Não podemos fazer nada pelos ucranianos a 20 mil quilômetros daqui, como não pudemos fazer nada pelos venezuelanos, bem aqui no nosso quintal.
Desde o dia 24 de fevereiro, quando a Rússia invadiu a Ucrânia, o noticiário mundial não fala em outra coisa. A pandemia virou notícia de rodapé ou de gerador de caractéres. Nada impressiona e causa mais medo do que uma guerra, especialmente quando um dos litigantes é dono do maior arsenal nuclear do planeta e presidido por um psicopata que ameaça mandar uma bomba atômica na cabeça do primeiro que se atrever a entrar na guerra para apoiar seu oponente, e ainda por cima é parceiro da China. Na verdade poderíamos chamar a Ucrânia de sparring, afinal, por mais corajosa que seja a resistência, sozinha ela não é páreo para a Rússia. | ||
Do lado de cá, nós, que mal havíamos nos tornado especialistas em pandemia, rapidamente fizemos um upgrade e viramos especialistas em geopolítica mundial. Passamos a entender de petróleo, produção de grãos, produção de fertilizantes, logística internacional, estratégias militares de ataque e defesa, tipos de arsenais de cada país, tamanho dos exércitos nacionais com e sem reservistas, média de idade dos soldados, quais soldados são profissionais, quais são por obrigação, e mais uma tonelada de informações e conhecimentos que enchem nossa cabeça e prendem nossa atenção, mas que, de fato, não acrescentam nada nas nossas vidas. | ||
Por mais que essa guerra entre Ucrânia e Rússia possa desovar em um conflito mundial, isso ainda é uma hipótese, que, para quem domina esse jogo, interessa mesmo para desviar nosso foco de nossas mazelas nacionais enquanto outras tramas vão se sucedendo nos bastidores sem que a gente perceba. E é por isso que insisto: nossa guerra é aqui. O que está acontecendo - e para acontecer - no Brasil é tão ou mais importante do que a guerra do leste europeu. | ||
O Brasil não tem nenhum protagonismo aparente no conflito de vizinhos, mas tem papel importantíssimo no futuro do mundo. Hoje, nosso país alimenta um em cada cinco habitantes do planeta. Somos a "fazenda" do mundo, no momento administrada por um presidente que não agrada a maioria da elite dominante do mundo, essa que promove guerras para vender armas às custas de vidas de civis inocentes, que controla a produção de petróleo e energia para fazer subir ou descer preços, que promove insurgências, rebeliões, traições e dissidencias, interfere em eleições e derruba governantes, como querem fazer aqui. | ||
Não podemos desviar nossas atenções do que está acontecendo aqui embaixo dos nossos narizes, diante dos nossos olhos. Eu mesmo já abordei a guerra entre a Rússia e a Ucrânia em lives, mas confesso que fiz contrariado algumas vezes, por ter um sentimento de estar sendo ludibriado pelo assunto e, ao tratá-lo, fazer parte do jogo para ludibriar a todos. Grande parte dos nossos formadores de opinião pararam de falar de Brasil para falar de guerra, enquanto nosso judiciário continua trabalhando a todo vapor para promover as eleições mais imundas de nossa história, talvez mais imundas do que foram as eleições americanas, nas quais até milhares de mortos votaram. | ||
Se no plano internacional o futuro do Brasil tem papel importantíssimo em segurança alimentar, água e produção de energia, para nós, cidadãos brasileiros, o que está em jogo é a nossa liberdade, nossa democracia, o futuro dos nossos filhos e netos para que não sejam dominados por vagabundos cujo interesse é lucrar com a entrega do potencial do nosso país para a elite mundial que domina o tabuleiro desse jogo estranho no qual só eles estão acostumados a ganhar. As próximas gerações terão um papel importantíssimo no destino da nossa nação, mas precisam ser preparadas para os desafios que enfrentarão. E é nesse contexto que as eleições brasileiras em 2022 têm mais importância do que qualquer outra eleição já realizada na nossa história. | ||
Perto do que estamos para enfrentar, o grito de independência ou morte dado por Dom Pedro I não passa de licença poética. A verdadeira independência ou morte do Brasil se dará quando os resultados das urnas apontarem quem será o próximo presidente a comandar o Brasil nos próximos quatro anos. Antes, porém, serão muitas batalhas pré-eleitorais, por cima e por baixo dos panos, a fim de que Jair Bolsonaro seja candidato à reeleição e que o processo eleitoral aconteça com lisura, dois fatos sob os quais recaem muitas suspeitas. | ||
O Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral são a "Rússia" da nossa guerra. São onze "Putins" armados de canetas poderosas contra uma "Ucrânia" que também demorou a acordar para a realidade e hoje resiste desarmada diante de um adversário sem escrúpulos, que desrespeita do bom senso às leis e não se furta a usar qualquer tipo de artifício para nos subjugar. O que nos cabe, então, é resistir com os meios que temos, e para isso não podemos perder no foco e nos deixar distrair com temas que, mesmo que nos afetem indiretamente, não fazem parte da nossa guerra. | ||
Meu convite a todos é que sejamos solidários aos ucranianos, mas que sejamos solidários a nós mesmos acima de tudo. Toda a nossa especialidade em geopolítica internacional não passa de retórica infrutífera, tanto para eles quanto pra nós mesmos. Não podemos fazer nada pelos ucranianos a 20 mil quilômetros daqui, como não pudemos fazer nada pelos venezuelanos, que sofrem de tirania equivalente bem aqui no nosso quintal. Mas podemos e devemos fazer por nós. | ||
Nossa guerra é aqui. Sabemos quem são os inimigos, como agem, o que planejam, aonde querem chegar. Mas se ficarmos com o olhar distante da nossa realidade, perdidos em lacrações e nos tornando ultra-mega-poli-fodas em assuntos que não nos dizem respeito e em nada acrescentam à nossa capacidade de lidar com nossos desafios, sucumbiremos. | ||
Ninguém sabe como e quando vai acabar essa guerra da Ucrânia com a Rússia. Mas a nossa tem data: 2 de outubro, se resolvido em primeiro turno, ou 30 de outubro, se for necessário um segundo turno. E o tempo é curto. | ||
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