Ao contrário da "Quadrilha" de Carlos Drummond de Andrade, que é uma série de amores não correspondidos, a minha, e que me perdoe Drummond pelo atrevimento, é uma história de ódios correspondidos.
Ao contrário da "Quadrilha" de Carlos Drummond de Andrade, que é uma série de amores não correspondidos, a minha, e que me perdoe Drummond pelo atrevimento, é uma história de ódios correspondidos. | ||
E foi isso que nos trouxe até o momento que vivemos. Ódio, gerado e alimentado pela ganância, pelo poder, pela falta de escrúpulos, ética, moral, vergonha na cara, e, principalmente, pela ruptura total com o estado de direito e com a Constituição Federal. | ||
Um sistema baseado em ódio, trapaça, roubo, corrupção, proteção mútua. E, por diversos motivos, um povo inerte, entorpecido pelo assistencialismo, ou pela ascensão social, ou pelo acúmulo de capital, ou pelo acúmulo patrimonial, ou pelo dinheiro do BNDES. | ||
O compêndio de crimes e desrespeitos às leis produzido por essa quadrilha perpassa todos os artigos da Constituição Federal, sendo enquadrados tanto nas leis civis quanto penais. Você tem ideia do que é isso? | ||
São zilhões de maracutaias em todas as esferas por onde circula dinheiro público, dinheiro do contribuinte. Saúde, educação, transportes, infraestrutura, cultura, turismo, trabalho, marinha, casa civil, portos, aeroportos, tudo, tudo, tudo, pode pensar aí, vai conseguir lembrar de casos de corrupção acontecendo em todas as áreas de governo, fosse ele federal, estadual ou municipal. | ||
Vivemos a era do comodismo de prateleira, cada um materializando seu ideal possível de felicidade em troca de garantir no poder quem lhes garante tais benefícios, nem que para isso a propina fizesse parte do pacote de sucesso. Mas estamos acordando. Mais devagar do que deveríamos, mas acordando. | ||
Não somos nós, conservadores, de direita que temos ódio. Apenas nos cansamos do ódio deles. | ||
Cansamos do ódio alimentado através do estímulo a conflitos raciais, sexuais, culturais, religiosos, trabalhistas, familiares, jogando uns contra os outros e, feito isso, criando novos conflitos e estimulando a subdivisão de cada espectro até a ruptura. Apenas cansamos. Passamos a responder. E a nossa voz começa a ganhar volume, e os decibéis estão incomodando o suficiente para passarem por cima da Constituição Federal para nos calar. | ||
Não há poesia na minha quadrilha, concordo. Diferente da quadrilha de Drummond, a minha quadrilha de verdade, daquelas que têm bandido e mocinho, na qual vale matar ex-prefeito, prender jornalista sem crime, prender deputado federal sem crime, inventar, distorcer e reinterpretar leis e jurisprudências, interferir nos outros poderes através de artifícios jurídicos que só funcionam porque é tarefa da própria quadrilha dar ar de legalidade para que funcionem, e agora, calar as pessoas. | ||
A única, correta e pacífica resistência, porém eficaz, é o pleno exercício da cidadania. Para isso será preciso uma união que ultrapasse a paixão e a defesa de qualquer político, pois se trata da defesa da cidadania de cada um, algo que ninguém pode exercer por ninguém, e pela defesa do nosso próprio país, políticos passam, nós ficamos. | ||
Chegará o momento da virada, do fim da verdadeira pandemia, a da falta de caráter que assola os poderes da república. E quando isso acontecer, eles hão de lembrar de Drummond, como eu lembrei hoje. Mas não lembrarão da "Quadrilha". Eles recitarão um poema mais adequado: | ||
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Era o povo brasileiro. |