Atividades de alfabetização e letramento: As 6 melhores
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Atividades de alfabetização e letramento: As 6 melhores

Em dúvida do que ensinar na alfabetização?

Mariane Assis Dias
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Em dúvida do que ensinar na alfabetização?

Listei 6 atividades de alfabetização e letramento que você precisa conhecer!

Antes de tudo, vamos aos conceitos:

1 - O que é alfabetização e letramento?

A alfabetização refere-se ao ensino das habilidades de leitura e de escrita em um sistema alfabético, a fim de que o alfabetizando se torne capaz de ler e escrever palavras e textos com autonomia e compreensão (PNA, 2019).

O nosso sistema alfabético representa os sons da fala. Para ler, a criança precisa dominar esse sistema, ou seja, compreender como a escrita representa a fala. Como a letra que ela vê escrita no papel se relaciona com o que ela ouve enquanto ela fala. Trata-se, portanto, em um primeiro momento de uma relação letra-som.

Na alfabetização a criança precisa reconhecer prontamente o som de cada letra escrita e ser capaz de unir esses sons para formar as palavras e assim ler as suas primeiras palavras. Para escrever, a criança precisa prestar atenção nos sons que ela fala ou escuta e codifica-los no papel. E como lemos para compreender, a finalidade da leitura e da escrita é a compreensão e produção de textos.

Podemos pensar que a alfabetização se divide em duas etapas, sendo que na primeira a criança deve aprender a ler através do domínio dessa relação letra-som e em um segundo momento ser capaz de utilizar a leitura para aprender, avançando assim na compreensão textual. Para essa segunda etapa o letramento é essencial. Pois, o letramento refere-se ao processo de leitura e escrita e não se limita estritamente à aprendizagem da leitura (Savage, 2015). O letramento é o conjunto de representações e processos que o indivíduo adquire como consequência obrigatória e direta de aprender a ler e escrever. Segundo essa visão, o letramento varia em grau, pois são necessários vários anos para se dominar a leitura e a escrita e é um instrumento para a aquisição de informações e promoção social (Morais & Kolinsky, 2013).

A grande questão é que para usar a leitura e escrita como um instrumento de aquisição de informações, primeiro é preciso aprender a ler e posteriormente, compreender o que se lê. Primeiro se aprende a ler, depois ler para aprender. Ler vai além da decodificação e do reconhecimento de palavras, envolvendo, necessariamente, a compreensão de textos de forma mais ampla, que é a finalidade da leitura: lemos para compreender No início da aprendizagem da leitura, para compreender é essencial que a criança aprenda a ler a palavra, letra por letra, através da sua relação letra-som. Pois, leitores iniciantes apresentam um desempenho em leitura que depende fortemente da habilidade de decodificação. Com o avanço na escolaridade, a habilidade de leitura depende mais do conhecimento da linguagem prévia dos leitores que já automatizaram as relações letra-som, podendo atribuir significado ao que leem e, assim, relacionar o conteúdo do texto ao seu conhecimento de mundo de modo mais apropriadoEm outras palavras, os efeitos da decodificação sobre o desempenho em leitura diminuem com o aumento da escolaridade, dando lugar para a atribuição de significados, que se torna cada vez mais decisiva sobre o desempenho em leitura. Assim, para um leitor compreender o que lê e utilizar a leitura para compreender e avançar nos graus de letramento é essencial que inicialmente se aprenda a ler (Gough et al., 1996; Joshi, Williams e Wood, 1998). No artigo “Alfabetização e letramento” (clica aqui)  a discussão sobre esse tema é mais aprofundada.

Por que o letramento é importante?

O letramento é importante porque não se limita estritamente ao processo de aquisição da leitura e da escrita, espera-se que uma criança avance entre os graus de letramento conforme domine o sistema alfabético e tenha contato com o maior número de leituras possível. Para conhecer cada vez mais e compreender melhor o mundo o ideal é a criança sempre ler cada vez mais e melhor.

Quais são as diferenças entre letramento e alfabetização?

Resumidamente, conforme já explicitado anteriormente, a alfabetização refere-se a capacidade inicial de aprender a ler e ser capaz de compreender o que lê. Essa fase da alfabetização seria o primeiro contato com o mundo letrado e lido pela criança.  Quando a criança passa de uma condição de analfabeto para um ser humano alfabetizado que não utiliza apenas a linguagem oral para se comunicar, mas que agora também é capaz de utilizar a linguagem textual. Depois que ela aprender a ler, dominar o código e ser introduzida aos primeiros textos ela será capaz de avançar cada vez mais na compreensão, ler textos mais complexos e conforme isso ocorre ela avançará nos graus de letramento. A leitura e a escrita passam a contribuir com a aprendizagem para o resto da sua vida.

