NÃO SE FAZ MILAGRES
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NÃO SE FAZ MILAGRES

Entra ano e sai ano muito se fala sobre o planejamento no futebol brasileiro. Programas esportivos dedicam longos minutos das suas intermináveis mesas redondas para dar cabo à discussão. Termina sempre num consenso sobre a inexistência dess...

Lucas Luiz
3 min
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Entra ano e sai ano muito se fala sobre o planejamento no futebol brasileiro. Programas esportivos dedicam longos minutos das suas intermináveis mesas redondas para dar cabo à discussão. Termina sempre num consenso sobre a inexistência dessa ideia platônica, romântica, uma lenda do folclore nacional - mais parecido com um fetiche jornalístico que algum dado verificável da realidade concreta.

E como exemplos negativos se amontoam, uma espécie de Torre de Babel de atitudes impulsivas por parte dos dirigentes, usemos o mais em voga nesse instante (sempre prestes a perder o posto) que é o do Corinthians. Não me atentarei aos detalhes de balanço, a "Taça Superavit" tem seus adeptos, é tão cara à alguns (leia-se Mauro Cezar Pereira), e está sempre a ser destrinchada com estranha empolgação. Mas, sim, da pífia coordenação da diretoria neste início de temporada.

Era nítido para todos o desgaste de Sylvinho no comando do timão ao término do Brasileiro de 2021. O quinto lugar salvou de alguma forma (pelo sucesso dos rivais em outras competições) o planejamento financeiro para esse ano, mas deixou, também, na boca do torcedor um sabor agridoce pelas repetitivas atuações medianas. Se se tornou inviável a disputa do caneco ainda cedo, tampouco sofreu grandes ameaças com relação ao festival de vagas para a Libertadores, o que viabilizaria as tentativas de praticar um jogo diferente, vistoso, mais próximo às características dos reforços de peso recém-chegados.

Como prêmio a mediocridade - esse fenômeno brasileiro por natureza - Sylvinho ganhou a chance de trabalhar a pré-temporada para ser demitido no primeiro confronto de verdade, logo na terceira rodada, derrota para o Santos e a necessidade - pasmem! - de correção de rota.

À partir daí um pouco mais de tempo perdido na busca dessa epopeia moderna, o caminho das Índias às avessas, atrás do treinador com sotaque ideal. Vitor Pereira desembarcou com ideias claras e encantadoras, futebol propositivo, posse de bola e marcação no campo do adversário, mas com um Majestoso há três dias. Sem tempo para fazer mudanças significativas, tomando um gol antes do primeiro minuto, viu a disputa se condicionar e, apesar do revés, demonstrou, ao menos, tantas de suas propostas no Morumbi. Bastou para dar esperanças ao corinthiano. Com uma semana de treino passeou em Itaquera frente a fraquíssima Ponte Preta, numa apresentação de gala, antes de deparar-se com o derby, também, fora de casa, assim como a sua estreia.

O Corinthians demonstrou-se incapaz de se impor ante uma equipe pronta, de trabalho estabelecido, o suficiente para gerar um murmurinho aqui e acolá, previsível, embora sem grande impacto senão os resquícios normais de uma derrota em clássico. Se Vitor Pereira trouxe alguma noção vaga e teórica da importância vital desse embate, o resultado deve ter lhe doído à pele, um choque de realidade cujas emoções inefáveis encontram-se compiladas na famosa expressão: você não sabe o que é um Corinthians e Palmeiras. Contudo, as cobranças devem ser direcionadas somente aos cartolas, pela exagerada gratidão, digna de adeptos à nova era, que prolongou o vínculo com um treinador fadado a cair na primeira intempérie e comprometeu a pré-temporada (o paulistão inteiro) que serviria para implementação completa desse novo modelo, encurtando a distância aos três principais elencos do país.

Resta-nos ter paciência e acreditar no processo. Milagres não existem e prova disso é o sonho distante e insistente de qualquer dia se ver realizar um mísero planejamento sequer.