Em 2019 o Flamengo vivenciou algo só vivido na década de 1980, mas há pouca similaridade entre esses dois momentos fantásticos. Na verdade posso afirmar como testemunha viva de que foi muito, mas muito diferente. O time que se transformou no ...
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Em 2019 o Flamengo vivenciou algo só vivido na década de 1980, mas há pouca similaridade entre esses dois momentos fantásticos. Na verdade posso afirmar, como testemunha viva, que foi muito, mas muito diferente. O time que se transformou no maior e mais vitorioso da história do futebol do clube foi construído aos poucos, quase como que se educa um filho. O principal pilar foi a geração de ouro de jogadores formados na base, cada um sendo lapidado e preparado de forma a amadurecer no seu tempo: Leandro, Junior, Andrade, Adílio, Tita, Mozer e sim, Zico. A eles se somaram algumas pontuais contratações, entre elas Carpegiani, Nunes, Lico e Marinho. | ||
Alguns desses caras perderam pênaltis em partidas decisivas contra o arquirrival Vasco, foram chamados de "pipoqueiros", frágeis emocionalmente, etc … Até que depois de um certo gol de cabeça aos 43 minutos do segundo tempo em final de Campeonato Carioca, feito pelo zagueiro Rondinelli (também oriundo das divisões de base), foi aberto o caminho para o que depois virou história. Tanto que seus principais personagens são hoje estátuas e bustos na entrada da sede social do clube. | ||
Mas se você não viveu aquela época, pode achar que após o gol de cabeça do Rondinelli contra o Vasco em 1978 os títulos mais relevantes tivesses começado a jorrar logo em sequência. Engano seu … Já no auge, esses mesmos caras tomaram de 4 pro Palmeiras em pleno Maracanã e viram a chance do Flamengo conquistar seu primeiro campeonato brasileiro escorrer pelas mãos. Ou seja, levaram quase toda a década de 1970 para que pudessem apresentar toda aquela exuberância que se transformou em uma das maiores e mais brilhantes hegemonias do futebol brasileiro. | ||
Voltemos então para 2019, quando foram contratados de uma tacada só: Diego Alves, Rafinha, Rodrigo Caio, Pablo Mari, Gerson, Arrascaeta, Gabigol e Bruno Henrique. Quase o time inteiro junto com um treinador português. Em 2 meses de trabalho vimos um time espetacular trucidar a tudo e a todos de uma forma mais avassaladora do que o Flamengo de Zico dos anos 1980. Parecia impossível, mas o fato era: o que no passado levou quase uma década para ser construído, ali materializava-se em ridículos 2 meses. | ||
Seria isso possível ? | ||
2019 iria quebrar paradigmas ? | ||
Ficamos mal acostumados, acreditamos em mágica, em bruxos portugueses, uruguaios, etc … | ||
O time de 1980 era sólido, sabia passar por momentos difíceis, perdas dolorosas, mas sua solidez não permitia desmoronamentos que abalasse a estrutura central. É aí que o período de maturação faz a diferença. O time de 2019 fez todos acreditarem em mágica, e vai … era pra acreditar mesmo … Mas vamos lá: em pleno maio de 2022 já dá pra entender que mágica não existe, que esse elenco não é suficientemente sólido para se manter no topo e que Jorge Jesus não é um bruxo e não resolveria hoje todos os nossos problemas. O elenco envelheceu, não somos mais os melhores. Depois de Jorge Jesus, o JJ, estamos no quarto técnico e em comum entre eles a quase unanimidade de que são todos fracos e não conseguem fazer jogar um elenco exuberante. Será que não dá pra desconfiar não ? | ||
Vamos agora por o foco na carreira do JJ. Uma simples pesquisa vai te mostrar que JJ teve apenas 2 grandes trabalhos em mais de 30 anos de carreira, sendo um deles em 2019. Vanderlei Luxemburgo por exemplo, hoje descartado até por times de série B, teve inúmeros grandes trabalhos aqui no Brasil. Esse portfólio lhe garantiu ser contratado como técnico do Real Madrid. Jesus tentou ir para um grande centro e nunca conseguiu. Aquela conjunção de astros foi incrível e caberá uma análise dos motivos em outro artigo. Mas só pra deixar claro: mágica não existe, e o que nos falta está longe de ser um feiticeiro. Hoje não há Guardiola, Klopp, ou qualquer outro de sua preferência que faça milagre no Flamengo, pois o problema aqui é estrutural e o elenco é superestimado. E mais, todos tem uma espécie de “aposentadoria em atividade”, com contratos longos e salários astronômicos. Essa é a receita para a acomodação, a mesma que se vê em campo. | ||
"- Falta fome!". | ||
Essa foi a melhor frase do Paulo Souza nesses seus quatro meses de Flamengo. Ele pode ser fraco, limitado, teimoso ou seja lá o que for, mas percebeu muito bem um dos pilares do problema. A apetite de 2019 não existe mais. | ||
Só que na base disso tudo temos muitos outros problemas que se antecedem e contribuem direta ou indiretamente com essa falta de apetite. Não temos mais fisiologia e departamento médico compatíveis com as ambições do clube, não temos um diretor de futebol que blinde e de respaldo para a comissão técnica, seja ela qual for. Resumindo, somos muito mal geridos. Alianças políticas grotescas, projetos políticos pessoais acima do clube e pior, usando o prestígio e poder da "caneta" do clube. Com isso passamos a ver o Flamengo nas colunas de cientistas políticos. | ||
Na última segunda-feira como quem segue se espelhando no governo federal, nossa cúpula matou a democracia rubro-negra ao aprovar a inclusão da categoria de sócios Off-Rio com limitação de 1 mil associados. Um golpe na Nação. Te sou familiar isso com o momento atual do país ? | ||
Pois é … Parecia que depois de 2019 tudo seria fácil, tudo chegaria fácil para o Flamengo. Não é, nunca é, especialmente no Flamengo. | ||
Precisamos agora tomar cuidado para que um cometa que levou pouco menos de 1 ano pra passar não comprometa as próximas décadas do Flamengo, da mesma forma que aconteceu depois dos tempos do Zico. | ||
Tenho 56 anos e não vou poder esperar mais 30 anos pra ver outro time hegemônico, ou outro cometa passar. | ||
É hora de renovar, fazer a fila andar, esquecer o compromisso com o protagonismo em 2022, pois ele não parece que vá se concretizar agora. Nesse instante é hora de plantar. Isso requer paciência para poder esperar o tempo certo da colheita. Se pensarmos assim vamos tirar prazer de mínimas evoluções, ao invés de ficar trocando de treinador a cada crise de desilusão. E vamos lá: se é pra trocar, a hashtag que se deve subir é #ForaLandim e sem medo de ser feliz. | ||
Feliz 2023! |