Como aplicar as atividades de alfabetização e letramento?

Alfabetização

O ensino do leitor iniciante do sistema de escrita alfabético e a sua utilização para ler e escrever palavras deve incluir as seguintes atividades:

·         Atividade 1: formas, nomes e sons das letras.

Aprendizagem das formas, dos nomes das letras e mais importante, dos sons de cada letra. Afinal, pense na seguinte palavra: MALA. Ao ler você diz os nomes das letras, por exemplo: “Emê” “a” “elê” “a”? Ou, precisa unir os sons de cada uma dessas letras? Para saber mais sobre os sons das letras e a importância de ensinar cada um deles confira esse artigo completo disponível aqui.

Uma atividade que pode ser realizada com a finalidade de ensinar os sons das letras é associar a cada som da letra uma ação. Por exemplo: apresentar as formas gráficas da letra F (nos formatos diversos; cursiva e bastão, maiúsculas e minúsculas), em seguida dizer o nome da letra e o seu som. O som que a letra “F” representa é /f/ e associar isso ao sopro de uma folha. Essa dramatização auxilia na compreensão, emissão e memorização dos sons de cada uma das letras do alfabeto. Usualmente é uma atividade divertida e muito útil para a alfabetização.

·         Atividade 2: Consciência fonológica.

Para ser capaz de identificar e produzir cada um desses sons das letras, a criança precisa ter consciência dos segmentos fonêmicos que compõem as palavras. Para isso é importante desenvolver a capacidade dela perceber os segmentos da fala. Esses segmentos referem-se às frases, palavras, sílabas e fonemas. Ou seja, nós expressamos nossas ideias e pensamentos em frases, que por sua vez são compostas por palavras. Essas palavras podem ser quebradas em sílabas e, finalmente, as sílabas são formadas pelas letras, que representam valores sonoros, os fonemas. A criança precisa compreender esses segmentos e conseguir dividi-los na linguagem oral, pois se ela não souber que uma frase é composta por palavras, por exemplo, ela tende a pensar que a linguagem é uma cadeia sonora contínua. Para ajuda-la a perceber esses segmentos podemos desenvolver atividades orais que dividam, por exemplo, as frases em palavras. Com o apoio de objetos concretos, como peças de montar ou grãos de feijão, você pode montar uma frase, onde cada objeto representa uma palavra e pedir para a criança contar o total de palavras na frase. O mesmo pode ser feito com as sílabas. Selecione uma palavra conhecida pela criança, por exemplo: BOLA e separe as sílabas representadas pelos objetos concretos (BO-LA). Promova atividades que façam a contagem e comparação do tamanho das frases e palavras. 

Essa exposição aos segmentos da fala irá facilitar a compreensão da parte mais complexa da nossa fala, que são os fonemas. No final dessas atividades que desenvolvem a consciência fonológica da criança, ela deverá ser capaz de perceber, por exemplo, que as palavras FADA e FACA têm o mesmo som inicial, assim como ao trocar os fonemas /d/ e /c/ as palavras podem mudar de significado. Assim como se inserir os fonemas /d/ /a/ na palavra FACA, formará FACADA. As atividades que manipulam os fonemas referem-se à consciência fonêmica.

Mais sobre o tema da consciência fonológica e fonêmica pode ser acesso aqui e aqui.

·         Atividade 3: Correspondência grafema-fonema.

Os sons das letras são formalmente conhecidos como fonemas e por sua vez, as formas gráficas das letras são os grafemas. Para ler a criança precisa conhecer os sons das letras e realizar a rápida correspondência entre esse som e a sua forma gráfica, essa habilidade denomina-se correspondência grafema-fonema ou grafofonêmica. E esse pronto conhecimento faz parte do desenvolvimento do princípio alfabético e você pode ler mais sobre isso aqui.

Uma atividade que pode ser realizar nessa etapa é o sorteio de letras. Em um recipiente recorte as letras do alfabeto que a criança já foi exposta anteriormente aos seus sons e peça para ela sortear uma letra e emitir o som correspondente.

Outra sugestão pode ser escrever em um papel uma sequência de letras aleatórias e pedir para dizer o som correspondente assim que observar no papel. Para ficar mais difícil e desafiador você pode dizer que o tempo da criança será cronometrado. Assim você estará desenvolvendo essa importante etapa da alfabetização.

Para Ehri, 2013 “a aquisição desse conhecimento é essencial para o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita de palavras. As grafias das palavras não residem apenas nas páginas impressas; elas penetram na mente dos leitores para se tornarem amalgamadas às suas pronúncias e aos seus significados. Como resultado, influenciam o modo como os leitores pensam sobre os constituintes das palavras faladas, a maneira como eles pronunciam e relembram palavras e o quão facilmente aprendem palavras novas. É fundamental que as crianças recebam formas de instrução de leitura que as capacitem a adquirir estas habilidades de leitura e de escrita”.

