Em 8 de julho de 2021 o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou os resultados da pesquisa “Resposta educacional à pandemia de COVID-19 no Brasil”, que revelou que no ano de 2020, 99% das escolas ...
Em 8 de julho de 2021 o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou os resultados da pesquisa “Resposta educacional à pandemia de COVID-19 no Brasil”, que revelou que no ano de 2020, 99% das escolas brasileiras suspenderam as aulas durante um período médio de 279 dias. Número superior a diversos outros países, conforme ilustrado na Figura 1. | ||
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A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) tem monitorado globalmente o fechamento das escolas em decorrência da Covid-19 e até o último dia 31/07/2021 o Brasil permaneceu por 455 dias com as escolas fechadas ou parcialmente abertas. A Figura 2 ilustra o cenário mundial com a duração total de escolas fechadas por semanas, entre março 2020 e 31/07/2021. Por exemplo, os Estados Unidos permaneceram 58 semanas (equivalente a 406 dias) com escolas fechadas ou parcialmente abertas, Canadá por 51 semanas (357 dias), Inglaterra por 27 semanas (189 dias)e França por 12 semanas (84 dias). | ||
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Atualmente o Brasil encontra-se no status de escolas parcialmente abertas com cerca de 53 milhões de estudantes afetados, sendo que aproximadamente 21 milhões nos anos iniciais (educação infantil e primeiros anos do ensino fundamental) (Figura 3). | ||
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A pesquisa do INEP mencionada acima revelou que cerca de 80% das escolas declararam que treinaram os professores para usarem métodos ou materiais dos programas de ensino não presencial, sendo que na rede municipal, um total de 54% tiveram treinamento. E, se por um lado 43% das escolas estaduais disponibilizaram equipamentos, como computador, notebooks, tablets e smartphones, aos docentes nas escolas municipais esse total foi de aproximadamente 20% e apenas 2% dos professores tiveram acesso subsidiado à internet em domicílio. A pesquisa revelou também que entre as “estratégias de comunicação e apoio tecnológico disponibilizado aos alunos” apenas 6% das escolas ofereceram acesso gratuito ou subsidiado à internet em domicílio e 9% disponibilizaram equipamentos como computador ou notebook para uso dos alunos. Demonstrando claramente a ausência de subsídios tecnológicos para a realidade que acometeu a todos, alunos e professores. Por sua vez, as escolas mantiveram canais de comunicação entre professores e alunos (86%), ou, entre escola e alunos (82%), seja por meio de e-mail, telefone, redes sociais ou aplicativo de mensagens. Dessa forma, observa-se que muito do que foi feito no período dependeu da ação específica de indivíduos, como professores e gestores escolares que disponibilizaram seus próprios contatos pessoais para estabelecer um sistema de ensino minimamente funcional durante o período de fechamento das escolas. Quando se trata de apoio tecnológico e estratégias de comunicação aos alunos os dados revelam que pouco teve de efetiva disponibilização de materiais e o que foi feito ficou mais por conta da comunicação entre alunos e professores – 86% das escolas mantiveram contato direto entre alunos e estudantes. | ||
No entanto, essas atitudes não foram suficientes para assegurar a aprendizagem dos alunos nos anos de 2020 e 2021. O estudo “Perda de Aprendizagem na Pandemia”, uma parceria entre o Insper e o Instituto Unibanco, estimou que no ensino remoto, os estudantes conseguem aprender apenas 17% do conteúdo de matemática e 38% de língua portuguesa em comparação ao ensino presencial. Nesse estudo o objetivo foi estimar o quanto os alunos deixaram de aprender em 2020 por causa da pandemia no Brasil e se propôs, na ausência de avaliações somativas ao final de 2020, a estimar a aprendizagem dos estudantes por meio de simulações. O exercício consiste em calcular a diferença entre a proficiência que esses estudantes possivelmente alcançariam se não houvesse pandemia e a proficiência esperada em virtude dos desafios impostos pelo fechamento das escolas (Barros et al, 2021). | ||
Entre os resultados apontados pelo estudo está que em 2021 os alunos que ingressaram no 3º ano do Ensino Médio após um ano de ensino remoto, podem apresentar uma queda de -10 pontos na proficiência da matemática e -9 pontos em português. Na educação infantil e anos iniciais da educação básica, o estudo de avaliação amostral da Secretaria Estadual da Educação de São Paulo (Seduc-SP) apontou que no final do 5º ano é esperada uma queda de -29 pontos em proficiência de português e -46 pontos em matemática. Revelando o impacto ainda maior da pandemia na aprendizagem dos alunos nos anos inicias da educação básica. | ||
