Jogadores como David Luiz não planejam jogar no Brasil. Eles voltam quando as opções diminuem

A torcida do Flamengo vive, há semanas, uma grande expectativa ante a possibilidade de David Luiz reforçar o campeão brasileiro no transcorrer da atual temporada e pelo menos por mais um ano. Contudo, a novela seguiu lenta, mesmo com a #DavidLuizNoMengo ganhando vulto nas redes sociais.

Vale ressaltar que o zagueiro esperou um possível acerto com o Benfica, seu primeiro clube na Europa, o que não aconteceu. Em seguida, pediu alguns dias para refletir sobre o futuro, o que irritou parte da torcida rubro-negra, como se estivesse fazendo pouco caso. Não, não se trata disso, é mais complexo.

Atletas como David Luiz, que fazem carreiras de sucesso na Europa, ficam distantes do futebol brasileiro e, em geral, sequer planejam a volta ao país. Projetam, sim, a sequência na chamada elite, mas sempre chega um momento em que, pela idade e/ou queda de rendimento, o mercado reduz, ou se fecha mesmo. É o ciclo natural da vida.

O zagueiro, que defendeu o Arsenal até a última temporada, trocou o Vitória pelo Benfica em 2007, ou seja, há 14 anos. Tinha 20 de idade quando começou a defender o time português, de onde saiu para o Chelsea em 2011. Entre 2014 e 2016 vestiu a camisa do Paris Saint-Germain, voltando aos azuis de Londres em seguida. Lá seguiu até 2019, quando se transferiu para o Arsenal, seu clube até o primeiro semestre de 2021.

Titular da seleção brasileira, que defendeu 57 vezes, durante um bom período, David Luiz coleciona títulos: campeão baiano pelo Vitória em 2005; português em 2010; da Taça da Liga em 2009 e 2010 defendendo o Benfica. Com a camisa do Chelsea faturou a Liga dos Campeões da Uefa em 2012, a Liga Europa em 2013 e 2019; a Premier Legue 2017; a Copa da Inglaterra 2012 e 2018.

No Paris Saint-Germain faturou o Campeonato Francês, a Copa da França, a Copa da Liga Francesa e a Supercopa da França, ou seja, todos os títulos dentro do país entre 2015 e 2016, quando lá atuou. Até no Arsenal, que há anos vive crise, ergueu o troféu da Copa da Inglaterra e da Supercopa da Inglaterra, ambas em 2020. Com a Seleção Brasileira levou a Copa das Confederações 2013 e o Superclássico das Américas 2014.

Apesar de ser um dos personagens lembrados pelo torcedor quando o assunto é Alemanha 7 x 1 Brasil, David Luiz é um jogador de enorme sucesso no futebol mais forte do mundo, coleciona títulos e sempre teve ótimo mercado. Mas é natural que, aos 34 anos, as opções diminuam, seja em quantidade, pela relevância dos clubes interessados e nas propostas financeiras com as quais acenam. Mas elas ainda existem.

Também ex-Arsenal, Willian dizia em entrevistas não ter interesse em retornar ao futebol brasileiro e acaba de voltar ao Corinthians. David Luiz jogará por aqui se as circunstâncias mostrarem a ele que defender um time competitivo na América do Sul pode ser esportivamente mais estimulante e desafiador do que vestir uma camisa de clube coadjuvante na Europa. Mesmo que o aspecto financeiro não seja tão bom.

Trata-se de uma mudança de vida, decisão difícil, que envolve familiares, adaptação - à vida e ao futebol praticado no Brasil. Passa por uma conclusão que em geral os atletas têm dificuldade de encarar: o fim de um ciclo na elite e o encaminhamento para direções que não estavam no roteiro. E as pessoas não costumam chegar a tais conclusões rápida e facilmente. O tempo tem enorme peso nesse momento.