Fechados. Contra nós.
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Fechados. Contra nós.

Se não guardaram os sigilos dos dados da Dra. Mayra Pinheiro, porque guardariam os sigilos bancários da Jovem Pan? A quem interessa isso? A qual concorrente?

HS Naddeo
6 min
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O próximo pode ser você. Basta que eles queiram. É simples assim.

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Se você ainda não entendeu o que está acontecendo no Brasil, e através dessa CPI da vergonha comandada por Omar Aziz e Renan Calheiros, fica fácil de explicar: o Senado Federal e o poder judiciário, estão usurpando de suas competência constitucionais e legais para atacar seus adversários e calar todas as vozes que os denunciam e os combatem.

A quebra de sigilo da Jovem Pan, juntamente com a quebra de sigilo de pessoas que comandam sites, ditos, bolsonaristas, é um avanço dos mais perigosos em cima da imprensa livre. Quebrar o sigilo bancário de uma emissora de rádio da importância da Jovem Pan, sobre a acusação de que esta estaria espalhando "fake news", algo que sequer pode ser definido criminalmente, é uma tentativa baixa e autoritária de tentar calar quem ousa discordar do golpe para o qual essa CPI foi criada, de cujo objeto de investigação, inclusive, essa medida foge totalmente. Mas, me permito a pôr mais lenha nessa fogueira.

A rádio Jovem Pan está virando TV. A transmissão de sua programação pela internet, com vídeo, não apenas mostra a viabilidade de programações via internet como revela a forte concorrência que as emissoras abertas e fechadas estão sofrendo com o avanço da tecnologia. O programa Os Pingos Nos Is vem batendo sucessivos recordes de telespectadores (ou seria "internetespectadores"?) e isso, certamente, incomoda. E deve incomodar, também, saber com quanto sustentam um programa que tem jornalistas que não devem custar barato aos cofres da emissora. Augusto Nunes, José Maria Trindade, Guilherme Fiuza e Ana Paula Henkel, obviamente não ganham salário mínimo e nem fazem jornalismo por hobby. Incomodam os jornalistas, o jornalismo e os valores que circulam pela emissora. A CPI entra na jogada como uma oportunidade de ter acesso a isso tudo detalhado. Sob o falso pretexto de "fake news", que, nada tem a ver com o objeto da CPI, intimidam um adversário que fala as coisas como elas são e ainda o desnudam financeiramente para quem quiser saber. Se não guardaram os sigilos dos dados da Dra. Mayra Pinheiro, porque guardariam os sigilos bancários da Jovem Pan? A quem interessa isso? A qual concorrente?

Além da Jovem Pan, a produtora Brasil Paralelo, os sites Senso Incomum, Conexão Política, Renova Mídia, Jornal da Cidade Online, Terça-Livre, o jornalista Alan dos Santos e Paulo Oliveira Enéas da empresa Eretz Galil Tecnologis Educacionais. O crime de todos, segundo a CPI, é, supostamente, disseminar fake news. Mas o que isso tem a ver com aquele objeto da CPI que visava investigar as ações do governo federal (estaduais e municipais eles ignoraram mesmo)? Nada. Absolutamente nada. O suposto crime cometido por todos é mostrar, através da produção de conhecimento, apresentação de notícias e debates abertos, nos quais as pessoas expressam suas opiniões pessoais e profissionais e dão à população a possibilidade de receber informações fora da bolha da grande imprensa. Gente que não assina embaixo o que a grande imprensa diz e que tem o bom hábito de tratar o fato e não uma versão dele.

O emblemático caso do deputado Daniel Silveira não foi devidamente valorizado pela população. São poucos os que tem a dimensão exata do que aconteceu ao prenderem um deputado federal em pleno gozo de seu mandato e direitos políticos, legalmente imune por palavras, opiniões e votos, com o apoio unanime dos ministros do STF e com o aval covarde dos demais deputados federais. Uma das maiores aberrações jurídicas contra a instituição da Câmara dos Deputados, que, vergonhosamente, endossou de rabo entre as pernas essa arbitrariedade. Um deputado federal, eleito pelo voto popular, calado pela conveniência de dois poderes da república ao arrepio da lei.

