Mipedes
Mipedes
Quero propor um projeto educacional. No que pensar primeiro?
0
0

Quero propor um projeto educacional. No que pensar primeiro?

Neste artigo falo um pouco sobre o que pensar primeiro quando se quer planejar um projeto educacional (mas funciona para outros projetos também).

Luis Claudio LA
7 min
0
0

Se vamos propor um projeto educacional ou simplesmente um plano de ensino ou de aula, no que devemos pensar primeiro? É sobre isso que quero falar nesta pequena postagem. Era para ser pequena, mas acabou ficando um pouco maior do que pensei inicialmente.

Fonte: Autor<br>
Fonte: Autor

Vamos começar com uma pergunta básica por onde geralmente começamos no início do ano que é: o que será ensinado neste ano, semestre, bimestre neste  projeto ou componente curricular, também conhecida também por matéria ou disciplina? A resposta mais comum é uma lista de conteúdos que devem ser trabalhados. Algo como uma ementa ou que já vem no documento norteador da Instituição de Ensino ou que se tem no índice de um livro como o conteúdo programático de um componente curricular (matéria, disciplina) que será ministrada. Mas será que uma lista de conteúdos deveria ser a primeira coisa a ser pensada? Talvez a melhor reação ao receber uma lista de conteúdos fosse outra pergunta: o que queremos ao final desse processo? Quais competências devem ser desenvolvidas?

Ao final do processo o professor espera chegar em algum lugar, certo? Então, talvez o primeiro pensamento pudesse ser: onde se quer chegar? Vamos fazer uma analogia para ajudar no raciocínio. Pense que está em uma praia (tudo bem que tem muita pedra ali, e não é exatamente uma praia como normalmente imaginamos 😅), como a mostrada na figura seguinte. Talvez a primeira coisa que deva decidir, seja: para onde quer ir ou para onde quer levar seus estudantes?

Esse local para onde quer ir é o seu OBJETIVO. É para onde deve olhar quando for planejar suas ações. É onde quer que seu estudante chegue. Há algo que pode fazer para ter isso de forma clara: completar a seguinte frase.

Ao final desse período (que pode ser uma semana, uma quinzena, um mês, um bimestre, um semestre, um ano...) ou projeto, o meu estudante deve ser capaz de [   ].

Vamos retornar para a nossa analogia da praia. Chegamos à praia e primeiro decidimos para onde queremos ir (qual competência deve ser desenvolvida). Suponha que haja um farol ali e queira chegar até ele. Então já temos um objetivo e o próximo passo é pensar em meios para chegar até esse farol. Como faremos para chegar lá, ou seja, qual caminho tomaremos? Qual ESTRATÉGIA será utilizada?

Por exemplo, nosso farol, nosso objetivo, poderia ser: "Utilizar o conhecimento geométrico para realizar a leitura e a representação da realidade e agir sobre ela." Esta é, inclusive, uma das competências do ENEM. Agora, como alcançar esse objetivo?

Note que a figura (acima) mostra vários caminhos para se chegar até o farol, mas alguns podem ser mais demorados, outros mais rápidos, desde que se tenha certas habilidades. O caminho vermelho vai exigir que saiba nadar ou que tenha algum barco para atravessar e saiba usar o barco. O caminho verde será algo a ser considerado se sabemos a hora em que a maré estará baixa ou alta para passarmos em segurança. O caminho amarelo parece um pouco mais longo, mas parece também ser o mais seguro. 

Trazendo esta analogia para a sala de aula, para que possa decidir o caminho que tomará, precisará conhecer os estudantes. Uma avaliação diagnóstica poderá lhe ajudar nesta decisão. Aí saberá quais são as habilidades que os estudantes têm, quais precisam de alguns conhecimentos prévios, quais deles poderão ajudar os colegas como monitores etc. 

