A discussão sobre liberdade no comercial de O Boticário continua vivo até hoje. Já não era hora de aprendermos sua importância com a história?
“Não seria bom viver num mundo sem vaidade? Um mundo onde a imagem não tivesse importância?" | ||
As perguntas parecem bem atuais, mas foram feitas em 2008, na abertura da peça publicitária Repressão, da rede de cosméticos O Boticário (link para o vídeo abaixo). A resposta pode parecer simples. As frases nos guiam a um “sim”, principalmente quando questionamos alguns padrões estéticos. Mas, associadas à sequência de imagens, tudo soa estranho. A campanha de O Boticário foi além da venda de batons. Viajou no tempo, na história e em conceitos antagônicos. E acabou entrando para a história da publicidade. | ||
No vídeo, mulheres se vestem da mesma forma, com as mesmas roupas e corte de cabelo. Seus gestos são iguais. Tudo é padronizado, desde brinquedos até programação de TV. E elas literalmente queimam o que se encontra "fora do padrão". A escolha de cores acinzentadas em cenários e vestuários passam tensão e monotonia generalizados. Até que uma das moças quebra o padrão e vai em busca de algo novo: o batom vermelho da marca. Ele surge na tela quebrando a monotonia. E a faz descobrir os prazeres da beleza, da liberdade e da livre escolha. | ||
A estética do filme nos transporta para o período da Guerra Fria, em que os discursos giravam em torno da dicotomia Socialismo/Capitalismo. O próprio nome da peça publicitária – Repressão – nos remete a sua verdadeira mensagem: a liberdade do indivíduo – pregada pelo capitalismo - e não mais a imposição à coletividade do Socialismo. | ||
O comercial foi criado num ano de crise da economia mundial, iniciada com os americanos dando suas casas como garantia de pagamento de empréstimos, levando o mercado imobiliário americano a entrar em crise e baixando muito o valor dos imóveis. Os bancos, por sua vez, restringiram a oferta de crédito, o que fez cair a compra de imóveis e acabou gerando uma recessão tão grande que chegou a ser comparada com a Grande Recessão de 1929. Isso parecia uma prova de que o capitalismo estava ruindo. Mas O Boticário resgata o tema e fazia seu consumidor refletir. Que mundo ele queria? O cinza ou a possibilidade de cor? A repressão ou a liberdade? | ||
Olhar para o comercial de O Boticário quatorze anos depois de sua criação é constatar que ele poderia ter sido feito hoje. E que as histórias se repetem e vão continuar se repetindo enquanto não aprendermos com elas. | ||
Em pleno ano de 2022, ainda estamos questionando a importância da liberdade e a garantia dos direitos individuais? Já não estava na hora de sabermos isso? Que o indivíduo é único e não pode esperar que o Estado decida a vida de cada um? É como se estivéssemos querendo vivem num mundo de imposições: querem que decidam o quanto podemos gastar, quantas TVs devemos ter numa casa, quanto e o que podemos comer. Não somos capazes de fazer isso? | ||
Os exemplos negativos de Cuba são estrategicamente escondidos ou esquecidos para encobrir as falhas do sistema. Mas eles estão lá em forma de falta de liberdade, de vales que dão direito a comprar uma porção de carne de frango por mês. Da total ruína da Venezuela e dias cada vez piores na Argentina. Isso sem falar nos primeiros sinais que indicam que o Chile vai pelo mesmo caminho. | ||
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O conceito de liberdade vai muito além da certeza de poder andar a qualquer hora, sem toque de recolher. A liberdade está nos desejos individuais, nos sonhos de cada um, no pensamento, no discurso, na vontade de ser o que bem quiser, ir para onde quiser. Nada disso existe no pensamento coletivista, que renuncia à individualidade em prol de algo para todos. Parece bonito se não estivesse levando vários países para o buraco há anos. | ||
O que ninguém conta aos defensores do coletivismo é o pouco que cada um recebe em troca em países que o adotam. Muitas vezes bem menos do que o ideal para subsistência. Essa é a realidade do Socialismo que estamos vendo acontecer na Venezuela. Pessoas comendo cachorros pegos na rua (por sinal, eles já acabaram). Porém, aqueles que relutam a aceitar isso como verdade o fazem sem ao menos olhar as imagens daquele país deteriorado pelo seu próprio governo socialista. | ||
O mundo fica monótono e cinza, como na campanha publicitária de O Boticário. Renuncia-se a vontades próprias, aos desejos legítimos individuais e, em contrapartida, recebe-se pouco do Estado. | ||
Os críticos vão dizer: Ah, mas no capitalismo nem todo mundo vai poder comprar o batom. O que os críticos não entendem é que quem quiser o batom ou o que quer que seja, vai ter a chance de comprá-lo, de trabalhar para adquiri-lo. Alguns vão comprar batons caros, outros mais baratos. Alguns vão fazer seu próprio batom caseiro e até vendê-los e transformar isso num negócio que vai ajudar a família. Eles, acima de tudo, estarão livres para essas escolhas. Livres até para não comprar, caso não queiram. | ||
No socialismo, o governo não daria batom para ninguém porque diria que ninguém precisa dele. Também não daria outros bens de consumo. O povo não teria dinheiro para comprar batom, TV ou boneca porque o Estado é quem determina quanto o povo precisa por mês. Até porque estes itens nem seriam prioridade das pessoas. As fábricas desses produtos fechariam por não poder ter mais lucro, visto como algo ruim pelo Estado. E, assim, os empregos seriam mais raros, a vida seria mais cinza, como no comercial. | ||
Será que hoje, a mesma empresa de cosméticos colocaria uma campanha como essa no ar? Ou iria preferir "lacrar"? As escolhas atuais podem nos dar algum indicativo. O importante é saber se seguiremos sem noção do que realmente é liberdade. |