A alfabetização é o 1º contato da criança com a educação formal. Conhecer a metodologia correta para alfabetizar e organizar o ensino é fundamental.
A alfabetização é o 1º contato da criança com a educação formal. Conhecer a metodologia correta para alfabetizar e organizar o ensino é fundamental. |
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Não é apenas importante, como essencial escolher uma metodologia de ensino adequada para ensinar uma criança a ler. Isso porque uma boa metodologia reúne as melhores práticas para o ensino da leitura e deve ser baseada na premissa mais importante para aprendizagem correta: |
“Aprender a ler não é natural, portanto não se aprende a ler, lendo. Para aprender a ler alguém precisa ensinar e para ensinar a educadora deve compreender todo o processo da alfabetização”. No artigo “não nascemos programados para ler” (disponível aqui) essa premissa foi profundamente fundamentada. |
Importante que você fique ciente que nem todas as metodologias de alfabetização se baseiam na premissa citada acima. |
Os métodos globais ou analíticos de alfabetização levam em consideração que a aprendizagem da leitura deve ser mais significativa e motivadora para a criança e que para isso a alfabetização deveria partir das maiores unidades da linguagem, textos ou palavras. Por esse motivo que a maioria das metodologias de alfabetização vigentes no Brasil hoje parte das palavras, como o próprio nome do aluno ou de textos e não instruem especificamente sobre os elementos constituintes da palavra. Ou seja, não começam ensinando sobre os sons das letras ou formação das famílias silábicas e como elas formam uma palavra e somente depois frases e textos. |
Ao contrário disso, os métodos sintéticos, em especial o método fônico de alfabetização baseia-se na premissa citada acima: a criança não sabe quais são esses elementos constituintes da palavra e para isso é preciso ensinar explicitamente as letras e o que elas representam: valores sonoros. |
Quando escolhemos uma metodologia de alfabetização é preciso pensar que mais do que o passo a passo para seguir, devemos nos basear em uma premissa coerente com a aprendizagem da leitura. Se ela não é natural, é preciso fornecer as bases essenciais para a alfabetização e nesse ponto, os métodos sintéticos são mais eficazes. |
Para Dehaene (2011), o método global causou uma ilusão, apesar de que fosse vã e ineficaz, pois não corresponde à maneira pela qual funcionam as redes neuronais da leitura. As evidências comprovam que a decodificação da relação letra-som não apenas é relevante, é essencial para a formação do bom leitor. Yi et al. (2019) citado em RENABE, 2020 “apontam a existência de uma rede neural que sustenta a leitura, identificada em leitores de diversos sistemas de escrita. Os dados fornecidos por neuroimagens constataram maior ativação cerebral na área responsável pelo processamento da conversão ortografia-som em pessoas que estavam aprendendo a língua chinesa, o que ressalta a constante necessidade do estabelecimento da relação letra-som para quem aprende a ler”. |
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Em 2000 o National Reading Panel dos EUA elencou 5 pilares que devem sustentar bons programas de alfabetização e você deve começar aprendendo sobre cada um deles e contemplar no seu planejamento para a etapa da alfabetização. Confira abaixo: |
1 – Desenvolvimento da consciência fonêmica; |
2 – Instrução fônica sistemática; |
3 – Fluência de leitura; |
4 – Vocabulário e, |
5 – Compreensão de textos. |
A consciência fonêmica, um dos componentes da consciência fonológica, refere-se ao conhecimento consciente das menores unidades da fala (fonemas) e a capacidade de manipulação intencional dos sons das letras em uma palavra. Para isso é essencial a criança aprender quais são os sons de cada letra e como identificar esses sons nas palavras. Essa habilidade pode ser desenvolvida desde a educação infantil, a partir dos 4 anos de idade e esses temas foram melhor abordados em dois artigos anteriores: |
“Como assim as letras têm sons? (disponível aqui https://pingback.com/marianeassisdias/como-assim-as-letras-tem-sons)” e “Checklist da consciência fonêmica” (disponível aqui). |
Segundo o PNA (2019) "a instrução fônica sistemática leva a criança a aprender as relações entre as letras (grafemas) e os menores sons da fala (fonemas). “Fônica” é a tradução do termo inglês phonics, criado para designar o conhecimento simplificado de fonologia e fonética usado para ensinar a ler e a escrever. Não se deve confundir a instrução fônica sistemática com um método. Ela é apenas um dos componentes que permite compreender o princípio alfabético, ou seja, a sistemática e as relações previsíveis entre grafemas e fonemas. O ensino do conhecimento fônico se mostra eficaz quando é explícito e sistemático (com plano de ensino que contemple um conjunto selecionado de relações fonema-grafema, organizadas em sequência lógica) (CARDOSO-MARTINS; CORRÊA, 2008). Assim, as crianças aplicam na leitura de palavras, frases e textos o que aprendem sobre as letras e os sons. Portanto, a instrução fônica sistemática e explícita melhora significativamente o reconhecimento de palavras, a ortografia e a fluência em leitura oral (MULDER et al., 2017; CARDOSO-MARTINS; BATISTA, 2005).” |
