O monumento da ONU é um sinal do Anticristo?
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O monumento da ONU é um sinal do Anticristo?

“Vi uma besta que saía do mar. Tinha dez chifres e sete cabeças, com dez coroas, uma sobre cada chifre, e em cada cabeça um nome de blasfêmia. A besta que vi era semelhante a um leopardo, mas tinha pés como os de urso e boca como a de leão. O...

Jadir Figueiredo
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“Vi uma besta que saía do mar. Tinha dez chifres e sete cabeças, com dez coroas, uma sobre cada chifre, e em cada cabeça um nome de blasfêmia. A besta que vi era semelhante a um leopardo, mas tinha pés como os de urso e boca como a de leão. O dragão deu à besta o seu poder, o seu trono e grande autoridade.” — Apocalipse 13.1–2

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Na ultima semana uma escultura feita pelos artistas do estado mexicano de Oaxaca, Jacobo e María Angeles, foi colocada na entrada principal para visitantes na sede da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque; a entrega da obra ocorreu no mês passado, quando o país norte-americano ocupou a presidência do Conselho de Segurança da instituição.

Logo que veio a público as primeiras imagens da obra de arte, várias teorias surgiram sobre uma possível semelhança entre a escultura dada pelo embaixador mexicano E a profecia do apóstolo João sobre a besta que emergirá do mar. Seria mesmo um sinal do Anticristo na ONU? Vamos analisar alguns fatos.

Entendendo a cultura

Quando olhamos para o passado da igreja cristã, devemos aprender com os erros cometidos para que não caiamos nos mesmo enganos. O cristianismo foi ferramenta durante séculos de colonização, expansão de territórios e dominação cultural. Tudo que era diferente da cultura da cristandade europeia era considerado algo demoníaco e dominado por forças malignas.

O cristianismo pregado pelos apóstolos sempre foi da utilização da cultura local como porta de entrada para que a Palavra fosse pregada, vejamos o exemplo de Paulo, que ao chegar em Atenas usou da cultura idólatra helênica para lhes trazer as Boas-Novas. Ele não chegou classificando-os deuses dos gregos como demônios ou querendo matá-los, contudo, usufruiu da falha que toda cultura tem ao tentar substituir ao Verdadeiro Deus.

“Então Paulo levantou-se na reunião do Areópago e disse: “Atenienses! Vejo que em todos os aspectos vocês são muito religiosos, pois, andando pela cidade, observei cuidadosamente seus objetos de culto e encontrei até um altar com esta inscrição: AO DEUS DESCONHECIDO. Ora, o que vocês adoram, apesar de não conhecerem, eu lhes anuncio.” — Atos 17.22–23

Ao adentrar em uma cultura que não conhecemos e já classificarmos suas práticas como demoníacas ou práticas malignas, isso caracteriza não como evangelização e sim uma tentativa de colonização. Homens maus manipularam o evangelho para defender que os nativos dos continentes americanos não possuíam alma, que sua cultura era adoração ao diabo durante mais de dois séculos. Com isso, todas as lacunas sem respostas que civilizações tinham antes do contato com os cristãos europeus, perderam a chance de serem explicadas à luz da Bíblia. Mas o que isso tem a ver com o monumento da ONU?

O estado mexicano, Oaxaca, é conhecido pelos seus artesanatos chamados de Alebrijes, segundo a cultura local somente criaturas de outro mundo são capazes de espantar pesadelos. Segundo a lenda, os alebrijes surgiram de um sonho maluco que o artesão Pedro Linares López (1906–1992) teve quando estava muito doente. Ele teve fortes alucinações, onde se viu em um bosque com seres surreais, essas criaturas que são meio animais, meio humanas, que brilhavam e diziam cada vez mais alto “alebrijes, alebrijes, alebrijes!” A palavra “alebrije” em espanhol não tem em si verdadeiro significado, mas, por causa do sonho, foi como o artesão decidiu nomear as esculturas que veio a criar depois.

Segundo o embaixador do México na ONU, a chegada do “Guardião da Paz e da Segurança” servia também para mostrar à ONU a cultura mexicana, a mensagem dos artesãos mexicanos e a contribuição do país, como membro fundador da organização. Segundo os artistas, a obra transmite a importância das tradições, costumes e identidade cultural do povo mexicano. Com uma característica híbrida, o jaguar “Guardião da Paz e de Segurança” também simboliza resistência e força. O animal é considerado cauteloso, estratégico, que sai à caça de dia, mas permanece vigilante à noite.

