O cadáver fede. A Folha que disse. Eu só concordo.

Penso que o instinto de sobrevivência é a característica mais marcante das espécies. Ninguém quer morrer, nem o microscópico vírus até a gigantesca baleia, passando também pela vida vegetal. A história do nosso planeta registra que só sobreviveram as espécies que tiveram capacidade de se adaptar ao ambiente. E assim é e assim será.

No jogo poder, dos negócios, não é nada diferente. E por muitas vezes mais selvagens. Sobrevivem os mais fortes, os que reagem e se adaptam melhor às transformações à sua volta. A Odebrecht é um exemplo. Para sobreviver ela topou assumir os crimes, se encaixar nas regras e deletar tudo o que deixaram. A gente sabe que teriam mais para falar, mas falaram muito. O que determinou isso foi ter consciência de quem eram os aliados e inimigos.

Quando a Folha de São Paulo pública um editorial  falando de Lula com o título "O cadáver fede" é porque nem eles conseguem mais impedir que o cheiro se espalhe. Fica mais conveniente falar primeiro, mesmo que o cheiro saia de dentro da própria redação. Empresário não tem medo de quem vai perder. Só tem medo de que vai ganhar.

Não acredito, contudo, que a Folha esteja dando uma guinada à direita. Só esta dando um jeito de sair fora da guinada radical à esquerda que o Lula está declarando aos quatro ventos. A Folha entendeu, e quem não entender rapidinho vai perder o trem da história. Basta entender a frase: "regular os meios de comunicação e a internet".  Isso transforma a imprensa livre em assessoria de imprensa, que obrigatoriamente trabalha para destacar seu cliente. E nada contrário a isso.

Lula não consegue reunir 100 pessoas nem quando vai falar para público restrito. Nos aeroportos por onde passa, meia dúzia de puxa sacos, uma dúzia de pães com mortadela e um contingente quase igual uma maioria de defensores do presidente Bolsonaro e gente que apenas não quer perder a chance de chamá-lo de ladrão ao vivo e a cores. Muita gente gostaria de fazer isso.

Os aliados de Lula estão encrencados no Nordeste. Ninguém ali tem reeleição ou eleição garantida para algum cargo. Também não está fácil para eles fazer seus sucessores. Quem não pode tentar reeleição provavelmente tentará senado, mesmo sendo uma única vaga. Mas garantia quase zero de vencer. E penso que já provado que estar na eleição ao lado de Lula, ainda que por falta de opção, estará dando um abraço em uma âncora. Até agora ele sabia o que é ser rejeitado pelos inimigos. Vai descobrir o que é ser enjeitado pelos amigos.

Já vi alguns analistas políticos afirmando que Lula não será candidato e o Editorial da Folha pode ser, quem sabe, um balão de ensaio para predizer um predizer esse fato e abrir espaço para apoiar outro candidato de esquerda que possa fazer uma papel menos feio diante de Bolsonaro, se o STF deixar ele chegar ao fim do mandato e elegível para 2022. Pois, se a imprensa se dá ao luxo de vir a deixar Lula só nas páginas policiais novamente, o STF não pode fazer o mesmo, sob pena de vir a frequentar as mesmas páginas, e que aliás deveriam ser ao invés das páginas de política, eles são proibidos por lei de ter atividade político-partidária.

Se o STF pudesse largar Lula ele estaria preso até hoje, e o país muito mais pacificado. Se a relação do STF com Lula fosse um filme o nome poderia ser "Onze homens e um sem dedo". Segredos tornam os confidentes cúmplices de seus conteúdos. Especialmente se ambos protagonizam o mesmo segredo. Serão obrigatoriamente cúmplices.

Lula sabe que atrapalha a esquerda, a esquerda sabe que Lula atrapalha. Lula sabe que não precisa temer o STF, e o STF sabe que precisa temer Lula.

A esquerda tem candidato demais oferecendo de menos. A direita só tem um candidato de quem se espera demais. A terceira via, seja ela qual for, vai desembocar no mar. O mais provável é que a esquerda se reúna em torno de algum nome que não dela Lula, e que os adeptos da terceira via também se juntem a ele. E realmente não fazendo a menor diferença de qual será o nome para enfrentar Jair Bolsonaro, se o STF deixar, ele não será um líder. Não existem líderes na esquerda, só vigaristas e oportunistas. E Lula já não serve nem para isso.

Mas, precisamos esperar o 7 de setembro passar e com nossa  presença nas ruas a esperança de que muita coisa vá começar a mudar rapidamente no Brasil, e a mudar o Brasil, nem que a única motivação seja o instinto de sobrevivência. Os mais fortes prevalecem sobre os mais fracos, e não estou falando de porrada ou violência. Estou falando em disposição e convicção, a certeza de estar defendendo o que a maioria da sociedade quer ser como país e como nação.

Não enterrem o cadáver. Cremem. Já fedeu demais.

Se alguém trai você uma vez, a culpa é dele. Se trai duas vezes, a culpa é sua.
Eleanor Roosevelt

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