Letramento

Para avançar nos graus de letramento é essencial que a criança aprenda a ler e compreenda bem o que lê. No entanto, você não precisa esperar que a criança esteja plenamente alfabetizada para começar a compreender textos. Uma forma inicial de garantir a compreensão é através da compreensão oral. Afinal, a compreensão oral precede a compreensão textual, assim como um bom leitor é antes de tudo um bom ouvinte (BRASIL, 2019). Para isso algumas atividades podem ser realizadas desde cedo, como:

·         Atividade 4: Leitura em voz alta.

Leia para a criança, se possível, desde o nascimento. Os pais não precisam esperar a criança aprender a ler sozinha para incentivar a leitura diária de 20 minutos por dia. Pelo contrário, o hábito pode ser iniciado desde cedo em cada lar, através da leitura em voz alta. É uma forma agradável de expor a criança a um hábito tão benéfico que como diria Jim Trelease (2013), é até curioso que algo tão bom seja gratuito. Entre os benefícios da leitura em voz alta está a estimulação da escuta ativa da criança e isso pode ser capaz de contribuir com o aumento da atenção e memória, além da promoção da compreensão oral, que é a capacidade da criança compreender o que ouve. Não é possível compreender o que se lê, sem antes ser capaz de compreender o que se escuta. Depois de consolidadas, as habilidades de compreensão oral também são usadas na leitura.

Para saber mais sobre como inserir a prática da leitura em voz alta confira aqui.

·         Atividade 5: Narração de histórias

Leia em voz alta textos curtos com poucos personagens, como fábulas e oriente a criança a prestar atenção na história e narrar ou recontar o que acabou de ouvir. Explique como deve ser feita a narração: que ela deverá ouvir atentamente a história lida por você e depois contar o que aconteceu com a maior riqueza de detalhes que conseguir. Lembre-se de dar o exemplo para ela antes de como ocorre essa narração.

·         Atividade 6: Compreensão de textos utilizando perguntas de revisão diretas.

Quando a criança for capaz de ler as suas primeiras histórias de forma autônoma você pode fazer algumas perguntas de revisão diretas que incluem as seguintes palavras:

Quem? O que? Quando? Onde? Por quê?

Exemplos de perguntas:

Quem fez determinada ação? Quem participa da história?

O que na história? O que aconteceu com determinado personagem?

Quando aconteceu determinada ação?

Onde aconteceu a história?

Por que aconteceu determinada ação?

As perguntas de revisão diretas ajudam a criança a entender a ideia principal da história, lembrar informações importantes e pode ser usado para categorizar informações.

Aprender a ler e a escrever envolvem processos complexos e saber como ensinar e mais sobre cada um desses processos é possível: cadastre-se para receber mais conteúdos sobre pré-alfabetização e alfabetização cliquei abaixo (seguir meu canal): 

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Espero que esse conteúdo tenha sido útil para você, grande abraço

Mariane Assis Dias

Referências

Brasil. 2019. Ministério da educação: Secretaria de alfabetização. Conta pra mim: Guia de literacia familiar. Disponível em: http://alfabetizacao.mec.gov.br/images/conta-pra-mim/conta-pra-mim-literacia.pdf

Ehri, L. C. 2013. Aquisição da habilidade de leitura de palavras e sua influência na pronúncia e na aprendizagem do vocabulário. In: Alfabetização no Século XXI: Como se aprende a ler a escrever. Maluf, M. R.; Cardoso-Martins, C. Penso.

GOUGH, P. B.; HOOVER, W. A.; PETERSON, C. L. Some observations on a simple view of reading. In: CORNOLDI, C.; OAKHILL, J. (Org.). Reading comprehension difficulties: processes and inter- vention. Mahwah: Lawrence Erlbaum, 1996. p. 1-13

JOSHI, R. M.; WILLIAMS, K. A.; WOOD, J. R. Predicting reading comprehension from listening comprehension: Is this the answer to the IQ debate? In: HULME, C.; JOSHI, R. M. (Org.). Reading and spelling: development and disorders. Mahwah: Lawrence Erlbaum, 1998. p. 319-327.

Morais, J.; Kolinsky, R. 2013. Letramento e mudança cognitiva. In: A ciência da leitura. Snowling, M; Hulme, C. Grupo A.

 PNA, 2019. Política Nacional de Alfabetização. Brasília: MEC, SEALF. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/images/banners/caderno_pna_final.pdf

Savage, J. 2015. Aprender a ler e a escrever a partir da fônica. Penso.

Trelease, J. 2013. The Read-Aloud Handbook: Seventh Edition. Penguin Books.