Com certeza algumas habilidades os estudantes ainda não terão e faz parte do trabalho do professor preparar os estudantes para esta jornada. É necessário que todos tenham alguns conhecimentos prévios, mas pode ser que nem todos tenham esses conhecimentos. Por exemplo: pode acontecer de nem todos saibam adicionar frações, ou operações com números decimais ou, no caso do ensino superior, pode ser que nem todos saibam derivadas e integrais. Se estas são habilidades necessárias, temos que pensar em como dar condições para que os estudantes tenham essas habilidades.  

Uma imagem ilustrativa poderia ser a apresentada a seguir em que, para o estudante alcançar determinada competência (nosso objetivo, nosso farol) ele precisa desenvolver algumas habilidades e esse kit de conhecimento vai permitir fazer a jornada e chegar ao objetivo (nosso farol na analogia com a praia)

Esta jornada é muito semelhante quando se quer implementar algum projeto em uma escola ou universidade. A primeira pergunta a ser respondida não é o que será feito, o que será estudado e sim qual o problema que queremos resolver? Qual é o objetivo de todo o trabalho que será desenvolvido? Minhas ações estarão a serviço de chegar em que lugar? Depois de ter isso claro, aí sim vamos para as ações a fim de alcançar esses objetivos.

Esta jornada é muito semelhante quando se quer implementar algum projeto em uma escola ou universidade. A primeira pergunta a ser respondida não é o que será feito, o que será estudado e sim qual o problema que queremos resolver? Qual é o objetivo de todo o trabalho que será desenvolvido? Minhas ações estarão a serviço de chegar em que lugar? Depois de ter isso claro, aí sim vamos para as ações a fim de alcançar esses objetivos.

O físico irlandês do Século XIX chamado William Thomson, também conhecido como Lord Kelvin (sim da escala Kelvin de medida de temperatura lá das aulas de Química e Física) disse o seguinte

Aquilo que não se pode medir, não se pode melhorar.

e eu acrescentaria algo para adaptar para a educação:

Aquilo que não se pode medir, não se pode melhorar DE FORMA CONSCIENTE.

Pode ser que faça algo que não pode ser medido e que dê super certo, mas... Por que deu certo? Não vai saber... No caso de não alcançar o objetivo é importante ter as medidas do resultado das ações pedagógicas (do aprendizado) para tomada de decisão e correção de rota (ou do roteiro pedagógico).

Retornando para a nossa pergunta inicial: no que pensar antes de iniciar um projeto, uma aula, um módulo, um componente curricular, etc.? Primeiro, penso eu, devemos pensar no OBJETIVO, sempre. Depois nas ações para alcançar esses objetivos, nos conteúdos que deverão ser estudados para que o estudante adquira as habilidades necessárias para alcançar o objetivo (que pode ser uma competência).  

Finalizando, eu gostaria de dizer que é óbvio que o que escrevi aqui é o início, mas há outras coisas que precisam ser observadas e que não estão explícitas aqui, como o tempo, os recursos que serão utilizados (embora isso possa ser visto de forma implícita no texto), as metas intermediárias, as avaliações para saber como está a evolução do trabalho em relação ao objetivo que se quer alcançar etc. Eu quis apenas dar um pontapé inicial sobre o que devemos pensar primeiro, em meu ponto de vista, mas é claro que um projeto educacional ou o desenvolvimento de um componente curricular (matéria, disciplina) passa pelo acompanhamento de outras variáveis.

Há mais um registro que gostaria de fazer. Como eu sou professor muitos poderiam indagar se eu já faço tudo isso. Eu diria que no momento eu sou algo como uma (com licença ao Raul Seixas) "Metamorfose Ambulante", ou seja, estou caminhando para esse modelo. Eu devo editar esta postagem colocando aqui um link para uma página minha no Notion em que vou concentrar essa organização para as disciplinas que eu esteja lecionando ou para algum projeto que será desenvolvido na escola em que estou trabalhando.

Abração pro 6.

Email image