No TSE eu confio. Não confio é em quem manda nele.
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No TSE eu confio. Não confio é em quem manda nele.

Quem decide afinal o que é fake news? Quem decide o que é verdade ou mentira? As agências de checagem, que são umbilicalmente ligadas à imprensa e às empresas de pesquisa eleitoral?

HS Naddeo
9 min
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O TSE tem sido motivo de diversas teorias de conspiração, tanto de fora para dentro, quanto de dentro para fora. Ora a instituição é suspeita de ilegalidades na administração das eleições, ora é ela quem acusa e persegue quem ousa levantar dúvidas sobre a idoneidade dos processos por ela administrados. Entretanto, dúvidas não são levantadas contra edifícios ou objetos inanimados, como são as máquinas de registrar e totalizar votos. Sistemas computacionais dependem de ser programados, e, quando programados, farão o que suas programações dizem para fazer. Já dizia um amigo meu que participou da implantação da informatização da antiga Atlântica Boavista (Bradesco para quem não sabe): computador é igual a liquidificador; se colocar leite, banana e açúcar, o resultado só pode ser vitamina de banana, jamais vitamina de abacate. E por mais avançados tecnologicamente que sejam, sistemas computacionais serão assim, a menos que se introduza a Inteligência Artificial no processo, ou, quem sabe, a interferência humana.

Teorias da conspiração existem por um único motivo: conspirações existem. Aqui mesmo no Brasil já vimos muitas, como exemplos, o PT derrubando Collor e Dilma. Opa! Você não sabia que o PT foi um dos articuladores da derrubada de Dilma? Pense o seguinte. Dilma produziu uma enorme desgraça em seus primeiros 4 anos de governo, e assim que reeleita tratou de aprofundar, começando por trair tudo o que prometera na campanha, trair as diretrizes do PT, se afastar do comando do partido. Bastou então 1 ano e 8 meses de reeleita para produzir 14 milhões de desempregados, que não eram debitados só à pessoa dela, mas ao PT.

Mas, o maior motivo de todos foi sua incompetência em travar, abafar e interferir na Lava Jato. Era preciso gente mais articulada, audaciosa e que tivesse mais apoio no meio jurídico e político, coisa que Dilma não tinha. Mesmo tendo indicado ministros para o STF, não tinha capacidade de articulação com eles. De fato ninguém levava Dilma a sério. Nem ela mesma. Tirá-la da presidência e colocar Michel Temer, hábil negociador e articulador tanto na política quando no judiciário, era absolutamente necessário para a sobrevivência do próprio PT – que na frente das câmeras vendia a propaganda do golpe e ganhava audiência, e longe delas financiava a derrocada da “gerentona de Lula”.

O tema, porém, não é Dilma, mas a prática do golpe e as teorias de conspiração, pois, como disse acima, conspirações realmente existem, e golpes também.

Que existe um golpe em andamento nesse período que precede o momento da escolha de quem mandará no país pelos próximos 4 anos – estou fazendo malabarismo com as palavras para tentar escapar aos algorítimos que hoje em dia estão muito parecidos com as “sentinelas de Matrix, pra quem assistiu o filme – existe. Mas qual é o golpe afinal? Eis a questão; e é para isso que servem as teorias de conspiração.

No TSE, Fachin já acusou a Rússia de ser um possível invasor das máquinas que ele, Barroso e Moraes juram por Deus que são invioláveis. Falou isso exatamente quando Bolsonaro estava na Rússia. Portanto, o alvo da fala não eram os russos, mas Bolsonaro. Em outra frente, Barroso acusou as forças armadas de estarem atentando contra o sistema eleitoral. Ambos, Barroso e Fachin, fizeram tais comentários sem a menor preocupação em produzir o mínimo de provas sobre o que disseram. Falaram ao vento. E o tempo todo se defendem de ataques que nem são desferidos. Antecipam-se, criam narrativas preventivas contra acusações que nem sabem se vão receber. E quando se defendem de alguma acusação real, respondem com ameaças e não com contra-argumentos.

No dia de ontem, 31/5/2022, em evento promovido pelo TSE para representantes de outros países (falou-se em 78 países ali representados) Fachin fez um alerta para que a comunidade internacional esteja alerta às acusações levianas contra o sistema eleitoral brasileiro:

“Convido o corpo diplomático sediado em Brasília a buscar informações sérias e verdadeiras sobre a tecnologia eleitoral brasileira, não somente aqui no TSE, mas junto a especialistas nacionais e internacionais, de modo a contribuir para que a comunidade internacional esteja alerta contra acusações levianas”, afirmou Fachin.

Não satisfeito, disse ainda que “o Brasil não consente mais com “aventuras autoritárias” e que “não se pode transigir com ameaças à democracia”. Mas quem está fazendo isso se não o próprio TSE? Quem vem suprimindo as liberdades individuais, especialmente a liberdade de expressão e o direito democrático das pessoas de questionarem o que quiserem, inclusive o sistema eleitoral, porque não?

