Bang Bang à brasileira. O jogo está pesado.
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Bang Bang à brasileira. O jogo está pesado.

Se manipularam votos antes, ou não, isso já não interessa. O que interessa é que isso não seja feito nunca mais.

HS Naddeo
4 min
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Imagine que você está em um saloom jogando poker com mais três sujeitos. Três bundões e àquele jogador  que é o bam bam bam do pedaço. Todo mundo de olho no jogo. Saloom cheio. Até o coveiro e o Xerife estão na plateia. Então você troca as cartas e fica com Full Hand de 3 ases e 2 reis na mão. Ases de copas, espadas e paus. Reis de copas e espadas. Difícil de perder. Aposta tudo, põe as cartas na mesa, se prepara pra pôr a mão na grana, e o valentão diz que tem um royal straight flush na mão. Coloca a cartas na mesa mantendo elas ocultas e põe o revólver em cima. E quando você ameaça reagir, o Xerife te olha feio e o coveiro já chega perto para tirar as medidas. De duas uma. Ou você se intimida e segue o jogo, ou corre o risco de garantir o trabalho do coveiro. Se, certamente, você desiste de querer ver as cartas do adversário. O medo vai fazer você acreditar no resultado.

Full Hand - jogada de poker
Full Hand - jogada de poker

O cenário político brasileiro é um grande saloom com mesas de poker para todos os lados. Jogo pesado o tempo todo. Não tem espaço para jogadores inocentes. Todo mundo blefa e põe a arma na mesa. Não vai demorar para um festival de balas começar a cruzar o saloom nas direções uns dos outros. As poucas que já foram disparadas ou foram de festim ou tiros de alerta. Mas atiraram.

Ilegalidades, inconstitucionalidade, alterações de leis, de entendimentos, mudanças de jurisprudências, ativismo judicial, poder de polícia para parlamentares corruptos não investigarem corrupção entre seus amigos e infernizar em o emocional do povo com mentiras, distorções, destruição de reputações e maracutaias que nem autores de ficção tiveram coragem de colocar em seus enredos.

O que pesa nesse cenário continua sendo a plateia, que fica assombrada quando um desses bandidos atira em quem se atreve a querer ver suas cartas, mas, mesmo em maioria, fica inerte, incapaz de reagir. O Xerife tá sempre do lado dos bandidos. Que chance tem esse povo?

No entanto, parece que estamos entrando em um momento de bang bang à brasileira. Um desavisado sentou na mesa mais importante do saloom, apostou alto e agora quer ver as cartas do bandido. E dessa vez os dois estão com as armas na mesa, dispostos a atirar. E a plateia está decidida a se manifestar. Até o Xerife tá assustado. Já tá difícil defender o bandido dizendo que faz isso em nome da lei. Há coveiros para todos os lados. Ele avisa que se não mostrar as cartas não tem mais jogo. Agora todo mundo tá querendo ver.

A implantação do voto auditável e da contagem pública de votos é o início do fim da carreira de centenas de políticos nos municípios, estados e na esfera federal. Se manipularam votos antes, ou não, isso já não interessa. O que interessa é que isso não seja feito nunca mais.

O TSE blefa quando garante a integridade do sistema. E blefa feio, porque a desconfiança não recai sobre o sistema em si, mas sobre a idoneidade de quem o administra. Se desconfiamos da capacidade das urnas ou do processo de computar os votos é porque não confiamos em quem define a programação de cada uma dessas etapas. Claramente, não confiamos nas lideranças de ministros do STF, STJ e nomeados para cuidar do processo eleitoral. Aliás, de processo algum na justiça brasileira.

Chamar o STF de vergonha nacional é só uma maneira polida, diria até tímida, de dizer que esses Xerifes estão do lado dos bandidos que durante décadas não precisavam mostrar as cartas, quando levavam no blefe. O voto auditável vai mostrar muito além do que tem nas cartas.

Pela primeira vez os bandidos estão sentindo que os coveiros já lhes tiram as medidas.

A estabilidade de um país não pode ser abalada constantemente por um bando de blefadores irresponsáveis. A hora do basta já passou há muito tempo e eles continuam jogando o mesmo jogo. Resta saber se finalmente estaremos dispostos a ganhar esse jogo, porque eles têm tudo para perder.

Quando os Xerifes abriram a cela do bandido e o deixaram em condições de sentar na mesa, eles foram para o tudo ou nada. Sabem que quem está do outro lado já tomou até facada, não vai fugir de tomar um tiro querendo ver as cartas do bandido. Ao tentar impedir o voto auditável e a contagem pública dos votos, os Xerifes estão tentando garantir pela última vez que o bandido ganhe sem mostrar suas cartas.

Se conseguirem fazer isso, nunca mais, ou pelo menos durante muito tempo, um atrevido vai conseguir se sentar à mesa para querer ganhar uma partida de poker de um desses bandidos. Muito menos armado. Menos ainda com tanta plateia a seu favor.

A eleição de 2022 é a chance derradeira para o conservadorismo ou para o progressismo, para a direita ou para a esquerda, para os bandidos ou para os mocinhos. E quando a maré muda, Xerife que se alia a bandido acaba morrendo pelas mãos do próprio bandido, ou morre junto com ele.

Obviamente ao usar a expressão "morre" eu não estou desejando ou incentivando a morte de ninguém, apenas ilustrando meu pensamento para exemplificar o fim de um processo. Em tempos de distorção das coisas é preciso explicar isso.

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