A fluência em leitura refere-se à habilidade de ler um texto com velocidade, precisão e prosódia. Para ler com fluência a palavra precisa ter sido decodificada em algum momento, por repetidas vezes e ter se tornado automaticamente reconhecida. Não se trata de memorizar a forma global da palavra, mas de decodificar a partir do conhecimento explícito entre a relação letra-som e guardar a sua pronúncia, entonação, ortografia e significado. E para isso é preciso treino e exposição frequente às palavras para que elas se tornem frequentes para os pequenos leitores. |
O vocabulário deve ser desenvolvido para garantir a sua aplicabilidade na leitura e produção de textos. Esse ponto pode ser desenvolvido desde a mais tenra idade através da prática da leitura em voz alta dos pais. Quanto maior o vocabulário de uma criança, mais rápido acesso ao significado da palavra ela terá durante a leitura, facilitando a compreensão. A prática de leitura em voz incrementa o vocabulário da criança, pois há milhares de palavras e variações delas que não usamos habitualmente no cotidiano durante as conversas. |
Por fim a compreensão de texto é a finalidade da leitura, lemos para compreender, mas ler não é compreender. Para compreender textos, é necessário desenvolver diferentes habilidades e capacidades relacionadas à compreensão da linguagem e ao código alfabético (MORAIS, 2013). Para isso é essencial desenvolver as habilidades anteriores, pois segundo Anita Archer, pesquisadora americana, não há estratégia de compreensão leitora forte o suficiente que seja capaz de remediar uma má decodificação e ausência de fluência em leitura. |
Diante dos 5 pilares apontados para um bom programa de alfabetização chega-se a conclusão que entre os métodos de alfabetização o que mais se assemelha com o que a criança precisa desenvolver é o método fônico, através do conhecimento das partes da palavra, as letras e os seus sons, a manipulação desses sons, a associação dos sons aos grafemas que o leitor terá a condição de fazer a decodificação de uma palavra. |
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A melhor forma de introduzir o conhecimento do alfabeto é lembrar-se que o mesmo representa a nossa fala e que para isso é essencial ensinar os sons de cada letra. Afinal, as letras são sinais gráficos e representativos dos sons. Pois, antes de existir a forma gráfica das letras, surgiu a fala. O alfabeto foi uma forma de representar, portanto, os sons. Esses sons podem ser: sons vocálicos ou sons consonânticos. |
Por isso, não se esqueça de apresentar essa parte mais importante e para se inspirar em maneiras criatividade de aplicar atividades com o alfabeto confira o artigo completo aqui. |
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Certamente não há nenhum impacto negativo em deixar a criança explorar o alfabeto, se acostumar com as suas formas e nomes das letras que são as partes mais evidenciadas atualmente. Mas, não se esqueça: aproveita a brincadeira para evidenciar o som de cada letra. Conforme apontado anteriormente a instrução fônica sistemática refere-se à capacidade da criança “bater” o olho na letra e reconhecer o som que ela representa. Para isso os momentos de brincadeira são úteis para ajudar a desenvolver essa habilidade. |
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A leitura pode ser estimulada desde através da leitura em voz alta. Para entender a importância e a relevância da leitura em voz alta é preciso responder uma questão: quando a criança estará alfabetizada? |
Ela estará alfabetizada quando for capaz de ler com compreensão e fluência, ou seja, ler com rapidez, precisão e expressão adequada e compreender o que lê (National Reading Panel, 2000). |
Alligton (1983) argumentou há décadas atrás que, embora a fluência seja essencial para a criança estar alfabetizada essa foi a habilidade de leitura mais negligenciada, e ainda hoje, em 2021, observando o cenário brasileiro preciso concordar com o autor. A fluência está relacionada também com a velocidade e que nos estágios iniciais de instrução tende a ser lenta e até trabalhosa e apresenta uma melhora gradual ou incremental por meio da prática (Samuels, 1979). Será através da prática que a fluência ocorrerá, portanto, antes de ser fluente a criança precisa aprender a ler. No método fônico a leitura se dará inicialmente pela rota fonológica, nesse caso a pronúncia da palavra é construída segmento a segmento por meio da aplicação de regras de correspondência grafofonêmica, e assim será predominantemente pelo primeiro ano da alfabetização (Sebra e Capovilla, 2010). No segundo ou terceiro ano, a depender do desenvolvimento da criança, a pronúncia da palavra passa a ser resgatada como um todo a partir do léxico, acessada quando a palavra já está pré-armazenada no léxico mental ortográfico, para isso a criança precisa ter tido acesso prévio as palavras pela rota fonológica por diversas vezes, repetidamente, e a rota fonológica vai se tornando mais eficiente e mais rápida conforme a criança já conheça as palavras que ela está decodificando. Nesse ponto é crucial que criança tenha vocabulário prévio. Ao decodificar uma palavra pela rota fonológica a criança conseguirá fazer isso mais rapidamente conforme ela já tenha tido contato prévio com essa palavra, através da linguagem oral. Ela será capaz de acessar o significado da palavra mais rapidamente e quanto maior contato prévio com palavras, ou seja, quanto maior o seu vocabulário, maior será a sua capacidade de ler com maior velocidade, mesmo pela rota fonológica. Nesse ponto que o vocabulário se encontra com a alfabetização. |