O relatório do “Enfrentamento da cultura do fracasso escolar” da UNICEF (2021), apontou que outros exemplos das consequências adversos do fechamento das escolas, além da aprendizagem interrompida, são: má nutrição, despreparo das famílias, desafios do ensino a distância, como a ineficácia ou ausência das tecnologias necessárias para o ensino remoto disponível para todos. | ||
Diante desse cenário apresentado, o que fazer? | ||
O relatório do Insper e Instituto Unibanco revela que é possível mitigar entre 35-40% das perdas em proficiência devido à pandemia se adotarmos as seguintes práticas (Barros et al, 2021): | ||
1 – Aumentar o engajamento dos estudantes no estudo; | ||
2 – Adotar ao menos o ensino híbrido ao longo do 2º semestre e, | ||
3 – Assegurar uma maior eficácia no ensino, combinando a otimização do currículo com ações voltadas para a aceleração do aprendizado do aluno. | ||
Para a ação 1 – “aumento do engajamento dos estudantes”, especificamente daqueles da educação básica durante a alfabetização, que é o nosso interesse, é essencial que a família participe ativamente do processo dos seus filhos. Para isso, você como professora pode se municiar dessa informação e apontar que, para o sucesso da aprendizagem, é importante o envolvimento da família. As crianças aprendem mais quando são motivadas dentro de casa. E para você que é mãe, essa informação serve como uma motivação ainda maior. | ||
Para a ação 3 – “assegurar uma maior eficácia no ensino, combinando a otimização do currículo com ações voltadas para a aceleração do aprendizado do aluno” é essencial que a abordagem socioconstrutivista seja eliminada das práticas educacionais e que os professores e alunos se atenham ao essencial, um ensino explícito, sistemático e bem instruído. Ensinando para a criança aquilo que ela precisa de fato aprender e não esperar que ela levante hipóteses e que descubra sozinha o que ela ainda não aprendeu. | ||
E mais do que isso, se você é mãe, nesse momento é essencial ter consciência dessas informações e garantir ao seu filho que ele terá acesso a um conhecimento realmente necessário para a sua aprendizagem. O momento é de recuperação, de ensinar aquilo que a criança não sabe e que precisa efetivamente aprender. Se a escola sozinha não der conta desse ensino explícito, você precisará conduzir a aprendizagem do seu filho e apoia-lo nesse momento. | ||
Estudos dessa natureza são úteis para observamos os dados e realizarmos uma análise da realidade para a partir daí traçar ações viáveis e nesse momento em que vivemos é urgente a adoção de um ensino explícito. O lado bom é que as crianças, quando ensinadas, aprendem rapidamente e é necessário aproveitar da melhor forma possível a margem de plasticidade cerebral dos alunos. Para saber como garantir esse ensino para uma criança na fase da alfabetização acompanhe meu conteúdo por aqui | ||
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O vídeo dessa aula está disponível em: | ||
Até a próxima semana, | ||
Mariane | ||
Referências | ||
BARROS, R. P.; MACHADO, L. M.; FRANCO, S.; ZANON, D.; ROCHA, G. 2021. Perda de aprendizagem na pandemia. São Paulo, Instituto Unibanco e Insper. Disponível em: https://observatoriodeeducacao.institutounibanco.org.br/cedoc/detalhe/89499b7c-6c99-4333-937d-1d94870d3181?utm_source=site&utm_campaign=perda_aprendizagem_pandemia. Acesso em: 24 de agosto de 2021. | ||
FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA (UNICEF). 2021. Enfrentamento da cultura do fracasso escolar. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/media/12566/file/enfrentamento-da-cultura-do-fracasso-escolar.pdf. Acesso e: 24 de agosto de 2021. | ||
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCAIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. 2021. Sinopse Estatística do Questionário Resposta Educacional à Pandemia de Covid-19 no Brasil – Educação Básica. Brasília. Inep, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/pesquisas-estatisticas-e-indicadores/censo-escolar/pesquisas-suplementares/pesquisa-covid-19. Acesso em: 24 de agosto de 2021. | ||
UNESCO. 2021. Global monitoring of school closures and Total during of school closures. Disponível em: https://en.unesco.org/covid19/educationresponse#durationschoolclosures. Acesso em: 24 de Agosto de 2021. |