Obras de artes (alebrijes) da cultura mexicana.
Obras de artes (alebrijes) da cultura mexicana.

A cultura de cada povo tem suas peculiaridades e curiosidades, o México é um desses países com muita mística e folclore popular, assim como o Brasil. Mas ao condenar a expressão de um povo como um símbolo ligado ao Anticristo não é prudente e zeloso com a Bíblia nem com aquela sociedade. Ao analisar o texto bíblico com prudência e com a crítica textual correta, fica mais que evidente que o texto de Apocalipse 13.1–2 que faz alusão a “besta vinda do mar” não tem a mínima correlação com o jaguar da cultura mexicana.

Com tudo, isso não quer dizer que futuramente a ONU não possa ser usada pelo Anticristo, afinal, segundo a própria passagem ele será um estadista internacional, entretanto, no calor dos delírios apocalípticos midiáticos já fazer correlações com uma expressão cultural desconhecida pela maioria das pessoas, mostra como a igreja tem se afastado da Palavra e do entendimento da sociedade de modo geral.

Profecias Bíblicas

Antes de mais nada, saibam que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo. — 2 Pedro 1.20–21

Ao interpretar as profecias bíblicas, devemos ter muito cuidado e zelo com a Palavra de Deus, uma vez que, principalmente as passagens apocalípticas são cheias de simbolismo, analogias e sempre dentro de um conhecimento tácito do autor original do texto. Não podemos esquecer de levar em consideração pontos importantes de quando uma passagem bíblica foi escrita, pontos como a cultura local e a intenção do autor para com os primeiros leitores.

É comum vermos animais e estátuas sendo usadas nas profecias apocalípticas na Bíblia. Pois para aquele o período que foi escrito, havia um forte significado para esse tipo de analogia. O profeta Daniel, por exemplo, vai utilizar de uma estátua e de um animal para falar de reinos que iria existir até o reino de Cristo. De igual forma, o apóstolo João para falar de poderes políticos, utilizou deste tipo de escrita para descrever o fim dos dias.

Portanto, não podemos achar que as passagens bíblicas foram psicografadas sem respeitar o conhecimento empírico dos autores dos textos. O apóstolo Paulo, quando escreveu a carta aos Efésios, por algumas vezes utilizou de termos de forças militares para descrever a vida cristã, acreditasse que a influência desses textos se deu porque Paulo estava em prisão domiciliar, acorrentado 24h por dia a um soldado romano.

Estamos falhando, novamente

É costumeiro, infelizmente, na Teologia neopentecostal fazerem mapeamentos territoriais de demônios, assim classificam os deuses de outras culturas e religiões como uma divindade igualmente capaz de guerrear contra o único Senhor. Essas expressões culturais não passam da tentativa do homem de substituir a glória eterna de Deus por deuses inventados em seus corações (Romanos 1.18–25). Lembremos-nos novamente da passagem do apóstolo Paulo em Atenas.

A própria igreja cristã tem colocado em descrédito a Palavra de Deus, quando classifica vacinas como marca do diabo ou mais recentemente, uma expressão cultural como símbolo do Anticristo. A esquizofrenia cristã está chegando ao ponto que sua interferência social é mais longínqua dos ensinos bíblicos que a de um pagão.

Se a Igreja Católica Romana lá atrás cometeu erros de matar civilizações por desconhecer suas culturas e não saber como se comunicar biblicamente com elas, hoje muitos crentes cometem os mesmos erros. A igreja evangélica brasileira, a muito, se afastou completamente da vida pública da sociedade, a consequência dessa falha é o aumento célere da falta total de comunicação com a cultura. Criaram uma bolha chamada “gospel” onde se fomenta uma pseudo-cultura separatista e extremamente fideísta, com isso todas as vezes que cristãos tentam tocar a sociedade, o que vemos são catástrofes sociorreligiosas e mais descrença de não cristão com o verdadeiro evangelho.

Que voltemos à pregação somente de Jesus Cristo como único suficiente salvador e um somente único Deus. Deixemos superstições e a depreciação com as culturas desconhecidas. Que possamos pregar cada vez mais sobre arrependimento dos nossos pecados e menos sobre superstições.