Ciro conviveu com a corrupção no governo Lula enquanto foi ministro. Diz que avisou Lula sobre a corrupção que acontecia para todo lado, mas saiu do governo de bico fechado.
Se a disputa presidencial está polarizada entre Bolsonaro e Lula, a disputa de egos está entre Lula e Ciro Gomes. Se tem uma coisa com a qual estes dois personagens nunca se preocuparam foi com o Brasil. Sempre, e acima de tudo, a preocupação foi com seus próprios umbigos, não importa o quanto de contradição tenham tido que apresentar ao longo das últimas décadas em busca de seus objetivos pessoais. Lula chegou lá, duas vezes. Ciro nunca esteve nem perto. E talvez esteja aí o descompromisso dele com os resultados da eleição, pois sabe que não vai ganhar e está pouco se lixando para quem vai. O que importa para ele é aproveitar os momentos em evidência na imprensa, tentar se mostrar intelectualmente acima dos demais e passar os próximos 4 anos criticando qualquer coisa boa ou ruim que o vencedor venha a fazer. | ||
Diz o ditado que "se não pode ajudar que pelo menos não atrapalhe". Pois bem, diria eu que desde que saiu dos confins de Sobral para os cenários estadual e nacional, uma das maiores especialidades de Ciro Gomes é fazer exatamente o contrário do que prega o ditado: não ajuda em absolutamente nada e faz questão de atrapalhar da pior maneira que pode. | ||
Ciro Gomes é o acredita ser o único brasileiro credenciado para ser presidente da república. Usa sua metralhadora oral para atirar para todo lado, conforme sua conveniência, sem se importar com as consequências do que fala. Não à toa tem dezenas de processos por injuria, calúnia e difamação. É capaz de falar bem e mal da mesma pessoa em uma única frase, desde que o propósito final da frase seja colocar-se acima da pessoa de quem ele fala. É um truque de oratória interessante; e sem ele Ciro pouco teria a falar de si mesmo. | ||
Ciro elogia ações de Bolsonaro para depreciar a esquerda de Lula, ao mesmo tempo fala mal de Bolsonaro para tentar igualá-lo a Lula, enfia Fernando Henrique Cardoso na conversa para ser mais convincente, vomita números que, por mais que muitos possam ser verdadeiros, ninguém confere. A imensa maioria da população não tem noção da ordem de grandeza que estes números representam, e mente, enrola, evade, contorna, dá a volta, e diz, com razão, que o encantador de serpentes é Lula, pois ele, Ciro, de fato, não tem essa habilidade. Se tivesse já teria sido eleito presidente da república. | ||
Ciro se apresenta como o ministro da fazendo do Plano Real, diz com todas as letras "eu fiz o plano real". Porém. o Plano Real é de fevereiro de 1994, e Ciro foi ministro da fazenda a partir de setembro do mesmo ano, 7 meses após. Isso não significa que não tenha contribuído de maneira importante para que desse certo, mas não é o principal responsável e nem mesmo seu idealizador. Mas fala, e ninguém contesta. | ||
Ciro foi candidato à presidência da república em 1989, ficando em terceiro lugar com 7.426.190 votos. Em 2002 tentou novamente, cresceu a votação para 10.170.882, mas dessa vez ficou em quarto lugar. Voltou a repetir a dose em 2018, recebendo mais votos, 13.344.371, mas novamente ficou em terceiro lugar. 2022 é sua quarta tentativa ao mesmo cargo, e se não sucumbir aos apelos para que desista e abra espaço para que seus eleitores votem em Lula, amargará mais um terceiro lugar. Até aqui não parece disposto a ceder, mas nunca se sabe o que ele pode fazer, a quem pode se aliar para ajudar ou para prejudicar um terceiro. | ||
Poucos políticos passaram por tantos partidos de ideologias tão diferentes como Ciro Gomes. Em 1982 elegeu-se deputado estadual pelo PDS, partido derivado e que sucedeu a Arena, partido que dava suporte ao governo militar e ao qual. Ciro diz que se filiou por causa do pai, e talvez isso seja verdade, pois Ciro foi incluído pelo pai na lista de candidatos a deputado estadual pelo PDS depois do prazo. Mas, ao tomar posse em 1983 já tinha mudado para o PMDB, no qual ficou até 1988 quando se filiou ao PSDB e foi o único governador eleito pela sigla naquele ano, sucedendo Tasso Jereissati. | ||
No PSDB ficou até 1997, quando foi para o PPS de Roberto Freire, antigo PCB, Partido Comunista Brasileiro e hoje com a sigla Cidadania. Foi pelo PPS que ele disputou suas duas primeiras candidaturas à presidência da república. Em 2005 Ciro muda para o PSB, momento em que ocupava o cargo de ministro da integração nacional no governo Lula. Fica no partido até 2013 quando vai para o PROS, onde ficou até 2015 quando foi para o PDT. No total foram 7 partidos em 40 anos. Mas não é exatamente a quantidade de partidos que ajuda a entender quem é Ciro Gomes. É a variedade de ideologias pelas quais passou até se definir como socialista brizolista e estrela do PDT. | ||
Em sua carreira política Ciro foi deputado estadual no Ceará, prefeito de Fortaleza, governador do Ceará, deputado federal, ministro da fazenda do governo Itamar Franco e ministro da integração regional do governo Lula. E penso que é neste ministério a serviço de Lula que pesam grandes contradições de Ciro Gomes. Neste cargo, que ocupou por 4 anos, era de responsabilidade dele a transposição do Rio São Francisco e a construção da ferrovia Transnordestina. Como se sabe, por motivos até alheios a vontade de Ciro, naquele governo, e nos próximos, mais um de Lula e dois de Dilma, nenhum destes projetos saiu do papel. E no caso da Transnordestina mais uma curiosidade. Já na iniciativa privada presidiu a empresa entre os anos de 2015 e 2016, e também não concluiu a obra. | ||
