Quanto vale um vice que nas últimas eleições teve ridículos 4,76% dos votos, ficando em quarto lugar com apenas um terço da votação do terceiro colocado?
Comecemos pela verdade da coisa. Não foi Alckmin que saiu do PSDB. Foi o PSDB que deixou Alckmin. E ele não foi abandonado pelo partido para chegar à decisão de pedir sua desfiliação. Alckmin foi esquecido no primeiro momento. Ignorado quando pensou que ainda teria algo a dizer, só que ninguém no ninho tucano estava interessado em ouvir. Essa tática é comum nos relacionamentos. Um não quer mais manter a relação, mas não tem coragem de acabar, aí vai forçando o parceiro a ficar insatisfeito e tomar ele próprio a responsabilidade de terminar. | ||
Quanto vale um vice que nas últimas eleições teve 4,76% dos votos, ficando em quarto lugar sendo que o terceiro, Ciro Gomes, que teve 12,47%, quase 3 vezes mais do que ele, Geraldo Alckmin. Mas é ainda pior. A soma do resultado dele com os concorrentes que ficaram abaixo (foram 9 abaixo dele) não atinge a votação que Ciro Gomes teve ficando em terceiro. Uma última questão importante é que Alckmin tinha os votos do PSDB quando concorria, um partido organizado e que agora vai trabalhar para João Doria. O partido mais provável é o PSD de Kassab, o que seria passar a prestar vassalagem a quem já foi seu vassalo. | ||
Mas então porque Lula quer Alckmin, um candidato a vice que não traz consigo um dote sequer? Talvez pelo mesmo motivo que já se cogitou o nome de Romeu Zema como vice de Sérgio Moro. E vejamos mais à frente quem será escolhido por João Doria. | ||
O PT quer governar São Paulo e quer fazer muitos senadores. As únicas chances mais razoáveis para Geraldo Alkmin seriam: tentar o governo do estado, teimosamente apostando em algum possível saudosismo do eleitorado versus os nomes que estarão concorrendo em 2022, ou, a melhor chance na minha opinião, uma vaga no senado federal. Portanto, tê-lo como vice tira suas duas reais oportunidades de ser competitivo nas posições que o PT almeja tanto, o Palácio dos Bandeirantes e a cadeira do Senado. Aí você pode perguntar: isso não atrapalharia a campanha de Lula? E eu respondo o que penso que enxergo nisso tudo: Lula não quer ganhar a eleição. Ele quer derrotar Jair Bolsonaro, e se juntaria em qualquer momento a qualquer um que tenha possibilidade de tirar Bolsonaro do governo, até Sérgio Moro, se não escancaradamente, mas trabalhará a favor dele se tiver chance de ganhar. | ||
Lula e Alckmin é a chapa pura sanguinária que revela a irmandade estabelecida pelos velhos representantes do PSDB como FHC, Serra, que até há pouco tempo comandavam o partido com mão de ferro, dando as diretrizes do partido no Brasil inteiro, seguidas fielmente por seus correligionários. E, então, vemos FHC fazendo campanha para Lula ao tecer elogios e dizer que votaria nele em um segundo turno. | ||
A hipótese Moro com Romeu Zema de vice, na minha opinião, tem a ver com o PSD, e mais uma vez Kassab. O candidato do PSD ao governo de Minas Gerais é Alexandre Kalil, e vai para cima mesmo sabendo que a chance é baixa e bastante desaprovado pela população de Belo Horizonte pelo seu jeito tiranete de ser e sua atuação autoritária durante a pandemia. Só que Romeu Zema tem boa aprovação da população em geral e dificilmente perderia a reeleição. A menos que cedesse à tentação e saísse do governo para se candidatar a outro cargo, por exemplo, ser vice de alguém. Nesse caso as aspirações de Kalil e de Kassab poderiam ficar mais factíveis. Um nome para talvez embassar a vida de Kalil seria Márcio Lacerda, mas que também não é difícil de fazer um acordo para apoiar Kalil. Tem muito dinheiro para ser apostado em Alexandre Kalil, com forte apoio da construção civil e da imprensa. | ||
Mas deixa eu voltar ao tema principal. | ||
