A verdade é que quase ninguém dá a devida importância ao cargo de deputado estadual...
A ver navios | ||
Partidos não se interessam em financiar candidatos a deputado estadual, esta é a realidade em todo país, mesmo que parte do propósito do absurdo fundo eleitoral de quase 5 bilhões tenha tal finalidade. No máximo investem na candidatura à reeleição de alguns, ou usem o dinheiro destinado à mulheres e negros, cuja verba é dobrada, para investir nas candidaturas a deputados federais fazendo dobradinhas promíscuas que o TSE fingirá que não vai ver. | ||
Em um país onde partidos têm donos, e são eles e meia dúzia de dirigentes que decidem para quais campanhas será destinado o dinheiro dos pagadores de impostos na farra eleitoral, quem quiser ser candidato a deputado estadual tem que se virar, e isso implica em "parasitar" campanhas de deputados federais e senadores em troca de algumas migalhas, enquanto estes também "parasitam" vários destes candidatos ao mesmo tempo através das tais dobradinhas promíscuas atrás de votos, digamos, no varejo. Uma troca na qual, no fim das contas, os candidatos à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal é que se dão bem. | ||
A verdade é que quase ninguém dá a devida importância ao cargo de deputado estadual, um cargo fundamental no desenvolvimento dos estados e na vida cotidiana dos contribuintes que pagam ICMS em basicamente tudo que consomem. São eles que tem a prerrogativa de legislar sobre os recursos de seus estados em parceria ou em oposição aos governadores de acordo com os tamanhos das bancadas a que pertencem. E penso que é devido a tanta desimportância que essa categoria é tão facilmente cooptada pelos governantes a fim de aprovar projetos que jamais seriam aprovados se eles fossem fiscalizados e cobrados pela população, que, em geral, costuma nem se lembrar em quem votou para o cargo na eleição passada. | ||
São 4 bilhões e 900 milhões de reais para eleger um total de 1627 candidatos, sendo 1 presidente, 27 governadores, 27 senadores, 513 deputados federais e 1059 deputados estaduais. O números de deputados federais e deputados estaduais citados referentes às eleições de 2018. Como estes cargos são proporcionais ao número de eleitores, a quantidade de vagas pode alterar para cima ou para baixo, sendo que é difícil que oscilem para baixo já que a população cresceu nos últimos 4 anos. Mas, o dinheiro não é distribuído proporcionalmente, nem mesmo entre cargos semelhantes. | ||
Uma campanha presidencial fica com a maior parte dos recursos, em seguida governadores, senadores; deputados federais e estaduais também são agraciados com verbas menores, sendo, de praxe, priorizados os que concorrem à reeleição e os novatos - as vezes nem tão novatos assim - que se apresentam com grande probabilidade de puxar votos e, graças ao quociente eleitoral, arrastar consigo mais alguns candidatos. E aí cabe falar mais uma vez do danoso quociente eleitoral, que não privilegia os mais votados. | ||
O quociente eleitoral é uma matemática sem vergonha que engloba os votos recebidos pelos candidatos a deputado federal e deputado estadual e os votos recebidos pelas suas respectivas legendas para definir que será eleito. Daí a importância que os partidos dão aos puxadores de votos que fazem com que um deputado que jamais seria eleito com seus próprios votos ocupar o lugar de um candidato que recebeu o dobro ou até o triplo de seus votos na eleição. | ||
Exemplo disso na última eleição foi o ex-deputado e agora auto-exilado Jean Wyllys que na eleição passada se elegeu com meros 24.295 pelo PSOL na esteira do deputado Marcelo Freixo que obteve 342.491 votos. Enquanto isso 30 candidatos mais bem votados que Jean Wyllys ficaram de fora. Não bastasse esse absurdo, ao desistir depois de eleito, para o lugar de Jean Wyllys foi alçado ao cargo Davi Miranda, com parcos 17356 votos, o que não seria suficiente para elegê-lo nem deputado estadual no mesmo ano se dependesse dos seus próprios votos. Não é por acaso que dos 513 deputados federais eleitos em 2018 apenas 27 foram eleitos com seus próprios votos ( fiz questão de citar matéria do G1 para evitar ser acusado de parcialidade ou fake news), ou, apenas 5,26% do total teve competência para estar onde está. Os resultados da eleição para deputado federal no Rio de Janeiro você vê aqui e para deputado estadual aqui. | ||
Fica claro o porquê de, dificilmente, nossas escolhas pessoais para deputado federal e deputado estadual dificilmente serem eleitas, a menos que votemos nos campeões de voto de sempre ou nas celebridades e sub-celebridades que garantirão que gente que não representa ninguém usufrua das benesses do poder e do suor dos pagadores de impostos para representar a si mesmos e os grupos do qual fazem parte, pois, em eleições proporcionais na nossa democracia de faz de conta o que o menos importa é a escolha do povo. | ||
Contudo, mesmo com toda a maracutaia que envolve este processo eleitoral, cabe a nós, eleitores, dar a importância que um deputado estadual deveria ter dentro do nosso regime de governo. Enquanto não aprendermos a escolher e votar maciçamente em que tem mérito para ser eleito, e assim garantir votos a quem realmente merece ocupar o cargo, ficaremos enxugando gelo. Mas a escolha isoladamente não basta. Já que o quociente eleitoral impede que a escolha democrática prevaleça sobre o sistema, é preciso que a população aprenda a fiscalizar e cobrar o trabalho dos deputados eleitos, de modo que os parasitas do dinheiro público fiquem expostos durante seus mandatos e suas chances fiquem muito menores na próxima eleição. E isso vale também para a eleição de vereadores, cuja probabilidade de virem a ser candidatos a cargos mais altos é muito grande. | ||
Se a fiscalização começar no município a exposição dos maus políticas começa na raiz, podendo impossibilitar suas pretensões políticas futuras e ao mesmo tempo forçando que desempenhem melhor as funções para as quais foram eleitos. A política começa no município. Precisamos entender isso o mais rápido possível. Depois que um político atinge os mais altos cargos e começa a fazer parte do sistema, na maioria das vezes, é tarde demais. | ||
No mais, com o sistema atual de eleições e de distribuição de verbas feitas pelos donos de partidos, outra coisa que precisa acabar com urgência, tanto quanto o número absurdo de partidos que têm no Brasil, só podemos procurar votar da melhor maneira que conseguirmos e torcer. O mais certo, porém, no sistema eleitoral em vigor no Brasil, o mais provável é que nos sentemos aos lados dos candidatos a deputado estadual e fiquemos a ver navios junto com eles. | ||
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