O PAPEL DO GESTOR DE CRISE E O DILEMA DO BOTÃO VERMELHO
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O PAPEL DO GESTOR DE CRISE E O DILEMA DO BOTÃO VERMELHO

Você não gerencia o que você não conhece, e o que você não conhece pode te matar!

LÉO FARAH
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Você não gerencia o que você não conhece, e o que você não conhece pode te matar!

Geralmente começo meus cursos e palestras de gestão de crise com essa frase pois, as pessoas sempre pensam, o pneu não vai furar comigo. Mas e se furar? A mente de um bombeiro, diferente de outras pessoas é condicionada a pensar no pior, e quando o pior acontece, ele tem que saber como corrigir o erro ou então como evitar para que "o incêndio não espalhe". A bem da verdade é que nós nunca chegamos em um local de incêndio, no seu  principio, geralmente chegamos quando o fogo está fora de controle e para isso temos que ter em mente o que é um incêndio perdido.

Incêndio perdido é o local que ja foi queimado, e não adianta você "jogar" água , pois o fogo ja consumiu todo material ali. Por isso nos preocupamos em isolar, para que o fogo não se espalhe, ou seja, nos preocupamos em não causar mais danos do que o que já ocorreu ali. Uma pessoa que não conhece de combate a incêndios, que não tem o treinamento necessário, pela alta descarga de adrenalina, geralmente irá tentar apagar o fogo no local que consegue chegar próximo,  e quem tem mais chamas, mas o calor e a falta de experiência farão com que ele, antes, valente, recue e fuja daquele local.

Isso ocorre no seu cotidiano com situações imprevistas ou que dão errado. Se o café derramou na sua blusa, não adianta ficar nervoso, esfregar a blusa, e xingar o colega que derrubou, o que adianta é trocar de blusa. Se o pneu do seu carro furou, e alguém que esta atrás buzinou e te xingou, porque você deu uma freada brusca, não adianta xingar de volta, isso não vai trocar o pneu, o que vai trocar o pneu é parar no acostamento, sinalizar o local, pegar o estepe e... trocar o pneu. Ou seja, manter a calma e fazer o que tem que ser feito. Com certeza um borracheiro terá mais experiencia que você em uma situação simples, corriqueira como esta mas que tira muita gente do sério.

Isso acontece porque quando algo sai do nosso controle, entra em cena uma glândula chamada  pineal, que é responsável pelos instintos de luta ou fuga do nosso organismo. Ela nos coloca em estado de alerta, aumenta a descarga de adrenalina do nosso corpo, nosso coração acelera, as pupilas dilatam, as mãos começam a suar e você reage à uma situação que você desconhece, ou a algo inesperado. Os instintos de luta ou fuga, fazem com que uma mãe tire forças do além por exemplo para levantar um carro que atropelou seu filho, ou que essa mesma mãe pule em uma piscina e salve seu filho mesmo sem saber nadar. Mas ela é responsável por um sistema de reação "sem pensar", por isso muitas pessoas reagem a assaltos que terminam em tragédia, tanto assaltante quanto assaltado reagem e a história não termina bem. Principalmente se você está emocionalmente envolvido com isso.

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Aqui entra o papel do gestor de crise.

Em vários filmes e desenhos sempre vemos uma situação complexa sendo ilustrada com uma decisão de alguém apertar um botão vermelho. O problema não é nem saber qual botão apertar, mas ter a calma necessária para apertar o botão vermelho.

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Ninguém constrói um avião ou um prédio para cair, mas eles caem. Fato é que, mesmo sabendo disso as pessoas não se preparam para os imprevistos, mesmo sabendo que eles acontecem. 

No Brasil estamos longe de ter uma cultura prevencionista e anos luz de que as empresas tenham uma pessoa responsável pela  de gestão de crises.  Quando estive no Japão em 2017 participei de uma palestra onde o expert em gerenciamento de desastre nos apresentou o seguinte teste:

Em uma usina de nuclear havia uma mesa com vários comandos e um botão vermelho de emergência.  Caso acontecesse qualquer problema com a usina, soaria um alarme e o botão vermelho deveria ser apertado em até 15 minutos, por alguma pessoa treinada da companhia. Eles realizaram no período de 1 ano, 10 exercícios simulados sem avisar os funcionários. Durante todos os exercícios simulados as pessoas responsáveis pela gestão de crise, abandonaram a companhia sem apertar o botão vermelho. 

Foi quando decidiram contratar uma equipe, de fora da empresa para fazer a gestão de desastres da companhia. No ano seguinte mais 10 simulados foram realizados e os responsáveis pela gestão de crise acionaram o dispositivo sempre com menos de 15 minutos de antecedência.

O valor  de um gestor de crise  não está em saber que tem que apertar o botão vermelho, esse profissional muitas vezes é extremamente caro por ter vivenciado várias  situações, participado de vários treinamentos e adquiridos com anos de experiência  a calma  para apertar o botão vermelho.

Chegaram a conclusão que pessoas alheias ao problema ou que não tem envolvimento emocional com a situação tem uma maior capacidade de resolver uma situação caótica, tratando o mesmo de forma racional e não emocional.

Em um mundo ultra conectado, onde uma criança de 5 anos tem mais informações na palma da mão do que Alexandre O Grande, rei da Grécia, o que mais vejo são soluções médicas dada por não médicos, soluções legais do âmbito jurídico por quem se quer sabe diferença de hierarquia das leis, e até mesmo bombeirólogos de plantão que dão palpite sem nunca ter entrado em um incêndio. A internet deu "poder" de conhecimento aos tudólogos que estão sempre a postos a dar palpite em todas as áreas. Mas o grande problema é que uma crise não começa quando o incidente acontece.
Ela exige preparação, avaliação de cenários muitas vezes inimagináveis (do tipo algo que não foi feito para cair, cair), treinamento constante, para que se possível, nunca se acione uma equipe de gestão de crise.

Eu mandaria vocês anotarem caso fossem uma palestra ou aula, mas em tempos modernos vocês podem "printar". Essa não será a ultima pandemia, e provavelmente você que está lendo vivenciará outra. As pessoas e  empresas mais uma vez sairão correndo antes de apertar o botão vermelho. Pois sempre pensam que e

Esse é o papel do gestor de crises , ter a calma necessária para apertar.... QUAL BOTÃO MESMO?

  • LEONARD DE CASTRO FARAH - BACHAREL EM CIÊNCIAS MILITARES.
  • MESTRE EM ENGENHARIA GEOTÉCNICA DE DESASTRES - UFOP
  • PÓS GRADUADO EM GESTÃO DE EMERGÊNCIAS E DESASTRES.
  • DISASTER MANAGEMENT SPECIALIST - JICA TOKYO JP
  • LEADERSHIP AND HIGH PERFORMANCE TEAM SPECIALIST -HARVARD BUSINESS SCHOOL
  • ESPECIALISTA EM REDUÇÃO DO RISCO DE DESASTRE - ONU OCHA
  • ESPECIALISTA EM GESTÃO DE DESASTRES - UNESCO