Se chapa pura Lula e Alckmin não revela força eleitoral, revela por outro lado como esses caras sempre andaram juntos. Certas ofensas, acusações, até humilhações, que esses diversos personagens se impuseram ao longo da vida não podem ser assimiladas apenas como "discurso eleitoral" ou "calor do momento" ou "pelo bem do Brasil". Não cola. Muitas foram feitas em momentos serenos, onde não havia disputa eleitoral acontecendo, e nas quais eles falavam mal de seus adversários espontaneamente. Esse tipo de perdão que gera união só reforça que nunca ouve desunião, então, de verdade, nem tem o que perdoar. E partem para uma nova cena, conciliadora como nunca antes foi tentada. | ||
O cenário atual continua me levando a crer que "nada do que foi será do jeito que já foi um dia", como disse Lulu Santos. E depois de tudo o que aconteceu no Brasil nos últimos 5 anos, não duvido de absolutamente mais nada, inclusive compartilho dos receios do General Heleno, que já manifestei anteriormente. Muita fumaça está sendo jogada na cena e isso está ficando fora de controle. Absurdos jurídicos ilegais e inconstitucionais sendo praticados a fim de criar jurisprudências referendadas pelo pleno do STF para serem usadas em benefício ou prejuízo de quem eles desejarem - e não me restrinjo apenas ao Supremo quando digo "eles". A turma do "eles" é muito maior e mais poderosa do que os onze "despachantes"fingem que são. | ||
Quem vai definir o comportamento dessa oposição é Jair Bolsonaro. É a posição dele nas pesquisas que vai forçar a estratégia dos outros. Penso que se houver chance de Bolsonaro se reeleger já no primeiro turno a esquerda e o establishment vão abrir mão das demais candidaturas de fachada e se unir em torno de apenas um candidato de cada espectro para tentar chegar ao segundo turno. Por outro lado, se Bolsonaro não apresentar essa envergadura toda, pulverizar continuará sendo a melhor opção. No fim das contas, porém, seja lá quem for para o segundo turno, se for contra Bolsonaro, receberá o apoio do outro lado. Entretanto, se por acaso ficar entre eles, veremos nascer o novo teatro das tesouras, financiados pela nossa incapacidade de saber votar. A não ser que se aponte outro risco disso acontecer por meios duvidosos. Não gostei nada de ver o General Azevedo assumindo o controle interno do TSE sabendo que ele foi substituído por perder a confiança do presidente e também porque é Alexandre de Moraes que vai assumir a comando das eleições. | ||
Existe, porém, outros dois poréns, e são exatamente eles que não deixam minha cabeça quieta como eu gostaria. Atendem pelas siglas STF e TSE. Se essas instituições forem usadas como ferramentas eleitorais, tendo como base para dizer isso todos os atropelos das leis e da Constituição Federal já praticados até então, em nome de uma pseudo-pacificação do país, corremos o risco de ver um segundo turno com dois candidatos que, a princípio, estão entrando nessa eleição como azarões, mas que com uma mãozinha do "destino" podem se ver candidatos de verdade. | ||
Não creia nas notícias. Não creia nem em mim. Posso estar ficando maluco e expressando apenas devaneios. Mas espero que minha opinião sirva pelo menos para que você forme a sua própria opinião, mesmo que no final te leve à conclusão que sou maluco mesmo. | ||
Se veremos essa chapa puro sangue realmente se concretizar, em breve saberemos. Mas juntos ou separados, esse puro sangue sempre será de sangue ruim, sangue que roubou os pagadores de impostos, sustentou a miséria do povo, que roubou e desviou dinheiro para continuar enganando os eleitores e enriquecer uma casta de dirigentes ordinários que não teriam como construir as fortunas que construíram às custas do dinheiro estorquido dos contribuintes. | ||
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