Atenção: há décadas não se nega a importância instrucional na leitura, porém nem só de vocabulário se vive um bom leitor. Para acessar esse vocabulário prévio esse leitor precisa primeiro aprender a ler essas palavras. Mas, destaca-se aqui que o vocabulário acidental que pode ocorrer, por exemplo, com a leitura em voz alta em sala de aula, bem como a leitura em voz alta em família diariamente, é de grande valia para subsidiar o aumento do dicionário léxico e nos anos em que se consolida a alfabetização é essencial já ter tido acesso a diversas palavras e ter um vocabulário rico. Quanto maior e mais rico o vocabulário maior a chance de se compreender o que se lê (Brasil, 2019). |
A prática da leitura em voz alta é ainda mais relevante, pois estudos demostram e foram apontados por Morais et al (2013): "que o vocabulário de uma criança de um meio sociocultural desfavorecido é muito inferior ao de uma criança de um meio favorecido, mesmo antes de iniciar a leitura. É sabido que a leitura é um poderoso instrumento de valorização e ampliação do vocabulário. Como a criança do meio sociocultural mais favorecido adquire mais rapidamente do que a outra as competências necessárias para aprender a identificar as palavras escritas, ela vai ler melhor, vai praticar mais a leitura e, por conseguinte, a lacuna entre as duas vai ser cada vez maior. Isto implica que uma criança de meio socialmente desfavorecido corre sete a oito vezes mais riscos de se tornar má leitora do que uma criança de meio favorecido.” |
Estudos mostram também que as ações no seio familiar são mais importantes para o sucesso escolar do que a renda ou escolaridade da família. Isso é válido para crianças de diferentes etapas da educação básica, quer a sua família seja rica ou pobre, quer seus pais tenham ou não terminado o ensino médio. |
Se além do vocabulário as famílias desejam que as crianças compreendam bem os textos que terão acesso ao longo da sua vida, com início na alfabetização, é importante que a leitura em voz alta seja praticada e que seja estimulada a escuta atenta e ativa de histórias pela criança, desde a mais tenra idade. Afinal, a compreensão oral precede a compreensão textual (Brasil, 2019). |
Mais sobre práticas de leitura em voz alta e como desenvolver na sua casa ou sala de aula, confira o artigo “Literacia familiar – importância na alfabetização” disponível aqui. |
Neste post, você viu 5 respostas fundamentais para a pergunta: 'como ensinar a ler?'. E descobriu como melhorar o processo de alfabetização do seu filho/aluno. |
Que tal agora se aprofundar no conhecimento sobre os sons que as letras representam e apresentar isso de forma clara e definitiva para as crianças? |
Confira abaixo como fazer isso de uma forma efetiva: |
REFERÊNCIAS |
Allington, R. L. (1983). Fluency: The neglected reading goal in reading instruction. The Reading Teacher, 36, 556-561. |
Brasil. 2019. Ministério da educação: Secretaria de alfabetização. Conta pra mim: Guia de literacia familiar. Disponível em: http://alfabetizacao.mec.gov.br/images/conta-pra-mim/conta-pra-mim-literacia.pdf |
CARDOSO-MARTINS, C.; BATISTA, A. C. E. O conhecimento do nome das letras e o desenvolvimento da escrita: evidência de crianças falantes do português. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 18(3), 330-336, 2005. |
CARDOSO-MARTINS, C.; CORRÊA, M. F. 2008. O desenvolvimento da escrita nos anos pré-escolares: questões acerca do estágio silábico. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 24(3), p. 279-286. |
S. Dehaene, 2011. Os neurônios da leitura. |
Morais, J.; I., Leite; R. Kolinsky. 2013. Entre a pré leitura e a leitura hábil: condições e patamares de aprendizagem. In.: Alfabetização no século XXI - como se aprende a ler a escrever. M., Maluf; C., Cardoso-Martins. Penso. |
MORAIS, J. 2013. Criar leitores: para professores e educadores. Barueri: Manole. |
MULDER, H. et al. Early executive function at age two predicts emergent methematics and literacy at age five. Frontiers in psychology, v. 8, p. 1706, 2017. |
RENABE, 2020. Relatório Nacional de Alfabetização Baseada em Evidências [recurso eletrônico] / organizado por Ministério da Educação – MEC ; coordenado por Secretaria de Alfabetização - Sealf. – Brasília, DF : MEC/Sealf. |
Samuels, S. J., Miller, N., & Eisenberg, P. (1979). Practice effects on the unit of word recognition. Journal of Educational Psychology, 71, 514-520. |
W., Yi. et al. Left hemiparalexia of Chinese characters: Neglect dyslexia or disruption of path- way of visual word form processing? Brain Struct Funct. 2014 Jan;219(1):283-92. |