dia que realmente for acontecer o incidente, o gerente de crises e emergências saiu atrasado para levar seu filho ao colégio, e no dia anterior teve uma briga tensa com sua esposa. Chega no trabalho já preocupado pelo atraso e tem um relatório importantes para entregar. Até as 12:00. Se enfia no escritório sem falar com ninguém e ver se todos do seu time estão bem. Só que as 11:45 uma barragem rompe ou uma pilha de estéril soterra um grupo de trabalhadores, ou um alto forno explode, ou uma grua quebra com trabalhadores dependurados ou o QUE VOCÊ QUISER IMAGINAR, até mesmo uma ordem do governo onde todos tem que ficar em casa. O mundo real não é conto de fadas e está mais para um filme de ficção que ninguém poderia imaginar que aquilo aconteceria. É só ouvir os relatos reais: Era um dia comum, MAS, parecia que tudo estava dando errado.

Essa é a fórmula do caos, o seu gerente que está sem comer, sem dormir, com a esposa que não para de ligar 1 minuto, com a preocupação que tem que pegar o filho na escola no final do dia, ainda se preocupa pelo fato de que um dos seu amigos de trabalho estava envolvido no incidente e morreu, acaba  não fazendo nada do que foi planejado no simulado, porque todas viaturas dos órgãos externo estão empenadas em outras operações QUE NÃO DEIXAM DE ACONTECER, e o seu consultor, que está acostumado a resolver crises no metaverso, quando chega na empresa desmaia ao ver sangue, ou tem vertigem de altura.

Bom, é fácil perceber que é isso que ocorre numa crise, gostaria muito de ouvir mais experiências de pessoas que passaram por isso, mas não ouço sabe porque? A cultura de não falar sobre o ocorrido.

-ESQUECE isso é passado!

-Agora é daqui para frente.

Esse é o erra que mata. Não falar sobre suicídio, não ensinar sobre salvamento em soterramento, não fazer um “simulado surpresa” (mesmo que seja um table top). Mas Farah, a legislação exige que a gente chame os órgãos responsáveis e avise a comunidade. Então te pergunto:

-Você quer cumprir a legislação ou preparar sua equipe?

Cumprir o que a legislação exige não é um erro, o erro é colocar somente pessoas emocionalmente ligadas ao ambiente de crise para resolvê-la, erro é achar que o evento não vai acontecer de madrugada ou no réveillon, erro é pensar que os órgãos de segurança estarão sempre à sua disposição para resolver o problema que é na verdade é seu. Erro é não falar todos os anos na mesma data do acidente o que aconteceu aquele dia. Até quem não faz nada sai de uma crise, mas as consequências, danos e prejuízos podem ser bem diferentes. Seu time de resposta a emergências e desastres tem papel fundamental nessa equação conforme o gráfico abaixo.

Email image

Eu tive a experiência de fazer um curso de gestão de desastres no Japão, e o que mais me surpreendeu é a capacidade do japonês de transformar todo evento crítico em um museu. Dos deslizamentos mais simples que matam uma família inteira e a casa fica intacta, para que os moradores se lembrem de não construir em áreas de risco, ao museu do Holocausto onde uniformes e bicicletas de crianças são exibidos para ver o horror da guerra.

Email image

O que precisamos pensar é que a cada dia que passa estamos mais próximos da crise que ainda vai acontecer. Mas muitos aqui no Brasil preferem não falar no assunto, preferem fazer o que o papel manda, preferem o guru especialista de obra pronta, achando que o dinheiro resolve tudo, sem se lembrar que ele não trás a vida de volta ou tratar como águas passadas enquanto há ainda muita água para passar debaixo da ponte.

  • LEONARD DE CASTRO FARAH - CAPITÃO DOS BOMBEIROS. 
  • BACHAREL EM CIÊNCIAS MILITARES.
  • MESTRE EM ENGENHARIA GEOTÉCNICA DE DESASTRES - UFOP.
  • MESTRE EM ENGENHARIA DE DESASTRES - UNIVERSIDADE DO CHILE
  • PÓS GRADUADO EM GESTÃO DE EMERGÊNCIAS E DESASTRES.
  • DISASTER MANAGEMENT SPECIALIST - JICA TOKYO JP.
  • LEADERSHIP AND HIGH PERFORMANCE TEAM SPECIALIST -HARVARD BUSINESS SCHOOL.
  • ESPECIALISTA EM REDUÇÃO DO RISCO DE DESASTRE - ONU OCHA.
  • ESPECIALISTA EM GESTÃO DE DESASTRES - UNESCO.
  • CONSULTOR EM GEOTECNIA, EMERGÊNCIAS E DESASTRES;
  • CO-FUNDADOR DA HUMUS;