Precisamos sair dessa inércia, e já está mais do que provado que não será perguntando "até quando?"...
Não direi que não entendo a força de expressão envolta nessa pergunta, mas já não dá mais para ficar só nela, nem no "não aceitaremos isso!", "não aceitaremos mais!", porque de não em não a gente aceita tudo. E se for para vivermos de forças de expressão é melhor aceitar calado e não falar mais nada . | ||
De não em não, aceitamos não saber quem mandou dar a facada em Bolsonaro, aceitamos não saber quem pagou os advogados de Adélio Bispo, aceitamos não saber quem autorizou o falso registro de entrada dele na Câmara dos Deputados no momento em que esfaqueava Bolsonaro em Juiz de Fora, aceitamos Dilma Rousseff não ser responsabilizada por seus crimes e manter seus direitos políticos apesar do impeachment, aceitamos Guido Mantega não ter sido preso ou condenado por nada do que fez apesar de ser citado por vários delatores, entre eles Antônio Palocci e Marcelo Odebrecht, aceitamos Aécio Neves e Gleisi Hoffmann terem sido protegidos pelo STF e ainda terem sido eleitos deputados federais, aceitamos Romero Jucá ter passado ileso apesar de seus crimes, aceitamos a exclusão de Toffoli e Rodrigo Maia da delação de Léo Pinheiro, aceitamos a Lava Jato de São Paulo não ter produzido nenhum efeito, aceitamos Edinho Silva e Carlos Gabas não terem nem sentido o cheiro da cadeia, aceitamos Renan Calheiros ter 11 de seus processos arquivados pelo STF, ter proposto, aprovado e visto sancionada a lei de abuso de autoridade, ter se reeleito para o senado e ter comandado uma CPI vagabunda para tentar derrubar o presidente, aceitamos Zé Dirceu e Lula terem sido soltos, aceitamos o STF "livrar" Lula de todas as suas condenações, aceitamos a revogação da prisão em segunda instância, aceitamos que o projeto que acabaria com isso estar parado na Câmara dos Deputados até hoje, aceitamos a Lava Jato ser esfacelada pelo STF, aceitamos que todos os presos pela Lava Jato estejam soltos (exceto Sergio Cabral), aceitamos que as empreiteiras corruptas fossem reabilitadas para trabalhar para o governo, aceitamos Lula estar autorizado a se candidatar a presidência da república apesar das provas sobrando como disse o juiz Gebran Neto quando aumentou sua pena... E eu ficaria aqui mais uns dois dias relacionando tudo que aceitamos e as vezes que dissemos que não aceitaremos mais, basta ver o tamanho desse parágrafo e ele não tratou nem de 10% do babado e eu sequer toquei em tudo o que aconteceu desde o início da pandemia. | ||
Adiantaria eu perguntar até quando? E a resposta para essa pergunta é muito mais simples do que parece: até quando a gente permitir. | ||
Fui duramente criticado muitas vezes em que disse que manifestações em feriados e fins de semana eram picnics cívicos que não produziam resultados efetivos. Muitas das decisões mais duras do STF e do Congresso pró-bandidos vieram em seguida de alguma manifestação, quase sempre decisões absolutamente inversas ao que a população pedia. Como exemplo recente está o voto impresso auditável, mais uma que aceitamos e ficou por isso mesmo. | ||
Não me critique se você é um ativista, não é a você que estou me referindo, ainda que mesmo ativo na manifestação de seus desejos e opiniões, de um jeito ou de outro também acabou aceitando. Assim como eu, não me excluo desse grupo. E por que aceitamos? Porque somos muitos nos grupos de redes sociais, mas somos ainda poucos para motivar a grande massa que também não aceita aceitando, mas que nem ativa é na luta pelos seus direitos e sua liberdade. É essa massa de população, da qual boa parte até foi para às ruas no 7 de setembro, que impede que haja uma reação proporcional aos desmandos comandados pelo legilslativo e pelo judiciário. | ||
Essa gente fala, mas não só aceita como também não demonstra inconformismo com o resultado, contrário a quem é ativista. Esse povo só aceita o confronto se alguém estiver lutando por ele, motivo pelo qual se decepcionou tanto quando não viu um mísero jeep do exército nas ruas no dia 8 de setembro e que explica porque as pessoas se encantam com discusos cujas ideias, na maioria das vezes, são impraticáveis ou de muito difícil implementação, mas que adoçam os ouvidos e mentes de quem não quer por a mão na massa pra mudar as coisas ou quer que elas mudem sem que suas vidas sofram mudanças. | ||
Então a pergunta retórica do "até quando" pode ser mais uma vez aplicada, também sem expectativa de mudar a realidade: até quando teremos um povo que vive de "até quando"? Precisamos sair dessa inércia, e já está mais do que provado que não será perguntando "até quando?" que alguma coisa vai mudar. Só sairemos disso quando trocarmos, de verdade, o "até quando?" por um "BASTA!", assim mesmo, em letras garrafais. | ||
O maior desânimo de quem se atreve a escrever, analisar e alertar sobre política é a sensação de ter falado com ao vento, ou ter obtido apenas a atenção de quem já tem a noção exata do que de fato acontece e já prática algum tipo de ativismo. Mas mesmo em se tratando dos muitos que entendem e participam com sua indignação ao cenário horroroso no qual vivemos o "até quando?" muito poucas vezes se transforma em ações produtivas para que as mudanças aconteçam. E os exemplos mais recentes desse fato são os "até quando teremos que usar máscara?", "até quando aceitaremos que fechem empresas e escolas?", "até quando vão nos forçar a tomar vacinas que não nos protegem de verdade?", "até quando veremos nossas liberdades serem subtraídas pelo legilslativo e pelo judiciário?", até quando? Até quando? Até quando? | ||
Basta! Se não trocarmos a força de expressão pela força da ação, muito em breve o "até quando?" também será criminalizado, e não haverá espaço e liberdade para quem, como eu e outros tantos, se atrevem a questionar a ditadura velada que nos rege e nos encaminha para viver em uma sociedade que terá uma resposta amarga para tal pergunta: até sempre! | ||
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