Tirem as algemas dos zagueiros!
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Tirem as algemas dos zagueiros!

Minha estreia aqui neste Pingback é um protesto: a violência contra os zagueiros no futebol atual. E os vilões não são os atacantes, mas as regras. Eu já chego lá.

Maurício Barros
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Cena real que viralizou na deep web de zagueirão algemado: bote-se no lugar dele!
Cena real que viralizou na deep web de zagueirão algemado: bote-se no lugar dele!

Minha estreia aqui neste Pingback é um protesto: a violência contra os zagueiros no futebol atual. E os vilões não são os atacantes, mas as regras. Eu já chego lá.

Primeiro, olhe para uma de suas mãos. Mexa todos os dedos. Espero que seu polegar (nome científico "mata-piolho") tenha feito o movimento contrário ao mindinho, ao seu vizinho, ao pai-de-todos e ao fura-bolo (se não rolou, convém dar um pulo no ortopedista...). Por isso, o polegar é chamado "opositor". Isso nos diferencia dos outros animais, porque  permite manipular ferramentas, de machados e bisturis a paus de selfies.

O uso das mãos está na origem do futebol. Ele brigou com seu irmão rúgbi na maternidade – a Inglaterra da segunda metade do século XIX – justamente porque renunciou às mãos como forma de conduzir a bola até o gol adversário. O rúgbi, você sabe, fez o contrário: priorizou as mãos, embora também seja possível dar bicudas naquela bola em formato de quibe gigante. No futebol, só o goleiro pode. Assim, sem acordo, se separaram. 

Mas braços e mãos seguem ali, grudados ao corpo dos jogadores de linha. E acidentes acontecem. A bola tem vida própria, está sempre pulando de lá pra cá. E pega no braço, resvala na mão. Os juízes sempre tiveram que decidir na hora se era um toque acidental ou proposital, e assim o faziam: mão na bola, é falta; bola na mão, segue o jogo.

Nos últimos anos, a Fifa fez uma lambança editando orientações para esses lances. E surgiram algumas bizarrias nas explicações dos comentaristas de arbitragem das TVs, como "assumiu o risco" e "estendeu o alcance do corpo", e estabeleceu diferenças entre toque na mão do atacante e do defensor. 

Fato é que, hoje, os zagueiros estão apavorados. E passaram a marcar, quando estão dentro da área, com as mãos para trás. Você já experimentou correr com as mãos para trás? É terrível, além de ridículo. A biomecânica do movimento fica totalmente prejudicada. Subtrai-se, sei lá, uns 50% da capacidade motora, por baixo. Você vira um pinguim.

Atacantes já são mais velozes e mais hábeis por natureza e formação. Eles vêm com a bola dominada e um arsenal de truques para vencer o marcador. E o zagueiro, figura mais rústica, se vê impossibilitado de usar seu corpo de maneira plena. Porque, se a bola pega em sua mão, é risco enorme de marcarem pênalti – ainda mais com o VAR. Fico imaginando os treinamentos de zagueiros, obrigados a marcar com algemas. 

Libertem os defensores! Que volte a velha regra da várzea, sempre sábia: bola na mão ou mão na bola? Não é perfeita, mas é a mais justa. 

Recomendo, aqui, a heróica tentativa do Globoesporte.com de explicar esse imbróglio.