Inquéritos sem propósito, CPIs com propósito escuso, honras e reputações de brasileiros comuns e públicos sendo achincalhados diariamente por um sistema podre, viciado, trabalhando abertamente pela derrubada de um governo legítimo, eleito com quase 58 milhões de votos, para tentar colocar em seu lugar um vagabundo condenado há mais de 20 anos de cadeia por corrupção e lavagem de dinheiro, em 3 instâncias do judiciário, por 10 juízes, com pena inclusive aumentada na segunda instância, ridiculamente reabilitado por uma filigrana jurídica sobre jurisdição, filigrana essa já tentada e rechaçada antes pela mesma corte que o tornou novamente elegível e que, claramente, trabalha para que volte ao poder. E não entenda isso como torcida. Eles trabalham para ele. Tá valendo tudo.

Amigo, amiga, o próximo pode ser você, posso ser eu. Não importa o tamanho da nossa audiência ou da significância que temos dentro de todo esse contexto. Aliás, pelo contrário. Quanto mais calarem as pequenas vozes, mais medo espalharão no cidadão comum, inibindo cada vez mais os cidadãos que pensam e discutem a sociedade em que vivem. Não foi por acaso que esse pedido da CPI envolve no mesmo pacote uma grande emissora de rádio/TV e pequenos canais via internet. O objetivo é calar a todos, qualquer um que tenha o mínimo de capacidade de influenciar pessoas.

Confesso que mesmo ciente da minha insignificância dentro desse universo, hoje em dia escrevo com medo. Mas não é um medo que me cala. É um medo que me dá vontade de enfrentar, pela certeza que tenho de que escolhi a causa certa para defender. E não se trata de Bolsonaro em si, dele, pessoa, mas do que eu penso que ele representa para o futuro do país em termos de valores, propostas e capacidade, demonstrada até aqui, de enfrentamento da gigantesca quadrilha que durante mais de 30 anos assaltou o Brasil.

A democracia brasileira está e permanecerá em risco enquanto for consentido à pessoas como Renan Calheiros e Alexandre de Moraes a possibilidade de desconsiderar, inverter, inventar, adulterar, ignorar, reinterpretar e criar leis e entendimentos que atendam tão somente a interesses que nada tem a ver com a nação, com a república e muito menos com a democracia. O desespero do sistema quanto ao voto auditável com contagem pública de votos, protagonizado pelo ministro Luis Roberto Barroso em português, inglês, espanhol e francês, dá a dimensão do quanto é impossível não desconfiar que há algo errado nisso tudo.

A verdade está sendo editada enquanto ela acontece. E qualquer um que surja como obstáculo no meio do caminho será retirado. Será limitado, constantemente punido ou até mesmo banido das redes sociais. Vejam o que disse a assessora de imprensa da Casa Branca e foi repetido por uma jornalista de uma das agências de checagem ligada a um grande jornal, disseram a mesma coisa: quando uma pessoa é banida de uma rede, deveria ser banida de todas. Já não basta o assassinato de reputação das pessoas, agora estão promovendo o assassinato de personalidade virtual delas. As canetas nas mãos de senadores e ministros do judiciário são armas potentes para calar adversários, travestidas de autoridade.

Eu não me incomodo de ser chamado de bolsonarista se é com essa simplificação toda que os opositores entendem as coisas que eu defendo. Mas mesmo que ele se reeleja, com voto auditável e contado publicamente, em 2026 a história será outra, sem a presença dele na eleição e por conseguinte no governo. E o Brasil vai continuar, e para continuar bem é imprescindível que o país seja trazido à normalidade jurídica, ao equilíbrio das instituições de poder, coisas que só são obtidas quando as leis são devidamente cumpridas.

No momento eles estão em vantagem, fechados contra nós.

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