É verdade que poucas denúncias foram feitas até hoje sobre envolvimento de Ciro Gomes com corrupção. Algumas infundadas, outras anuladas à canetadas, e nada, de fato, comprovado, por mais que muitas sejam as evidências de que ele e seu irmão, Cid Gomes, nunca tenham sido santos. No entanto, Ciro conviveu com a corrupção no governo Lula enquanto foi ministro. Diz que avisou Lula sobre a corrupção que acontecia para todo lado, mas saiu do governo de bico fechado, e só passou a atacar Lula, de fato, quando o PT se negou a apoiá-lo na eleição de 2018. Mesmo assim, defendeu Lula nos episódios da Lava Jato e falou até em sequestrá-lo e levá-lo a uma embaixada caso estivesse na iminência de ser preso. Pois Lula foi preso e Ciro Gomes não abanou o rabo, e foi um dos poucos políticos que não fez uma visitinha íntima ao presidiário em Curitiba. | ||
Agora, em 2022, esperava, mais uma vez, que o PT apoiasse sua candidatura (que, penso eu, teria criado um opositor mais forte a Bolsonaro) em um gesto até de inteligência, uma vez que Lula já entrou desgastado nesta campanha e Ciro poderia ser o vigor que a esquerda precisaria se quisesse ser realmente competitiva desde o primeiro dia. Mas, não rolou, e Ciro passou então a ser um poço de mágoa e a defenestrar Lula em todas as ocasiões possíveis, inclusive revelando fatos e dados da época em que andava de mãos dadas com o ex-presidiário, além de fazer chacota de Lula em entrevistas, sabatinas, comícios e em especial no debate da Band, quando Lula disse que não foi para Paris para não apoiar Haddad, como fez Ciro, e este respondeu que Lula não foi porque estava preso, momento de muita risada e altíssimo constrangimento para Lula no evento. | ||
Já o problema com Bolsonaro não é pessoal. É de ego mesmo. Vários são os reconhecimentos de Ciro Gomes em relação ao sucesso econômico do governo. O curioso é que estes reconhecimentos não são feitos de maneira elogiosa ao governo, mas usados de maneira a envergonhar e atacar o PT. Ciro não é capaz de fazer reconhecimentos legítimos aos acertos do governo Bolsonaro porque não pode elogiar Bolsonaro. Para atacar Bolsonaro diretamente ele usa dos mesmos argumentos retóricos e genéricos que a esquerda usa, adjetivando o presidente de genocida, o que ele sabe que não é. Critica o jeito de ser do presidente como se ele não fosse dono do mesmo estilo de franqueza e tosquice. Ciro Gomes é incapaz de gestos de gentileza seja lá a quem for, isso não interessa e nem satisfaz seu ego. | ||
O apelo do PT aos eleitores de Ciro Gomes pelo voto útil, deixando de votar em Ciro já no primeiro turno para votar em Lula, provavelmente dará menos certo com eles do que pode dar com os eleitores de Simone Tebet. Contudo, não creio - mas também não duvido - que Ciro ou Simone abram mão de suas candidaturas a uma semana da eleição. E mesmo que um dele venha a fazer, não sei o quanto seriam capazes de transferir votos para Lula ou Bolsonaro a esta altura do campeonato. O que parece fato é que Simone Tebet vá apoiar Lula num segundo turno. Já Ciro, se tiver um pingo de caráter, vai para Paris. | ||
Ciro Gomes teria sido o nome competitivo da esquerda para enfrentar Jair Bolsonaro nesta eleição presidencial. Não sei se ganharia. Mas teria feito uma campanha sem ter que explicar muita coisa sobre corrupção, empreiteiras, dinheiro brasileiro para outros países, Petrobras, Eletrobras, Mensalão, Petrolão, BNDES, Joesley Batista, Marcelo Odebrecht, sítio de Atibaia, triplex no Guarujá, desastre econômico do governo Dilma, tesoureiros presos, companheiros de partido presos, relação com ministros do STF, soltura da cadeia, anulação de condenações e tudo o que se sabe sobre o maior corrupto da história do Brasil. Felizmente, o PT errou, a esquerda errou, e insistiram em transformar lodo em vinho, e quem se beneficiou com isso foi o Brasil e a candidatura de Jair Bolsonaro. | ||
Se Ciro quisesse, hoje, fazer um gesto em nome do Brasil, ao invés de pensar em seu ego ou em se vingar de Lula, o passo a ser dado seria apoiar Jair Bolsonaro no segundo turno, ou até no primeiro, especialmente porque ele sabe que este governo está dando certo, reconhece os acertos, e contribuiria verdadeiramente para o Brasil se fizesse esse gesto de grandeza, podendo vir até a contribuir mais com atitudes propositivas, construtivas, através do diálogo e até mesmo de participações pontuais. Mas é sonhar demais. Vai preferir ver o circo pegar fogo para aparecer como bombeiro ao invés de impedir que o fogo comece. E mais, se tiver chance jogará um fósforo aqui, outro ali, porque a grandeza e o patriotismo não estão na sua natureza. | ||
Ciro Gomes é o infiel da balança porque ele é como o cachorro que corre atrás do carro e não sabe o que fazer quando o carro para. Ciro não é lulista, não é bolsonarista. Ciro é anarquista, seu verdadeiro partido é o Ciro Gomes Futebol Clube, e o Brasil que se dane. | ||
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