Qual instituição desmonetizou sites, blogs e canais do youtube de brasileiros que apenas exerceram seu direito de questionar? De onde vieram as ordens que prenderam Daniel Silveira, Oswaldo Eustáquio, Wellington Macedo, Roberto Jefferson, todos sem crime, todos através de inquéritos inconstitucionais e ilegais, tudo feito sob sigilo de justiça, sem que a maioria dos réus saiba do que são acusados, mesmo passados mais de 2 anos do início dessas ações.

A cereja do bolo do evento com a diplomacia estrangeira ficou por conta da fala de Alexandre de Moraes. Disse o excrementíssimo que candidato que propagar fake news terá o registro cassado:

“Notícias fraudulentas divulgadas por redes sociais que influenciem o eleitor acarretarão a cassação do registro daquele que a veiculou”, disse. “A Justiça Eleitoral está preparada para combater as milícias digitais.”

Quem decide afinal o que é fake news? Quem decide o que é verdade ou mentira? As agências de checagem, que são umbilicalmente ligadas à imprensa e às empresas de pesquisa eleitoral? O TSE e o STF é que decidirão o que é verdade ou mentira? Alexandre de Moraes é que será o senhor da verdade e da mentira?

Tais falas dos ministros do TSE/STF não são falas institucionais. São ameaças. Mais do que ameaças, são informações preditivas sobre o que vai acontecer e absolutamente direcionadas contra quem deve acontecer. O recado foi direto ao presidente Bolsonaro e a todos que o apoiam/defendem nas redes sociais, correndo o risco, inclusive, de que o presidente seja punido por falas de terceiros, sem sua anuência ou autorização, e é bom que os internautas que se enquadram nessa categoria prestem muita atenção ao que postarão durante o período de campanha eleitoral. De duas uma: ou serão acusados de pertencer a alguma milícia digital criada pela falta e cabelos na cabeça de alguém, ou serão banidos das redes sociais se seus questionamentos e verdades incomodarem demais.

Como se dará o golpe, e ele vai acontecer, ainda é objeto de especulação. Mas, ao que tudo indica, os caminhos podem ser dois:

  • a) Os resultados das máquinas de contabilizar votos combinarem com o que dizem as pesquisas eleitorais. Com agências de checagem, agências que checam a checagem, agências de checagem que checam pesquisas eleitorais e conferem a elas um “selo de confiabilidade”, tudo em parceria com o TSE, como contestar o resultado?
  • b) A criminalização do resultado que contrarie o que disseram as pesquisas, ou seja, a vitória de Bolsonaro. E são muitas frentes para isso, começando lá pelos russos, passando pelos militares, uso de redes sociais, fake news, Telegram como vilão da vez, TSE e ministros sob ameaça… E eu ficaria aqui mais duas horas elencando possibilidades.

Nesta teoria de conspiração, curiosamente, o relevante não é a conspiração, mas a teoria que será, de fato, aplicada ao golpe. O permanente e persistente posicionamento do TSE em dar ao mundo satisfações antecipadas sobre fatos que ninguém pode garantir que irão acontecer é que chamam a atenção. É como se uma pessoa que pretende matar alguém fosse à delegacia antes de cometer o crime para garantir que é um árduo defensor da vida e contra qualquer tipo de homicídio.

Várias foram as vezes que externei um pensamento que não é apenas meu, mas do consciente coletivo, mesmo que muita gente não o tenha elaborado no detalhe: não é da instituição TSE que desconfiamos, assim como não é da máquina de votar e somar votos e nem do sistema eleitoral. Nós não confiamos é nas pessoas que controlam tudo isso. Não confiamos nos ministros do STF, STJ e advogados que compõem o comando do TSE, porque não confiamos neles como ministros no STF e no STJ e como advogados indicados pela OAB e/ou escolhidos por esses mesmos ministros.

O que parece mais do que certo é que não vai demorar muito para sermos confrontados com algum absurdo muito grande nesse processo eleitoral, que poderá se dar em pequenas parcelas que pareçam desconexas umas das outras, ou até em intervenções para as quais teremos que estar preparados para dizer algo além de “não aceitamos”, ou “até quando”, retóricas recorrentes nos últimos 5 anos, enquanto tais absurdos continuam se sucedendo sem que ninguém, de fato, faça nada além de reclamar em redes sociais.

Somos um país com as instituições derretendo, com as liberdades e direitos sendo suprimidos e até severamente punidos quando exercidos, mas que não vai às ruas, não promove nenhum boicote a impostos, não faz greve, não se manifesta espontaneamente nas ruas, e mal contesta as punições que recebe, uma sociedade resignada ao conforto do sofá de sua casa que se preocupa mais com o like dado à sua postagem reclamando de alguma coisa do que com o efeito que essa reclamação pode fazer nas pessoas a ponto de engajá-las a algo mais do que curtir e compartilhar.

O golpe vem aí, isso é, para mim, mais do que certo. Podemos não saber o formato, o momento, mas sabemos de onde vem e quem vai protagonizá-lo. E se os ministros do TSE estão preocupados em alertar o mundo sobre possíveis acusações contra o sistema que eles administram, isso deve servir mais de alerta para nós do que para a diplomacia estrangeira. É aqui que o alerta tem soar, e cabe a nós fazer com que todo mundo ouça e saiba do que se trata.


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